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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Crentes e Não-Crentes: Unidos na Felicidade e na Paz


A dificuldade em se definir, numa fórmula objetiva, o que é a felicidade, parece, muito evidente; provar que a felicidade se pode obter pela via religiosa é, epistemologicamente, muito complexo, o que não invalida uma abordagem séria, responsável e respeitosa, justamente, com o objetivo de, no mínimo, incentivar todos os interessados, crentes e não-crentes, a percorrer este longo caminho, tendo por veículo privilegiado a religião e, quem sabe, se num determinado ponto do percurso, surjam indicações, e/ou sinais, que apontem para uma situação que se possa equiparar a um estado de espírito, que seja definível num conceito de felicidade.
O instrumento que, quantitativamente, indique o valor da felicidade, por enquanto, não é conhecido, mesmo que fosse possível enumerar os momentos, mais ou menos longos, intensos e profundos dessa felicidade.
Em todo o caso e para facilidade de compreensão e, entre inúmeras opiniões, aceite-se, como ponto de partida, que ser feliz consiste: «Ter sensações de bem-estar e prazer físico; poder manifestar alegria; ter tranquilidade de espírito; sentir emoções agradáveis; desfrutar de coisas boas na vida; sentir-se valorizado, aceito e amado; ter a sensação de utilidade; conseguir realizações na vida; conversar agradavelmente com parentes e amigos, entre outras situações.” (RESENDE, 2000:176-77).
Verifica-se que um dos fatores que intervém na felicidade é, justamente, a tranquilidade de espírito ou, se se preferir, de consciência que, de entre outros processos, se pode obter pela religião, com toda a liturgia, rituais e crenças que a envolvem, o que não significa que o não-crente, o religioso-não-praticante, não tenham, em dados períodos das suas vidas, momentos de tranquilidade de espírito, de felicidade, conseguidos por práticas adequadas, que conduzem àquela situação de calma espiritual, de consciência serena e boa condição física.
A religião é, naturalmente, vivenciada pelo homem e pela sociedade, através de processos e reações diferentes, mas que têm em comum uma relação com Algo Transcendente.
Por muito santificado e/ou divinizado que se pretenda ver um outro homem, nosso semelhante, e existindo concreta e fisicamente a relação que com ele se estabelece, esta não configura, necessariamente, uma dimensão religiosa, apesar de nessa relação se colocar crença, respeito e uma ligação mística.
A elevação e a fé, que se colocam na relação transcendente do espírito com Deus e com o mundo inefável, é que podem assumir a dimensão única da religiosidade dessa relação porque: «De facto, o espírito humano penetra tudo no homem, unifica e dá a dimensão humana a tudo e portanto tudo no homem deve ser orientado segundo os valores mais altos do espírito.» (SILVA, 1966:192).
As sociedades atuais também se organizam com objetivos religiosos, tal como na perspetiva política, económica, social, cívica e outras. A sociedade religiosa existe em todos os países e, enquanto tal, desenvolve as atividades que, espiritualmente, lhe são próprias e que, também por esta via, pretende obter a felicidade e a paz em determinadas épocas da sua história, quando a maioria dos seus elementos manifesta os sintomas antes referidos, dos quais, e para esta reflexão, importa destacar a tranquilidade do espírito. Acredita-se que um espírito/consciência tranquilo tem mais clarividência para analisar e decidir acerca de situações difíceis, no homem e na sociedade.
Delineados os mecanismos para melhorar e/ou manter a felicidade e a paz humanas, através do espírito religioso e do bem-comum ético-religioso, abre-se a possibilidade de, com competência, desenvolver estratégias que conduzam o espírito/consciência a uma sensação real, sentida e vivida de felicidade e de paz.
Nesta perspectiva é possível tentar ser-se competente na busca da felicidade e da paz, podendo-se começar pela satisfação de necessidades de ordem material até se chegar às de natureza axiológica, consubstanciadas nos valores da estima, da solidariedade, da lealdade, do amor, da oração, porque: «Satisfazer as necessidades é adquirir condições para ser feliz (…) através do desenvolvimento das competências essenciais – intelectuais, espiritual, emocional e física (…). Mais objectivamente: se pode ficar espiritualmente mais optimista, mais de bem com a vida;» (RESENDE, 2000:178).

Bibliografia

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark.
SILVA, António da, S.J. (1966). Filosofia Social, Évora: Instituto de Estudos Superiores de Évora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 
(Presidente da Direção da ARPCA, em Exercício)