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domingo, 22 de dezembro de 2013

Natal: Confiança no Futuro


Ano após ano, Natal após Natal, a denominada “Festa da Família” repete-se ao longo dos tempos: com rituais idênticos; votos de esperança em melhores dias; alegrias que se repetem; nostalgias que se agudizam; ofertas que se trocam; brindes que se renovam; tudo isto e muito mais para que o Natal seja, de facto, a festa da união, da paz, da concórdia.
Abordar o Natal numa perspectiva positiva, nos tempos que correm (2013) não é tarefa fácil, considerando as dificuldades que atingem todas as pessoas em geral mas, particularmente, as mais desfavorecidas: económica, financeira e etariamente, sem ignorar, obviamente, aquelas que sofrem dos diversos tipos de exclusão: social, laboral, educacional, habitacional, entre outras, porque, ao contrário do que estabelece a Lei Fundamental Portuguesa: «1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei» (C.R.P., 2004:Artº 13º nº 1), na verdade tudo indica que, realmente, não temos a mesma dignidade enquanto pessoas humanas, sujeitas a deveres e a direitos.
O Natal, apesar da crise em que estamos mergulhados, pode, e deve, ser assumido como uma data referencial, agora mais do que nunca, para pensarmos, com muita esperança, num futuro bem melhor para todas as pessoas, independentemente de estatutos, condição sócio-profissional, política, cultural, religiosa ou de qualquer outra natureza, porque o direito a uma melhor qualidade de vida, a um fim de vida tranquilo, são os mínimos exigíveis para o reconhecimento e vivência da dignidade humana.
Neste ano, tal como nos anteriores, desejo aproveitar a quadra natalícia para apelar à concórdia, à tolerância, ao perdão, obviamente sem que isso implique: “apagarmos” dos nossos “corações” as ofensas de que temos sido vítimas; as desconsiderações de que fomos alvo; a rejeição a que alguém nos tenha votado; os desgostos que sofremos, a partir de atitudes de pessoas a quem nós tanto queríamos.
Na verdade, enquanto estivermos lúcidos, é impossível “branquear” o passado, mas é desejável que queiramos aprender com os erros, com as injustiças que cometemos contra aquelas pessoas que por nós tudo dão, generosamente e, sabermos com humildade, pelo menos, pedir desculpa e tudo fazermos para nos reconciliarmos.
E se por um lado, o ano que agora está prestes a terminar (2013), em Portugal, tem sido marcado por vários acontecimentos importantes, com maior ou menor influência na vida das/os portuguesas/es, sabendo-se que as medidas de austeridade, que atingiram um nível perigosamente gravoso, raramente sentido, em épocas anteriores, têm vindo a levar pessoas, famílias, empresas e instituições diversas, incluindo as de solidariedade social, à depauperização de rendimentos, de património, às falências;
Por outro lado, em contexto de grande crispação, de confrontos verbalmente violentos, em algumas localidades do país, decorreu o processo eleitoral para as autárquicas, no qual se destacou, pela negativa, a fusão injusta, inadequada e infundamentada de centenas de freguesias, cujas populações ficaram à mercê de eleitos de outras localidades, e com isso perderam a sua autonomia, a sua dignidade cívica e a própria auto-estima.
Em todo o caso, é tempo de começarmos a viver o futuro, construirmos o projeto que nos conduza ao sucesso coletivo, assente em princípios, valores e bons sentimentos, que sejam compagináveis com uma nova “Ordem Social e Económica”, para que todos nos sintamos verdadeiramente iguais, atentas as diferenças que, inegavelmente, carateriza cada pessoa em particular.
Para iniciarmos um novo ano, com perspectivas de vida mais positivas, é necessário assumir que: «A vida é alegria e felicidade em ajudar a construir um mundo melhor e mais participativo, com equilíbrio e amor. Por isso a ordem é reprogramar o mundo interior para usufruir da arte de viver e para a reprogramação uma das melhores ferramentas encontra-se nas técnicas parapsicológicas». (FRANCESCHINI, 1996:67).
Na verdade, a vida passa muito rapidamente. É essencial termos a consciência de que não vale a pena cogitarmos, desenvolver e aplicar processos maquiavélicos do tipo “caça-às-bruxas”, apenas para prejudicarmos, humilharmos e “pisarmos” os nossos semelhantes. O ódio, a perseguição e a vingança conforme se semeiam, assim se colhem e não são próprios de pessoas com boa formação e sentimentos nobres.
O Natal, enquanto tempo de reconciliação, de coesão da família, também dos amigos, deve ser aproveitado no seu sentido mais altruísta, deixando de lado as preocupações consumistas, as manifestações de poderio económico, de opulência que, por vezes, até ofendem quem mais precisa, quem nunca teve sorte na vida, apesar de a procurarem. Nem toda a gente é ociosa, aliás, a maioria das pessoas quer uma vida digna pelo trabalho.
É claro que não se defende um Natal miserabilista, um Natal de lamúria, bem pelo contrário, deseja-se um Natal de prosperidade, de intensa alegria, de fundadas esperanças no futuro. A harmonia entre prosperidade e otimismo é fundamental para podermos acreditar em nós próprios, nas nossas capacidades, nos resultados positivos que os nossos projetos nos podem proporcionar.
Neste Natal, o núcleo central para o nosso sucesso no futuro é melhorarmos, no que ainda for possível, a nossa auto-estima, sem o que tudo se tornará mais difícil, na medida em que não seremos capazes de implementar ideias, empreender, arriscar. Acreditarmos na nossa auto-suficiência e auto-respeito, constitui uma atitude para o reforço destes dois pilares da auto-estima.
A quadra natalícia que já se vive intensamente deverá, portanto, ter como foco muito importante o desenvolvimento, o reforço e consolidação da auto-estima considerando esta como sendo: «a disposição da pessoa para se vivenciar com alguém competente para enfrentar os desafios da vida e merecedor da felicidade.» (NATHANIEL BRANDEN, in CLARET, s.d.:20).
O futuro que neste Natal poderemos imaginar passa sempre pela felicidade, qualquer que seja a noção que dela se tiver: seja com bases materiais; seja fundamentada na vivência espiritual; seja considerando estas duas componentes, o que, salvo melhor opinião, se afigura a mais apropriada e caraterística da pessoa verdadeiramente humana.
Perspectivar o futuro, com o realismo que a situação social atual nos apresenta, e com todas as nossas experiências vividas: umas, boas; outras, menos boas, parece ser o mais adequado, na medida em que se deve aprofundar o que vivemos de melhor e rejeitar o que foi menos bom, aprendendo, contudo, com os erros cometidos.
Hoje, já próximo do final do ano de 2013, talvez um dos últimos anos mais dramáticos para os portugueses, devido a um injusto conjunto de medidas fiscais, taxas, sobretaxas, cortes salariais e nas pensões e agravamento das condições de vida, com cerca de vinte e por cento da população a passar fome, poderia ter-se razões para não se acreditar no futuro
Uma tal atitude não resolveria nada, pelo contrário, conduziria ao abandono de sonhos, de projetos, de possíveis sucessos, à depressão e, eventualmente, ao suicídio, por isso, vamos lutar contra todas as adversidades que nos estão a colocar, e que se reconhece não serem inevitabilidades, porque outros caminhos seriam possíveis para sairmos da alegada crise, alegada porque não é sentida da mesma maneira por todas as pessoas.
Importa, neste Natal, refletir em três estratos da população, cada vez mais vulneráveis: jovens desempregados que têm de abandonar o país e a família; adultos, ainda em idade produtiva, sem emprego e sem perspetivas de voltarem ao mercado de trabalho e idosos que estão a ser expropriados dos seus mais elementares direitos, adquiridos durante uma longa existência de trabalho e de contributos, mas que agora, no final das suas vidas, sentem uma redução drástica nos seus rendimentos, logo na qualidade de vida a que tinham direito, com toda a dignidade humana.
Por isso, neste Natal, vamos acreditar que seremos capazes de construir uma sociedade e um futuro mais justos, mais prósperos e mais solidários. Não podemos ignorar que somos pessoas humanas e que, conforme começamos esta reflexão: «Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei» (C.R.P., 2004:Artº 13º nº 1), assim a desejamos concluir.

