Cada
evento comemorativo, tem sempre uma determinada carga simbólica, e é dedicado a
um acontecimento na vida de uma pessoa, de uma família, de uma organização, de
um país ou a nível mundial. Participar em tais eventos é uma atitude que, salvo
determinações impositivas, por instituição competente, fica ao critério de cada
pessoa, da sua sensibilidade, valores, sentimentos e das tradições culturais em
que está integrada.
Tal
como acontece com os denominados dias “Nacionais”,
ou “Internacionais”, ou ainda, “Mundiais”, sobre um qualquer facto, ou
valor, a exemplo de diversos festejos: Natal, Carnaval, entre outros, também a
Páscoa, tem o seu simbolismo, considerando-se a festa da alegria, para os
crentes da religião católica, a ressurreição de Jesus Cristo, em toda a sua
glória e esplendor.
Na
cultura e tradição portuguesas, a Páscoa ainda é festejada com imensa alegria e
imenso respeito e, entre diversos rituais, como a “queima do Judas”, a visita pascal às residências dos crentes
católicos, tem o seu ponto alto e de profunda confraternização, quando a
comitiva pascal saúda os donos da casa, asperge a água benta e dá a beijar a
Cruz de Cristo cruxificado, a todos os presentes.
Nas
aldeias portuguesas, designadamente no Minho, a tradição do compasso pascal
vai-se cumprindo, eventualmente, aqui e ali, com menos entusiasmo e alegria,
até porque a situação económico-social de milhares de pessoas e de famílias é
horrível, na medida em que vivem no limiar da pobreza, com “rendimentos” abaixo
do limite mínimo da dignidade humana, e sem que se vislumbre uma oportunidade
para melhorarem a sua qualidade de vida e dos respetivos dependentes.
E
se é certo que em determinados setores da vida nacional, as estatísticas
alimentam alguma esperança, no sentido da melhoria das condições gerais de
vida, como por exemplo: o desemprego, cuja percentagem tem vindo, lentamente, a
baixar; por outro lado, também é verdade que milhares de pessoas que, aos
quarenta e mais anos de idade, saíram do mercado de trabalho, agora não
conseguem entrar e que destas, dezenas ou centenas de milhares não recebem
qualquer apoio oficial.
É
claro que, para este leque de centenas de milhares de pessoas, não se poderá
dizer que a Páscoa é a festa da alegria, deixando-se, porém, prevalecer a
esperança em “melhores dias” para
todos, porque neste período que corresponde à ressurreição de Cristo, tem de
haver mais confiança, porque Ele não pode defraudar os seus filhos, obviamente,
na perspetiva dos crentes.
O
tempo pascal poderá ser utilizado como um período de reflexão profunda,
precisamente, entre os dois extremos da existência humana – nascer e morrer –
e, neste percurso de vida, analisar: o que foi feito para o bem; o que foi para
o mal; o que pode ser melhorado; o que deve ser corrigido e o que tem de se
evitar, para se conseguir obter um equilíbrio nas relações interpessoais,
envolvendo nestas os princípios, valores, sentimentos e emoções próprios das
pessoas bem-formadas, generosas e civilizadas.
Viver
a Páscoa como uma festa meramente consumista, com alguma ou mesmo muita
ostentação, do TER, em vez da exigência do SER, enquanto pessoa visceralmente
humana, é uma atitude que: não alimenta os comportamentos essenciais da
esperança; que ignora a fé em relação a um Cristo protetor e amigo das pessoas.
A Páscoa deve ser festejada com muito entusiasmo, também com grande humildade e
respeito pelos outros, nossos iguais.
Naturalmente
que pelo facto de: existirem milhares de pessoas e famílias, só em Portugal, no
limiar da pobreza; centenas de milhares de desempregados, sem auferirem
qualquer ajuda oficial para terem uma subsistência, minimamente, condigna; de
no curto período de três anos, centenas de milhares de jovens, altamente
qualificados, bem como imensos adultos, terem de emigrar; haver milhares de
pessoas “sem-abrigo”, a Páscoa não
deve deixar de ser celebrada, justamente, sem exibicionismos de quem quer que
seja, mas sim com moderação, sem magoar aquelas pessoas que o infortúnio da
vida tanto as tem fragilizado.