Bibliografia

CLARET, Martin, (s.d.). O Poder da Auto-Estima. São Paulo: Editora Martin Claret
FRANCESCHINI, Válter, (1996). Os Caminhos do Sucesso. 2ª Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Scortecci
ROMÃO, Cesar, (2000). Fábrica de Gente. Lições de vida e administração com capital humano. São Paulo: Mandarim.
VIANA, Marco Aurélio Ferreira, & VELASCO, Sérgio Duarte, (1998). Futuro: Prepara-se. Cenários e Tendências para um Mundo de Oportunidades. 3ª Edição. São Paulo: Editora Gente.

O Presidente da ARPCA, em Exercício,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

domingo, 8 de dezembro de 2013

Educação Sócio-Cultural como Qualidade de Vida


Aceitam-se todos os contributos que tenham por objetivo enriquecer um processo de educação e formação para os direitos humanos e cidadania, cuja finalidade suprema é erradicar a iniquidade e as distorções sócio-económicas que atualmente se verificam na humanidade.
Uma das vias, possível de contribuir para a luta contra tantas incongruências, algumas aberrações e toda uma panóplia de males, passa pela educação sócio-cultural, a iniciar-se em todas as escolas e também por um processo de formação ao longo da vida, incluindo o conceito de “aprender a aprender”.
Partir para um nova ordem mundial, baseada num novo paradigma, que urge desenvolver e consolidar: a Escola Cultural ou, mais abrangentemente, a Escola Pluri-intercultural, a influenciar cada pessoa, o mais cedo possível na vida de cada uma, porque a responsabilidade da escola inter-pluricultural é imensa.
Na verdade: «O paradigma da Escola Cultural é muito favorável à educação para os direitos humanos, quer pelas actividades educativas que promove e aconselha, quer pela sua estrutura pedagógica, quer pela filosofia personalista em que assenta. Com efeito, a Escola Cultural caracteriza-se: a) pela centração da educação na pessoa, que quer ver completamente respeitada na sua eminente dignidade; b) pela concepção cultural da educação, definindo a cultura como a obra do espírito criador e livre do Homem, acrescentada à pura Natureza; c) pela concepção pluridimensional e cultural da Escola; d) pelo funcionamento concreto da Escola, flexível e democrático, aberto à livre e responsável expansão de todos os aspectos estruturais da personalidade dos educandos.» (PATRÍCIO, 1999:98).
Quanto mais não seja, e como base de trabalho, pode-se concordar que a via para a paz, não no sentido de ausência de guerra, mas a paz como situação universal que proporciona à humanidade bem-estar geral, harmonia e felicidade, percorre o itinerário compreendido entre o respeito pelos direitos humanos e o exercício pleno da cidadania democrática, esta na perspectiva da participação ativa e profícua de cada um e de todos os cidadãos, na vida das respetivas comunidades.
A paz, também entendida como erradicação de todo e qualquer tipo de violência: física, psicológica, económica, religiosa, política, ética, cultural e sócio-profissional, entre muitas outras mais subtis, como a chantagem, os assédios, o medo e a superstição.
Impõe-se uma nova cultura que possibilite a implementação de paradigmas que fomentem as boas-práticas, desde o mais cedo possível e ao longo da vida de cada pessoa, que constituam como que um alimento essencial para a vida boa, digna, pacífica, produtiva e verdadeiramente humanista, porque: «O caminho para a paz passa por resoluções criativas do conflito, o que, geralmente, significa a transformação de algumas estruturas, e, através da substituição de culturas de violência por culturas de paz, deslegitima a violência. O uso da violência para punir o agressor não resolve os conflitos nem deslegitima a violência. Pelo contrário, provavelmente congela o conflito e legitima a violência. Por outras palavras, não só não é produtor da implementação dos direitos humanos, mas é mesmo contraproducente…» (GALTUNG, 1994:213).
O apelo à paz, à preservação da vida humana e ao estabelecimento de plataformas de diálogo, para a resolução dos conflitos, sucedem-se um pouco por todo o mundo, e a partir das mais altas instâncias dos poderes nacionais e organizações internacionais, invocando-se, reiteradamente, o respeito pelos Direitos Humanos e pela Cidadania.
Ignorar a riqueza e diversidade dos valores que sustentam toda uma cultura, na circunstância, a cultura dos deveres, direitos e valores humanos, aliada às múltiplas dimensões da pessoa humana, constitui uma atitude que não beneficia o diálogo nem a paz, nem a felicidade da humanidade, porque, em boa verdade, existem valores básicos que facilitam, substancialmente, a construção de uma sociedade efetivamente humana, e que para o ser plenamente, deverá considerar a pessoa como uma unidade indivisível na sua dignidade, mas também cultivar, até por boas-práticas, o seu lado mais inefável, profundo e único – a sua dimensão sobrenatural –, que pela via religiosa pode e deve cuidar.
O ser humano não se extingue com a morte física, na medida em que: «A pessoa humana alcança assim – pela via sobrenatural da Fé e da graça – um coroamento divino de sua vida espiritual. O horizonte e o âmbito das dimensões da pessoa se engrandecem, desse modo, até a infinitude do divino. Sem confundir-se com Deus e sempre essencialmente finita e contingente, a pessoa humana entra assim a participar da mesma vida de Deus: pela aceitação da revelação e a vida da graça nesta vida eterna, pela visão de Deus e a glória da vida imortal.» (DERISI, 1977:54).
O homem que utiliza bem, aqui no sentido da sua própria felicidade, este valor supremo que é a Fé, que se manifesta no seu espírito, estará mais seguro no que respeita ao seu destino último, a sua vida terá sempre um sentido. Os seus ideais e objetivos, certamente, adquirem uma natureza mais sobrenatural, sem descurar a sua posição no mundo material, para o qual tem de estar atento e protegido porque: «Um dos maiores perigos para a nossa vida e a fonte mais justificável de medo é a guerra. Contra esse perigo também o Estado deve tomar precauções…», não devendo ignorar que: «Na vida de qualquer grupo de homens existem divergências inevitavelmente legítimas, tanto quanto tentativas de burla e aqueles podem exigir como último recurso uma solução imparcial.» (MABBOTT, 1968:120-21).
É na união desta existência dicotómica – corpo e espírito – no homem que se pode rentabilizar, para o bem-comum, a ação humana, nomeadamente, através das respetivas organizações sócio-politicas, com destaque para o Estado, aqui assumido no governo legítimo e democrático.
A educação sócio-cultural, que se considera essencial e uma via segura na busca da paz e obtenção da felicidade da pessoa humana, é possível implementá-la, a partir da sociedade organizada e dos seus agentes socializadores, dos quais se enfatiza, nesta reflexão, além da Escola, a Igreja, através da religião que alimenta a Fé. Invoca-se a Fé, afinal, em muitas circunstâncias da vida.
Uma educação sócio-cultural integra nos seus curricula esta dimensão exclusiva do homem e, sem preconceitos nem discriminações, cabe às instituições responsáveis pelos sistemas de ensino e formação apoiar, no sentido do reconhecimento e legalização curricular, as religiões predominantes e secularmente interiorizadas e praticadas pelos respetivos crentes.
Na circunstância, o exemplo que a Fé Cristã vem dando ao mundo, pela assunção de compromissos sociais, poderá constituir-se como um excelente incentivo às demais e grandes religiões que, por quaisquer razões, ainda não conseguiram dar o seu pleno contributo para a paz.
Nesse sentido, o papel da Igreja, hoje, é insubstituível na construção da concórdia, na busca da felicidade e essencial para dar um destino à vida porque: «Nunca foi tão grande a chance da Igreja de participar, de trazer uma colaboração decisiva, e isto por uma razão bem precisa. Nunca se viu com tanta clareza que a solução desses problemas não depende apenas nem principalmente de factores técnicos, mas depende decisivamente de factores éticos e morais. (…) A Igreja anuncia a solidariedade na promoção como o único caminho para a própria sobrevivência da espécie.» (BIGO & ÁVILA, 1983:280).
Elevar os Direitos Humanos e Cidadania ao estatuto de disciplina académica, obrigatória em todas as Escolas de Ensino, Educação e Formação, em todos os cursos, com peso idêntico a outros conhecimentos, tidos por nucleares, é um imperativo que se reclama como um desígnio universal. Envolver o domínio Sócio-Cultural, em todas as suas vertentes, com inclusão das próprias Religiões, será uma estratégia a considerar que, seguramente, conduzirá à Paz enquanto preservação da Vida e Dignidade Humanas.
Uma política universal, sob a forma de uma Nova Ordem Internacional, para a vida e felicidade da espécie humana, não será uma utopia, dentro de algumas gerações, se os atuais responsáveis, em cada país, em cada comunidade, em cada família e em cada indivíduo humano, promoverem e incentivarem uma nova cultura dos valores, dos deveres, dos direitos mais sublimes e específicos da humanidade.
O mundo, com todas as suas riquezas, existe antes do homem, portanto, ninguém deveria arrogar-se o direito de que um determinado recurso lhe pertence, em exclusivo. A distribuição da riqueza deverá ser universal e os que agora se proclamam donos de bens naturais e se consideram ricos, deveriam iniciar o processo de partilha das riquezas que o Criador colocou no mundo, igualmente para todos, sem discriminação, desde logo a começar pelos próprios concidadãos, porque a geração que hoje está no poder, amanhã será substituída por outra e assim sucessivamente.
Todos os descendentes devem ter as mesmas possibilidades de viverem em paz, em abundância e conforto, numa sociedade mais humana e feliz, porque o que hoje, para muitos, poderá ser utopia, possivelmente, num futuro não muito longínquo, tornar-se-á uma realidade, porque é insustentável haver uns poucos, com tanto; e muitos outros, com tão pouco, então, antes que aconteça uma tragédia bem mais catastrófica do que a da Segunda Guerra Mundial, homens e mulheres de todo o mundo, entendam-se, conciliem-se e devolvam à humanidade o que Deus-Criador doou a todos por igual: paz, abundância, recursos, harmonia e felicidade.

Bibliografia

BIGO, Pierre, S.J., & ÁVILA, Fernando Bastos, S.J., (1983). Fé Cristã e Compromisso Social; Elementos para uma reflexão sobre a América Latina à luz da Doutrina Social da Igreja, 2. Edição revista e aumentada, São Paulo: Edições Paulinas.
DERISI, Octávio Nicolás, (1977). Valores Básicos para a Construção de uma Sociedade Realmente Humana, Trad. Alfredo Augusto Rabello Leite, São Paulo: Mundo Cultural.
GALTUNG, Johan, (1994). Direitos Humanos – Uma Nova Perspectiva. Tradução Margarida Fernandes. Lisboa, Instituto Piaget
MABBOTT, J.D., (1968). O Estado e o Cidadão, uma introdução à Filosofia Política, Trad. Jorge Natal da Costa, Rio de Janeiro: Zahar Editores.
PATRÍCIO, Manuel Ferreira, (1999). “Escola Cultural e Educação para os Direitos Humanos”, in Educação para os Direitos Humanos. Actas do Congresso. Ponte de Lima: Amnistia Internacional. 11 a 13 de Março de 1999, 97-101  

O Presidente da ARPCA, em Exercício,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


domingo, 1 de dezembro de 2013

O Homem: Existência e Mistério


A existência humana, num planeta que se integra num universo ilimitado, na sua componente espiritual, continua sendo uma incógnita, quer enquanto vida vivida, num espaço finito e num tempo determinado, quer depois da morte biológica e consequente desaparecimento do corpo.
O homem, aqui na sua abrangência relativa à humanidade, comportando igualmente e ao mesmo nível a mulher, continua sendo um mistério para si próprio, porque não tem, ainda, a capacidade de prever, controlar e resolver certas situações, designadamente no que se refere à sua constituição imaterial, inefável, quantitativa e qualitativamente indeterminada, embora tenha profundos conhecimentos no que respeita à sua própria constituição física.
A indefinição, um certo vazio científico, para alguns; para outros, um verdadeiro mistério, quando se tenta analisar a origem, existência, fim e destino do espírito, ou da alma, ou da própria consciência, ou ainda de qualquer outra designação que se possa atribuir.
Quando o homem se interroga, desde há milhares de anos: “Quem sou? De onde venho? E para onde vou? a frustração e a noção de incapacidade para responder àquelas, e a outras questões, conduzem a uma certa angústia e quanto mais procura investigar, aprofundar e tentar extrair conclusões, ele percebe quanto, nesta dimensão humana, é insignificante, na medida em que verifica a sua impotência para se esclarecer, sabendo, embora, que é um ser existencial.
Não será necessário, neste aspecto, enveredar por uma metodologia cartesiana, da dúvida metódica, consubstanciada na máxima – Penso, logo existo (?)”.É nesta existência, porém, que o homem progride, que livre e relativamente se determina, para o bem e para o mal, no limite, determina-se pela indeterminação. Com efeito, afirma MARTINS, (1961: 70): “Existencialmente o homem faz-se ao determinar-se livremente, escolhendo na sua determinação individual a forma da sua própria essência; (…). Somos aquilo que escolhemos ser. Mesmo quando nos revoltamos contra a existência, escolhemos o ser revoltado. É a existência livremente assumida, o ser pleno.”
Numa certa perspectiva, cada pessoa consciente poderá ser aquilo que escolher, enquanto depende apenas da sua vontade, das suas capacidades e dos recursos que estiverem ao seu dispor, contudo, muito dificilmente atingirá resultados absolutos, principalmente no domínio da essência e da imaterialidade de certas dimensões e situações. Não se vislumbra qual a forma, o processo, os meios para se atingir a máxima felicidade, ou para se alcançar, de forma consciente, o que está para além da morte física do corpo.
Escolher ser, fisicamente, imortal, mesmo através das mais modernas técnicas de embalsamento e conservação do corpo, poderá não resultar objectivamente. Escolher ser, espiritualmente, imortal, desde logo ao nível da própria identidade, será, eventualmente, melhor conseguido, todavia, a imortalidade não é estabelecida pelo próprio que se pretende imortalizar, mas terão de ser todas as gerações que se lhe seguirem, que mantenham actualizada e viva tal situação, pela recordação permanente daquela identidade e dos seus feitos, bons ou maus.
Mas o que verdadeiramente se torna angustiante é esta ignorância total sobre o destino do espírito humano, porque independentemente de quaisquer crenças, religiões e conhecimentos, poucas pessoas acreditam na constituição humana, como sendo só matéria ou só espírito.
A posição, aparentemente, dominante, aponta para esta dualidade: corpo (substância material); alma/espírito (substância imaterial). Negar esta possível evidência, até poderá ser uma atitude cómoda. Afinal, para que servem as preocupações metafísicas se elas não resolvem os problemas concretos da humanidade terrena, poderão argumentar os defensores do materialismo científico? A interrogação contrária, igualmente se pode formular, ou seja, para que serve, neste mundo terreno, aceitar e defender a materialidade do corpo, quando o mais importante é o destino do espírito?
Algumas certezas, que não precisam de ser comprovadas cientificamente, podem aceitar-se como tais, nomeadamente, a que se prende com a existência, e que ao escolher-se um percurso de vida, que ao longo do mesmo não teve arrependimento de nenhum acto, atitude ou comportamento, então a vida revelou-se com sentido, o qual é experimentado com prazer, pelo próprio indivíduo.
É essencial identificar um sentido para a vida, objectivos pelos quais se possa continuar a evoluir, mesmo tendo a consciência de que jamais se alcançará a sabedoria absoluta, porque na verdade, segundo PIRES, (1999: 132) “O mundo é o palco da odisseia humana! Cada um de nós representa o seu papel e, por humilde que seja, cada existência tem o seu significado. Estamos sempre crescendo e, certamente, nos serão confiados novos papéis, até nos tornarmos puros e sábios. (…) Durante o processo evolutivo da consciência, superamos os instintos, conquistamos o livre arbítrio e assumimos um grande desafio: alcançar a Espiritualidade Racional.”
Conduzir a vida por objectivos, materiais e imateriais, poderá ser uma estratégia adequada à condição humana e que satisfará, por outro lado, as exigências que a constituição dual do homem coloca ao longo da vida. Objectivos materiais no campo da aquisição e fruição de bens e serviços, que possibilitam uma existência compatível com a dignidade da pessoa-humana, nomeadamente: o conforto físico, o bem-estar habitacional, o trabalho bem remunerado, uma boa ocupação dos tempos livres e de lazer, através da fruição e gozo do que mais se gosta, enfim, qualidade de vida. Outros objectivos, nitidamente materiais, se poderiam convocar para um projecto de vida, cabendo, porém, a cada um, lutar pelo que considera serem os melhores.
Também no quadro dos objectivos imateriais, a selecção poderá ser difícil, porquanto neles pode interferir todo um conjunto de valores, princípios e normas sociais que conduzem, no limite, a um objectivo final, por exemplo, a felicidade, entendida como a satisfação pelo caminho percorrido, ou uma certa paz interior, ou, ainda, a sensação permanente de deveres ético-morais e cívicos cumpridos. Então, o objectivo último será de natureza espiritual, assente numa felicidade construída ao longo de uma vida e, nesse sentido e convocando novamente PIRES, (1999: 136) ele nos ensina que: “Como estamos sempre interpretando os nossos prazeres e avaliando as nossas próprias condutas, a verdadeira felicidade está centrada nos prazeres morais, na satisfação de poder olhar para trás e dizer: foi muito difícil, exigiu grande sacrifício, deu muito trabalho, mas eu faria tudo da mesma maneira, porque fiz com muito amor.”
Poderia parecer vulgar afirmar-se que uma outra certeza é a morte. Não é assim tão banal quanto parece, na medida em que, a maior parte das pessoas muito raramente pensa neste fenómeno inevitável, aliás, algumas há que parece que jamais se extinguirão, que não vão morrer, considerando um certo tipo de conduta que vão manifestando ao longo da vida.
A morte, aqui referida, é a morte física do corpo humano, do seu desaparecimento concreto da face da terra, enquanto animado de vida, movimento e comunicação, ainda que fosse possível conservar-se tal corpo intacto, visível aos olhos de toda a gente, pelos processos de embalsamento. Portanto a morte física é uma realidade que a todos acontece e aqui, independentemente de quaisquer estatutos: social, profissional, económico, político, religioso, etário, étnico ou outro. Se se pensasse na morte todos os dias, possivelmente, o mundo estaria, hoje, bem melhor, talvez houvesse mais solidariedade e paz.
A morte coloca um ponto final na vida: do rico e do pobre; do poderoso e do fraco; do crente, do agnóstico e do ateu. Ninguém escapa da morte física, de resto, na perspectiva de MARTINS, (1961: 162): “A certeza intuitiva da morte vem da experiência mesma da vida, por mais paradoxal que isto pareça à primeira vista. Vem da experiência de qualquer vida, em qualquer das suas fases, porque é um elemento constitutivo da sua mesma estrutura. (…) Angústia, remorso, desejo, temor, inquietação, nada importa para a vivência do acercamento da morte. (…) Independentemente de todo o juízo de realidade ou de valor, impõe-se esta vivência do diminuir da vida por viver, ou do acercamento da morte, como uma realidade imediatamente perceptível.”
A vida humana joga-se, portanto, entre o nascer e o morrer, período de duração indeterminada, durante o qual decorre toda uma existência, com episódios diversos: uns, previsíveis; outros, não, mas que todos vão contribuir para um balanço final que a própria pessoa fará, se tiver oportunidade para isso, e de que resultará a sua satisfação, maior ou menor, que permitirá um juízo ético-moral, relativamente a tudo quanto de bom, ou de mal, tenha feito, mas que, em muitas circunstâncias, não vai permitir qualquer reparação por danos causados seja a ela própria, seja a terceiros, o que, em situações graves, pode proporcionar profundo arrependimento e, eventualmente, algum desespero. O corolário lógico será, então, resolver em vida o que há para resolver e pelas vias pacíficas.
Indiscutivelmente que todo o ser humano tem o seu fim bem determinado, mas que não é do seu conhecimento, (talvez se possam excluir aqui aquelas situações de suicídio consciente, eutanásia, condenação à morte, em que o fim é fixado pelo próprio ou por um juiz, respectivamente), admitindo-se que enquanto ele vive possa, ainda, ter tempo para alterar muitos dos seus comportamentos anteriores, reparar, na medida do possível, o que fez de errado.
Nesse sentido, o homem deve viver com fé, quer ao nível espiritual, quer no âmbito da sua intervenção no mundo, acreditando e demonstrando que tudo o que faz tem uma finalidade boa, um sentido concreto, um objectivo real e até altruísta, revelando-se, também, fiel aos valores e princípios. É necessário estar dotado de uma grande fé, quer para o êxito dos projectos espirituais, quer na realização dos projectos materiais.
Esta fé não é quantificável, medida rigorosamente com um qualquer instrumento de medida. Ela vai ser avaliada pela satisfação que causa no próprio e por todos aqueles que beneficiaram das boas-acções, boas-práticas, bons-projectos. Nesta perspectiva ROMERO, (1998: 310) esclarece que: “Fé, fidelidade, confiança: são manifestações de um mesmo fundo comum. A fé não é uma atitude que se manifesta apenas perante o divino. Esta é propriamente a fé religiosa. Há também a fé como atitude existencial básica. Em ambos os casos, há uma fidelidade a princípios reitores que orientam e sustentam a vida da pessoa e há a plena confiança na verdade destes princípios.”

Bibliografia

MARTINS, Diamantino, S.J., (1961). Mistério do Homem; Ser, Personalidade, Imortalidade, Braga: Livraria Cruz.
PIRES, Wanderley Ribeiro, (1999). Dos Reflexos à Reflexão. A Grande Transformação no Relacionamento Humano, Campinas: Editora Komedi.
ROMERO, Emílio, (1998). As Dimensões da Vida Humana: Existência e Experiência, São José dos Campos: Novos Horizontes Editora.