Durante
o período da Quaresma, que decorre de quarta-feira de cinzas até ao domingo de
aleluia, da ressurreição de Cristo, há muito tempo para se refletir sobre o que
em Portugal tem estado mal e o que possa merecer uma avaliação positiva. É
tempo de recolhimento, de meditação em vários domínios e contextos, desde logo:
religioso, político, social e económico, os quais constituem quatro grandes
pilares, entre outros, para se avaliar a qualidade de vida da população e, a
partir desta análise, tomarem-se as medidas necessárias para se corrigir o que
tem estado errado e melhorar o que de bom possa ter acontecido.
É,
justamente, apesar de todas as dificuldades, que nos deveremos mobilizar para,
em conjunto com as entidades competentes, resolvermos alguns problemas mais delicados,
apoiarmos, inequivocamente, dentro das nossas possibilidades e capacidades,
quem mais precisa, porque a Páscoa também é um tempo de solidariedade, de
coesão fraterna e de pensamento em Cristo ressuscitado, como único Salvador da
Humanidade.
Quando
vivenciamos a Páscoa, como uma festa da alegria, obviamente que nos colocamos
num registo otimista, com pensamentos positivos e determinados a não nos
deixarmos abater pelos insucessos, pelas faltas de solidariedade, pelas
deslealdades, pela doença e pela falta de trabalho, bem pelo contrário,
assumindo atitudes de esperança e confiança no futuro, que todos temos de
ajudar a construir, independentemente da situação pessoa de cada pessoa.
É
nesta perspetiva de confiança, de acreditar que é possível sermos melhores uns
para os outros, que a imaginação criativa da pessoa humana, a sua inteligência
e a determinação em construir um mundo mais tranquilo, mais solidário e mais
fraterno, se consegue sair de muitas “crises”
que, atualmente, sufocam muitos países, o povo humilde e trabalhador, que não é
responsável por tais situações injustas que outros criaram, devido à ganância,
ao desejo incontrolado de Poder e de Ter.
Páscoa
enquanto festa para todos, não de pobres nem de ricos, embora estes,
materialmente, tenham melhores condições e motivos para “festejar” o evento, com abundância, por vezes, estragando e
deitando fora tantos produtos que saciariam a fome e agasalhariam centenas de
milhares de pessoas, só em Portugal.
Hoje,
segunda década do século XXI, mais do que nunca, torna-se extremamente
aconselhável passar-se à prática, desde a conceção de medidas favoráveis à
erradicação das situações de miséria à consequente aplicação ininterrupta das
mesmas: para que todos os dias possa ser Páscoa; para que todos os dias haja
solidariedade, amizade, fraternidade; para que todos os dias haja saúde,
trabalho, justiça social, paz e felicidade.
Nesta
Páscoa de 2015, alguém tem de lançar algumas sementes de esperança, para que as
pessoas e as famílias portuguesas, em particular, e as restantes por esse mundo
fora, continuem a acreditar que: não estão abandonadas; que existe uma saída;
que os jovens têm futuro; os desempregados terão trabalho; os idosos serão
respeitados e não voltarão a ser vítimas da espoliação dos seus parcos
rendimentos, que lhes são devidos e para os quais contribuíram uma vida inteira
de trabalho e, finalmente, para que quem trabalha, lhe seja pago o justo e
devido salário, sem cortes nem impostos brutais.
Vamos
acreditar que a Páscoa deste ano será o início de um longo e brilhante futuro,
para todas as pessoas sem exceção e que, querendo os responsáveis: financeiros,
políticos, empresários, religiosos e trabalhadores, não mais haverá fome nem
miséria; que os cuidados de saúde cheguem a toda a população; que a educação e
formação, ao longo da nossa existência, nos preparará para enfrentar a vida;
que a justiça nos protegerá e ajudará a restabelecer a honra, bom nome e
dignidade, seja dos inocentes, seja dos arguidos, seja dos condenados.
Comemora-se,
uma vez mais, a ressurreição de Jesus Cristo e, com este acontecimento: devemos
acordar para as diversas realidades da vida; para o incentivo a colaborarmos
nas tarefas solucionadoras de variadíssimas situações anormais, injustas,
irregulares e ilegítimas. Ressuscitemos nós, também, para os grandes
princípios, valores, sentimentos e emoções que caracterizam e dignificam a
pessoa verdadeiramente humana.
Páscoa
com Aleluias, com cantares jubilosos, com esperança no futuro da humanidade,
para o Bem, para a Concórdia, para a Liberdade, para a Igualdade, para a
Fraternidade e para a Paz. Páscoa de Cristo e em Cristo, Páscoa da Humanidade;
Páscoa da Vida Redentora.
O Presidente da Direção,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
925 935 946