O Presidente da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

sábado, 26 de outubro de 2013

O Homem Religioso


O homem, na sua singularidade mais genuína e profunda, destaca-se de toda a natureza pelas suas capacidades cognitivas, afectivas, estéticas e religiosas. É pouco provável que qualquer outro animal possua a faculdade de se ligar ao sobrenatural transcendente, por exemplo, pela meditação, pelas atitudes de submissão, reverência e adoração, através da oração.
A religião é uma manifestação eminentemente humana e todas as culturas são profundamente marcadas por este fenómeno, porque: «Quando o homem crê em Deus e observa a ínfima diferença que separa a natureza divina da sua, então se prostra diante de Deus e o adora. A adoração é a máxima expressão da relação com Deus de um ser humano (…). O significado da adoração é que Deus é absolutamente tudo para quem o adora.» (KIERKEGAARD, 1944-412, in MONDIM, 1980:226).
Consideradas a sua finitude e precariedade físicas, num mundo que ainda não conhece totalmente, o homem sente-se frágil e dependente de algo que, dramaticamente, nem sempre ao longo da sua história filogenética e ontogenética soube ou quis identificar.
Ao dar-se conta destas suas vulnerabilidades ele, o homem-crente, procura abrir-se ao sobrenatural que designa por Deus, porque sendo dotado de inteligência e de reflexão, rapidamente reconhece a existência do sagrado e, livremente, é capaz de O amar ou odiar, todavia, para o homem de fé, o que acredita numa existência transcendente, para além da vida biológica, a busca de oportunidades para se encontrar com Deus, ente supremo e sagrado, é incessante e persistente: «Neste misterioso universo, existe uma coisa de que o Homem pode ter a certeza. O Homem certamente não é a maior presença espiritual do Universo. (…) Existe uma presença no Universo que é espiritualmente maior do que o Homem. O objectivo do Homem é buscar comunhão com a presença por trás dos fenómenos, e buscá-la com o anseio de harmonizar o seu próprio eu com essa realidade espiritual absoluta.» (TOYNBEE, in SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BIBLIAS E TRATOS, 1990: 366).
A dimensão religiosa do homem é, seguramente, um aspecto essencial da sua superioridade face aos restantes animais que povoam o mesmo mundo. O homem, centro e objecto das maiores investigações científicas, apresenta-se, neste particular, como algo ainda misterioso, indecifrável, incógnito.
Esta característica, única da sua religiosidade, o distingue de todos os demais seres deste mundo que habita, justamente, porque: «O homem religioso se religa, relaciona sua existência com um princípio supremo que rege e dá sentido a tudo o que existe. Este princípio tem um carácter absoluto, incondicionado. É Deus. (…) Partindo deste pressuposto, o homem religioso quer que sua vida cotidiana esteja em consonância com esta ordem cósmica; (…) sua ética – os princípios que regem sua conduta interpessoal e os objectivos válidos de sua vida, está subordinada aos postulados e mandamentos de sua doutrina religiosa.» (ROMERO, 1998: 310-11).
Além desta inimitável característica que é a sua capacidade religiosa, o homem continua um mistério porque conhecendo já, razoavelmente bem, a sua constituição físico-biológica e podendo dela tratar com alguma objectividade e sucesso, outro tanto não se verifica com a sua constituição espiritual, desde logo porque ignora sua natureza, sua origem e seu destino, mesmo quando se considera imortal, acreditando, em coerência com a existência de uma outra vida transcendental, sem, contudo, conseguir provar, cientificamente, tal imortalidade, o que lhe provoca uma sensação de impotência e angústia: «O homem de hoje vive sem certezas vitais sobre o que mais intimamente lhe interessa. (…) A sobrevivência depois da morte é um problema pessoal que afecta o nosso próprio destino. Não é como resolver uma questão que nos é indiferente.» (MARTINS, 1961: 162-63).

Bibliografia

MARTINS, Diamantino, S.J., (1961). Mistério do Homem; Ser, Personalidade, Imortalidade, Braga: Livraria Cruz.
MONDIN, Battista, (1980). O Homem quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica, Trad. R. Leal Ferreira e M. A. S. Ferrari; revisão de Danilo Morales, 3ª Ed., São Paulo: Edições Paulinas. (Coleção Filosofia 1) ROMERO, Emílio, (1998). As Dimensões da Vida Humana: Existência e Experiência, São José dos Campos: Novos Horizontes Editora.
TOYNBEE, in SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS, (1990). O Homem em busca de Deus, Edição Brasileira, São Paulo: Cesário Langue
O Presidente da Direção da ARPCA,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 

domingo, 29 de setembro de 2013

O Mandato


Qualquer pessoa, ao longo da sua vida, exerce diversos mandatos, seja de natureza obrigatória, no desempenho de uma atividade profissional, seja através do cumprimento de funções cívicas, políticas, religiosas, em regime de voluntariado, quantas vezes, a título gracioso e, neste caso, apenas existe, eventualmente, algum tipo de retribuição monetária e possíveis benefícios de ordem social, com objetivos de estímulo e também reconhecimento pela dedicação generosa, a uma causa, a um serviço público ou privado, em favor da sociedade e do bem comum.
O voluntariado, em Portugal, está regulamentado por legislação específica, na qual se estabelecem obrigações e incentivos para os participantes, incluindo, em algumas entidades e serviços, o cumprimento de horários e a responsabilização pela prática de quaisquer infrações, porque o facto de se ser voluntário, em qualquer tipo de intervenção, não significa que deixe de haver o cumprimento de normas, princípios e valores, pelo contrário, o voluntariado envolve a pessoa num estatuto, que sendo reconhecido como muito importante e necessário, exige um certo nível de boas práticas humanistas, e não só.
A Lei N. 71/98 de 3 de Novembro, que estabelece as Bases do Enquadramento Jurídico do Voluntariado, determina no seu articulado o seguinte: «O voluntário é o indivíduo que de forma livre, desinteressada e responsável se compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a realizar acções de voluntariado no âmbito de uma organização promotora.» Artº 3º nº 1) e, mais à frente: «O Estado reconhece o valor social do voluntariado como expressão do exercício livre de uma cidadania activa e solidária e promove e garante a sua autonomia e pluralismo.» (Artº 5º).
O ser humano, apreciado em todas as suas capacidades, pode-se considerar como vivendo em grande liberdade, e só não será total porque há fenómenos naturais e, eventualmente, sobrenaturais que ele não prevê, nem domina, todavia, excetuando-se alguns imponderáveis, ele é livre e, portanto, senhor dos seus atos voluntariamente assumidos, embora, e em relação aos quais, tenha de arcar sempre com as possíveis consequências, quando elas ocorrem.
Assim, ao aceitar desempenhar determinados cargos, a que correspondem o exercício de funções inerentes, a pessoa investida em tais tarefas, tem conhecimento que esta decisão implica um compromisso, por um certo tempo, em condições previamente estabelecidas, sendo de esperar que, em circunstâncias normais, nomeadamente as que vivia aquando da aceitação do cargo, irá desenvolver a respetiva atividade, até ao final do período fixado para o exercício das funções que lhe são atribuídas.
Mas a vida está repleta de imponderáveis. Ninguém pode utilizar a palavra “Nunca”, isto é: nunca serei isto; nunca farei aquilo; nunca aceitarei tal atividade; nunca estarei doente; nunca deixarei de viver e de estar bem na vida; nunca precisarei de alguém. A palavra “nunca”, os sentimentos e atitudes que ela envolve, constituem um grande risco para o nosso comportamento, para a palavra dada, para a assunção de compromissos e as responsabilidades intrínsecas.
Poucas são as situações em que se utiliza a palavra “Nunca”, aceitando-se, todavia, a título de exemplo que, talvez se possa afirmar: “eu nunca mais voltarei a nascer”, porém e ainda assim, com alguma reserva mental, quanto a tal afirmação, considerando-se uma análise em várias perspetivas: biológica, religiosa, filosófica e metafísica.
Portanto, o melhor será mesmo evitar a palavra “Nunca” e, no limite, mandam o bom-senso e a prudência que, possivelmente, apenas seja cordato e revelando alguma humildade, afirmar-se que: “nunca saberei tudo”. Aqui, e talvez noutras circunstâncias, haja alguma justificação para o uso deste vocábulo que, apesar de tudo e por vezes, nos pode atraiçoar.
Com um tal princípio, então será lícito afirmar-se que é impossível garantir que alguém consiga cumprir, integralmente, os seus compromissos, justamente porque é muito provável que situações imprevistas venham a impedir o cumprimento da palavra dada, obviamente aqui no âmbito do “Mandato”, e/ou a aconselhar a mudança de atividade, funções e localização geográfica, para o exercício das respetivas tarefas em novas funções, ou seja, toda a pessoa está sujeita aos imponderáveis da vida.
É neste contexto, e com esta lógica, que se afigura legal e legítimo que qualquer detentor de um cargo, uma profissão ou uma situação, para que voluntária, generosa e, quantas vezes, graciosamente concorreu, tenha de cumprir até ao final o respetivo mandato, ou seja, desde que nenhum imprevisto impeça o cumprimento integral das funções que entretanto assumiu.
Ninguém pode ser prejudicado na vida, só porque assumiu determinadas funções, então num quadro diferente daquele que, posteriormente lhe surgiu, precisamente através de uma oportunidade profissional, um negócio ou uma outra nova situação que, à partida, se considera interessante para uma nova vida.
É certo que há cargos públicos e/ou privados, cujas regalias, desde logo remuneratórias, são de tal forma vantajosas, e mesmo, em alguns deles, extraordinárias, que os seus titulares não os abandonam mas, se ainda assim se demitem deles é porque: ou, entretanto, surgiram situações, impedimentos e dificuldades que obstaculizam a continuação; ou, de facto, emergiu uma melhor oportunidade de vida; ou, uma circunstância, imprevisível, como doença ou agravamento da mesma, acidente, complicação judicial ou de qualquer outra natureza ou, finalmente, incompatibilidades diversas que dificultam o pleno exercício do mandato.
Ora, como ninguém pode prever qualquer uma daquelas situações, no momento em que se compromete aceitar e desempenhar um determinado cargo, é compreensível que o respetivo mandato não seja cumprido, o que não prejudica o órgão, na medida em que sempre há suplentes e preceitos legais que superam os imponderáveis, além de que o “Destino” não nos é revelado previamente.
Imagine-se, a título de exemplo, que uma determinada pessoa aceitou candidatar-se a um cargo político, associativo, empresarial, profissional ou religioso, em condições muito específicas, designadamente, com garantia de meios, colaboradores e lealdade institucional, mas que, rapidamente, após a assunção do cargo, as condições iniciais se alteram, desfavoravelmente, que surge uma outra oportunidade de vida, que se antevê para médio prazo que vão faltar apoios institucionais, que a partir de outras entidades, supostamente imparciais, haverá tratamento discriminatório negativo em relação à organização na qual estamos a exercer funções. Nestas circunstâncias, a demissão do cargo é a atitude correta e que dignifica quem assim procede.
Quando uma instituição não depende apenas de si própria, mas está sujeita à colaboração de outra/s, que lhe deve/m proporcionar apoios diversos: financeiros, técnicos e humanos; ou quando os associados não cumprem as suas obrigações, deixando de haver condições mínimas para o exercício do cargo, então é aconselhável o afastamento, voluntário, dos principais dirigentes, até para criar uma nova oportunidade para outros candidatos e/ou associados, poderem fazer mais e melhor e, desta forma, não se prejudica a instituição e de quem dela depende. Não se deve estar “agarrado” eternamente aos cargos.
Qualquer candidato, a uma determinada função, juntamente com a sua equipa, apresenta ideias, projetos e objetivos a alcançar, evidentemente, considerados razoáveis e exequíveis, partindo do princípio de que terá o apoio institucional, legal e legítimo dos organismos, instituições, associados e outros colaboradores.
Verificando-se que os apoios que são devidos não surgem, ou que são atribuídos com parcialidade, em relação a outras instituições idênticas, e nas mesmas circunstâncias e condições legais, então só resta o abandono do referido cargo, porque não se deve pactuar com a discriminação negativa.
Imagine-se, novamente, com um exemplo mais concreto: uma associação que vive, praticamente, da quotização dos seus sócios e de alguns subsídios legais a atribuir por outras entidades e que: quer os sócios; quer as tais instituições, falham nas suas obrigações e apoios, respetivamente; ou, ainda, que os dirigentes vêm a assumir outras funções, noutras instituições e que mesmo não sendo incompatíveis, podem prejudicar a associação, então, nestas circunstâncias, o dever dos dirigentes ou do responsável envolvido em atividades diferentes, poderá optar pela resignação do cargo que vinha desempenhando, abrindo caminho para uma melhor compatibilização e harmonia com outros dirigentes. Os superiores interesses da instituição devem ser salvaguardados.
É essencial que, assumidas as funções para as quais se foi eleito democraticamente, e/ou nomeado legalmente, se exerça o poder com total transparência, com um só peso e uma só medida, para com todos os intervenientes. A partir do momento da tomada de posse, passa-se à situação de representante daquele público-alvo que participou no ato eleitoral.
É fundamental que as instituições tenham conhecimento de como são distribuídos os recursos que, afinal, provêm de todos os contribuintes. É uma questão de ética, isto é: que todos sejam tratados com respeitabilidade, consideração e estima, porque só assim se credibilizam as instituições, os seus titulares e os regimes, beneficiando quem deles precisa.
O objetivo último de qualquer instituição é servir bem o seu público-alvo, seja ele: associados, acionistas, clientes, fornecedores, colaboradores, parceiros, cidadãos em geral. A meta é proporcionar a todos as melhores condições de relacionamento, satisfação das suas necessidades e uma vida social mais confortável e mais honrosa. Em causa e em primeiro lugar está sempre a dignidade da pessoa humana.
Uma situação que, igualmente, pode conduzir à cessação de um mandato, prende-se, por exemplo, com a quebra de solidariedade entre os membros dos corpos sociais, a falta de lealdade e assunção de compromissos assumidos perante os colegas e/ou os associados, permanente desconfiança de um ou outro elemento de um órgão social face a elementos de outros corpos sociais da mesma instituição. Nestas circunstâncias, a renúncia ao cargo impõe-se como uma atitude de defesa da dignidade pessoal, honra e bom-nome.
Quem não tiver as condições mínimas para atingir os objetivos a que se propôs, verificadas que estejam as impossibilidades que conduzem ao incumprimento das promessas, a atitude correta, ética e digna é a demissão, sem mais delongas, sem mais sacrifícios, sem humilhações e sem pactuar com situações consideradas injustas, porque em bom rigor, o voluntariado não deve revestir qualquer tipo de imposição mas, isso sim, deve assumir-se como missão, voluntariosa, dedicada e generosa.

 O Presidente da Direção da ARPCA,
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

domingo, 1 de setembro de 2013

Comunicação Transparente


Comunicar apresenta-se, hoje, como uma das principais potencialidades da humanidade, objetivamente, na sua vertente mais nobre que é o diálogo, a diferentes níveis: interpessoal, intergrupos, inter-gerações e inter-nações, sejam quais forem os domínios, os temas e as finalidades.
O caminho mais adequado e digno da condição humana, para resolver os conflitos: alguns, naturais e compreensíveis; outros, menos atendíveis, que nas diversas circunstâncias da vida e dos papéis que cada ser humano desempenha, vão opondo interesses, valores, princípios e objetivos.
A humanidade está predestinada à inevitabilidade da comunicação. Quem se esconder na penumbra da indiferença, na aparente tranquilidade do silêncio sistemático e inconfessável, ou no egoísmo dos interesses ilegítimos, terá, provavelmente, imensas dificuldades em cooperar com os seus semelhantes, com as instituições, com um mundo cada vez mais exigente, e com a própria natureza.
Gerir, equilibradamente, a comunicação interpessoal é, cada vez mais, uma ciência superior, (também uma arte), nem necessariamente uma ciência exata, nem absolutamente uma ciência social e humana, porque numa ou noutra, sempre terá lugar alguma objetividade e, simultaneamente, haverá espaço para uma certa margem de subjetividade, sem que isso afete a veracidade da comunicação, a sua autenticidade e eficácia.
Com efeito, a ciência da comunicação pressupõe um método e um objeto: um método ou processo pelo qual se progrida e se alcancem novos resultados, ou se melhorem os já existentes e se atinjam objetivos previamente estabelecidos; um objeto, que, no quadro da ciência da comunicação, se pode identificar com a dimensão humana de relacionamento interpessoal, isto é, melhorar a qualidade e a quantidade dos atos comunicacionais.
Na conjugação e articulação do método com o objeto de estudo, considerem-se as estratégias, os instrumentos e a avaliação, através dos quais se credibilizem, testando, os procedimentos dos interlocutores comunicacionais.
Falar, ouvir, escrever, pintar, mimetizar e desenvolver toda uma panóplia de linguagens verbais e não-verbais, sem intencionalidade, sem regras, sem objetivos e sem consequências, equivale a uma possível incompetência dos intervenientes comunicacionais.
Sendo a comunicação humana um veículo poderosíssimo, único e acessível, exige-se que os seus utilizadores sejam competentes no exercício deste recurso singular do ser humano. Da competência do uso da língua, dependem os resultados do ato comunicacional, respeitando sempre as normas do respetivo código utilizado, o qual deve ser do conhecimento profundo dos interlocutores.

O Presidente da Direção da ARPCA, 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

domingo, 4 de agosto de 2013

Relações Humanas


A organização social, qualquer que ela seja, implica a existência de relações entre os elementos constituintes da comunidade. O estudo de tais relações e a elaboração de leis universais, que visam estabelecer regras e sanções, não é de fácil aplicação, porque as ciências que investigam os seres humanos não atingem uma plena objetividade no conceito paradigmático que se tem das ciências positivas.
 Não se pode, por falta de condições, estudar pessoas vivas como se estudam outros animais em laboratório, porque o observador é, também ele, observado ou seja, é sujeito e objeto do conhecimento, o que se agrava quando se estuda a própria sociedade em que todos estão integrados e na qual interagem uns com os outros e com a própria natureza.
As relações humanas quando potencializadas para a resolução de problemas, para a convivência pacífica entre sociedades e indivíduos, devem ser estimuladas e conduzidas no sentido de se obter: por um lado, a maior objetividade possível; por outro, os melhores resultados coletivos. Certamente que deve-se ter na devida conta o jogo de interesses que, individual ou grupalmente, sempre existem nas sociedades.
Através do relacionamento humano entre os diversos atores representativos dos interesses, é possível tentar aproximações, esgotando todas as formas, processos e meios ao alcance dos intervenientes. Igualmente se verifica que ao longo da história, em todas as sociedades, ocorrem interesses antagónicos: guerra e paz; vida e morte; riqueza e pobreza; saúde e doença; fome e abundância.
 Quaisquer que sejam as situações, sempre se encontram interesses em algumas delas, porque a guerra pode beneficiar uns, como a paz beneficia outros (neste caso defende-se que a paz beneficia todos); a riqueza proporciona domínio sobre os pobres, os fracos e oprimidos e a pobreza pode possibilitar um maior estímulo para quem tem o poder político, estabelecer regras e criar oportunidades para um maior desenvolvimento (se não se deve condenar a riqueza; também se afirma que não se defende a pobreza).
Entre outros critérios, podem-se estabelecer as relações humanas, quanto ao seu início, imediatamente após o nascimento do indivíduo, com o qual os seus progenitores ou educadores instituem relações afetivas, que vão facilitar a integração da criança numa sociedade que lhe fixará determinadas regras de conduta e transmitirá padrões de cultura e consequente comportamento.
A convivência humana assente nas diversas formas de relacionamento, reduz os perigos de uma solidão que, a todos os títulos, dificulta o desenvolvimento e adequação do indivíduo à sociedade, e vai contra a sua própria natureza social.
Na verdade: «O isolacionismo, hoje, não é possível. Se devemos, de qualquer maneira, sobreviver, está claro que sobreviveremos só como membros uns dos outros. (…) Bem ou mal, esta na qual vivemos é a época do planejamento, da assistência social, da propriedade comunal e, no plano internacional, das organizações multinacionais. A capacidade do indivíduo de agir, e até de pensar, com uma certa independência de seu ambiente social ou contrastando com ele, vai-se reduzindo constantemente.
(…) Para o homem contemporâneo a redenção coincide com a sua capacidade de não se transformar nesse momento em um indivíduo – (…) O conteúdo da sua salvação com respeito à sociedade consiste, para o homem moderno, no descobrir a si mesmo como pessoa que, deliberadamente, decide a favor de uma relação de interdependência com os outros; sabedor de que a sua natureza já é a de fazê-lo entrar em relação com os seus semelhantes…» (MONDIN, 1980:156).
O cidadão do futuro que se deseja para este século, no quadro de uma cidadania de responsabilidade, e a partir do espaço luso-brasileiro, deverá ancorar a sua formação em valores, princípios e atitudes que privilegiem as várias dimensões em análise, obviamente, sem prejuízo de outras que, entretanto, se mostrem pertinentes. A dimensão social não pode, nem deve, ser ignorada, contudo, para o seu êxito, é fundamental uma boa prática nas relações humanas entre cidadãos, entre povos e nações.
Como em muitas outras dimensões humanas, a complexidade do homem, quer na sua constituição físico-biológica, quer na sua componente imaterial, não é compatível com quaisquer processos hereditários, no que respeita à obtenção das melhores condições para um bom relacionamento humano.
As características individuais para que socialmente um indivíduo se possa relacionar com outros, têm de ser adquiridas, trabalhadas, aperfeiçoadas ao longo da vida, pelo estudo, pela experiência, a partir da compreensão dos problemas sociais e, sempre que possível, com a sua participação na resolução dos mesmos, em função dos papéis que vai exercendo em cada momento da sua existência.
Nesse sentido, defende-se uma preparação integral, não só ao nível familiar, mas também e principalmente durante o processo educativo. Hoje não basta ser-se um excelente técnico, especialista num determinado domínio, porque o homem é muito mais do que isso.
O homem é um ser relacional, em convivência e cumplicidade social com os outros, seus semelhantes, e numa direção que aponta, também, para uma outra relação sobrenatural. Esta tese privilegia um cidadão do compromisso, do diálogo, da interação a todos os níveis, da cooperação, do relacionamento total, aberto e descomplexado, um cidadão de entrega e de voluntariado ativo.
O cidadão comprometido com a sociedade, preparar-se-á o mais cedo possível, com o melhor nível de relacionamento pessoal, seja numa perspectiva meramente comunicacional, seja do ponto de vista de uma amizade comprometida com objetivos do fortalecimento de relações humanas consolidadas, e sempre renovadas, no sentido da maior sinceridade e lealdade, também em ordem à cooperação entre pessoas, setores, comunidades e civilizações.
A sociedade humana moderna e global não pode adiar por mais tempo estes desideratos, sob pena de caminhar para a desumanização e selvajaria totais. No mundo moderno é de absoluta necessidade a incrementação de uma cultura da solidariedade, da afeição, da lealdade, da estima, da dádiva e da fraternidade.
O mundo do século XXI, só pode caminhar para uma reformulação de atitudes pessoais e coletivas, para uma nova ordem internacional que dê primazia aos valores e princípios verdadeiramente humanos, a partir das relações sadias e construtivas que se pretendem entre os homens. Discutem-se valores desde sempre considerados universais e que decorridos os séculos, hoje sente-se, talvez mais do que nunca, a necessidade de a partir deles se construir e desenvolver relações pessoais e sociais.
Com efeito, parece que: «É geral, e certamente unânime, o apoio que, em silêncio, recebemos das multidões, em toda a parte, os personagens, gestos e episódios que encarnam tais valores como a solidariedade humana, o espírito de justiça, a lealdade, a dignidade, o respeito à vida alheia, o jogo limpo, o culto à arte, a fé. Sabemos que o que se tem como erro, ou anti-valor, no caso, pode ocorrer e ocorre com frequência. Entendemos a incidência do mal. Mas estamos todos de acordo em que o bem deve prevalecer e em que, de modo geral, possa consistir o bem.» (REIS, 1978:114).
Naturalmente que se compreende muito bem a dificuldade de se atingir um patamar de perfeição, nas relações entre pessoas todas diferentes, todas complexas, todas com pontos de vista e interesses relativizáveis, umas em relação às outras, todavia, se se partir da aceitação desta pluralidade de comportamentos, atitudes, sentimentos, aspirações e individualidades, com o objetivo de melhorar a interação humana, seguramente que dentro de algumas décadas viver-se-á numa sociedade mais fraterna, porque mais tolerante, porque mais compreensiva e porque mais cooperante, enfim, porque melhor preparada.
Hoje, já ninguém duvida das potencialidades do diálogo, do debate franco e aberto, da conjugação de esforços no sentido da implementação de uma estratégia das sinergias, em ordem a uma melhor conjugação das boas-vontades e das competências individuais e dos grupos porque, isoladamente, é cada vez mais difícil, ou mesmo impossível, o homem resolver as complicadas situações que o mundo moderno lhe vem colocando.
Quaisquer que sejam as possíveis técnicas de relações humanas, incluindo aquelas que do ponto de vista comercial são mais utilizadas, algumas com uma agressividade chocante, verifica-se que nenhuma funciona em absoluto, isto por vários motivos: o ser humano é, por natureza, composto de contradições devidas à sua própria constituição psico-fisico-social, porque é difícil prever o comportamento ou a reação que perante determinados estímulos se produzirão e, mais preocupante do que isto, se reage sempre de igual forma a estímulos idênticos.
Esta imprevisibilidade da natureza humana, pode ser atenuada se, desde a mais tenra idade, se incutir uma dinâmica de cultura de valores. Além dos valores já referidos, é importante para um bom relacionamento humano a amizade, que em certas culturas, povos e territórios pode assumir diversas formas e designações, acabando por se institucionalizar.
Na verdade: «Apesar do valor que damos à amizade, o nosso tipo de sociedade contudo nunca se institucionalizou completamente. No entanto, em muitas regiões de África, assim como num certo número de ilhas do Pacífico Sul e noutras partes do mundo primitivo, as maneiras de tratar com os amigos são sistematicamente regulamentadas não aparentadas duma sociedade.» (TITIEV, 1963: 262).
Ao defender-se o valor da amizade, esta entendida no seu sentido mais verdadeiro e profundo, como um instrumento de grande eficácia na melhoria das relações humanas, pretende-se com isso incrementar uma nova atitude entre os homens, começando, desde logo, por evitar críticas destrutivas que, para além de nada resolverem, se tornam perniciosas e afetam a auto-estima  e personalidade dos indivíduos visados. A crítica destrutiva é uma atitude imprudente e que, em certas situações, pode causar sequelas irreparáveis.
O que se defende como sendo muito mais cordato é tentar compreender as pessoas, procurando descobrir os motivos pelos quais agem de determinadas formas. Nesta postura pode-se demonstrar toda a simpatia, tolerância e generosidade e, se houver razões para tal, deve-se usar do elogio sincero e amigo, porque será o melhor incentivo e prova de admiração que se pode dar a alguém.
 Quando se é sincero nas apreciações, certamente que as pessoas modificarão os seus comportamentos, saberão respeitar e colaborar em projetos de vária natureza e dimensão na educação para a cidadania e respeito pelos direitos humanos. A sinceridade implica consideração, lealdade, reciprocidade e estima.
Urge pois implementar uma educação de relações humanas, baseada em regras e códigos de conduta ético-morais, começando-se desde já por evitar toda e qualquer contradição relativamente a sentimentos, valores e gostos alheios. É importante ter sempre presente que toda e qualquer pessoa não só tem direito à dignidade, como a usufruir dos seus gostos. Incluir-se-ia aqui uma espécie de ciência para a vida quotidiana, sustentada por uma educação cuidada e no exercício das boas maneiras com o melhor requinte possível.
As boas maneiras, aprendidas ou inatas, tornam a vida mais fácil, seja no trabalho, na família, na associação ou em quaisquer outras circunstâncias da existência. Em cada dia que passa, sempre há a oportunidade de mostrar que é possível ser-se, sinceramente, amável e solidário. São atitudes que não empobrece quem as pratica, mas satisfazem a quem as recebe.
Muito embora se desconheçam receitas infalíveis para manter um bom relacionamento, não se deve ignorar que existem princípios que, pelo menos, podem proporcionar um bom início de relacionamento, quando uma das partes manifesta abertura, respeito, estima e admiração pela outra: «Diz um provérbio antigo e verdadeiro que com uma gota de mel se apanham mais moscas do que com uma gota de fel. O mesmo se dá com os homens. Se pensar conquistar um homem para a sua causa, convença-o primeiro de que o estima sinceramente. Nisto há uma gota de mel que lhe chega ao coração, o qual, digam o que disserem, é o caminho mais certo para chegar à razão.» (STEED, s.d: 31).

Bibliografia

MONDIN, Battista, (1980). O Homem quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica, Trad. R. Leal Ferreira e M. A. S. Ferrari; revisão de Danilo Morales, 3ª Ed., São Paulo: Edições Paulinas. (Colecção Filosofia 1)
REIS, Sólon Borges dos, (1978). A Crise Contemporânea da Educação, São Paulo: Centro do Professorado Paulista.
STEED, William B. (Dir.), (s.d.). Curso de Relações Humanas: Conversação eficiente e desenvolvimento da personalidade, Lisboa: Instituto Latino de Relações Humanas (Fascículo 3:34)
TITIEV, Misha (1963). Introdução à Antropologia Cultural, Trad. João Pereira Neto, Prefácio de A. Jorge Dias, 6ª. Ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

E-mail: arpcaminha@gmail.com