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domingo, 1 de abril de 2012

Contextualização do Idoso

O último terço da vida humana, que se poderá situar a partir dos sessenta e cinco anos de idade, será, porventura, o mais sensível, estimulante e enriquecedor, para o próprio e para os que com ele convivem, nas diversas situações: família, ocupação, convívio, defesa de valores, convicções e boas-práticas, em diversas modalidades.
Na verdade, é legítimo, justo e de direito que aos sessenta e cinco anos, o cidadão que, durante décadas se sujeitou ao exercício de uma atividade profissional, cumprindo inúmeras regras, desde logo, horários rigorosos, submetendo-se às mais diversas e difíceis situações hierárquico-funcionais, possa desligar-se dessa atividade, por via de uma reforma compensadora, que lhe permita uma vida confortável, extensivamente àqueles que, de alguma forma, dele dependem, porque para isso já investiu, coercivamente, pelas contribuições que pagou, ao longo do período ativo produtivo.
O cidadão, que reunindo os requisitos legais para a aposentação, está no seu direito de a requerer e de lhe ser atribuída mas, querendo, poderá (e, para bem da sua saúde, até deverá) continuar a trabalhar na mesma atividade, empresa/instituição em condições que, certamente, devem ser acordadas com a entidade patronal, incluindo um novo salário e outros benefícios sociais.
Uma outra alternativa, seguramente, se colocará ao cidadão idoso, terminado que seja o seu percurso profissional e passando à situação de reforma. Com efeito, o reformado, enquanto se considerar válido e pretender manter-se útil à sociedade, deve usufruir de outras e novas oportunidades de trabalho, justamente, em domínios que conhece, que gostaria de realizar e que pode, igualmente, ser produtivo, destacando-se aqui, algum género de voluntariado.
A opção por retomar uma atividade que teria sido interrompida, prosseguir na mesma profissão que exerceu durante o período normal de trabalho, ou iniciar uma nova ocupação, deve ser livremente tomada, sem constrangimentos, nem imposições legais, inibidoras de o fazer e sem a necessidade que o obrigue a continuar a trabalhar.
As oportunidades para o prosseguimento de uma vida ativa, a todos os níveis, devem ser garantidas aos idosos logo no início desta fase das suas vidas, o que pressupõe alterações profundas nas mentalidades, ainda preconceituosas, sobre o juízo que fazem, acerca da utilidade/inutilidade destes novos colaboradores.
Há toda uma educação que é necessário transmitir, não só aos próprios idosos, como a todos aqueles que integram a sociedade, dita ativa, no sentido: da inclusão dos mais velhos na resolução dos problemas da humanidade; no enriquecimento dos cidadãos; no aproveitamento de todas as capacidades disponíveis desta nova faixa etária, cada vez mais numerosa e marginalizada, principalmente aqueles que se integravam nos escalões sociais médio-baixos e baixos, porque os restantes, aqueles que durante a vida ativa se posicionaram na denominada classe alta, por via dos rendimentos, estatuto social, habilitações, ocupação, intervenção política e outros processos de ascensão social, não terão dificuldades em conseguirem novos postos de trabalho e muito rentáveis.
Em geral: «O processo de envelhecimento confronta-se com os mitos e crenças pessoais e sociais de que nesta idade madura, as pessoas são incapazes de aprender, de desenvolver qualquer tipo de trabalho convincente e útil, de ter opções válidas sobre o que querem e igualmente incapazes de se adaptarem às novas formas de vida, a que chamam de actualidade.» (SALDIDA, 2004:108)
O estigma paradigmático, que recai sobre esta numerosa população, deve ser desmontado, rapidamente, sob pena de se perder a própria memória coletiva que une todo um povo, pelo menos na história, na língua, na cultura e nos valores.
 Desprezar o valioso contributo das pessoas que, não obstante terem entrado na reta final de suas vidas físico-biológicas, continuam válidas, disponíveis para manterem uma boa colaboração: com a sociedade em geral; com as gerações mais novas, em particular, constitui um grave erro, para além de uma mesquinha ingratidão daqueles que, de alguma forma, detêm determinado poder de decisão.
Defende-se aqui a teoria contrária, a que se adequa aos novos tempos, caraterizados por uma crescente desestruturação da família, com a brutal redução da taxa de natalidade e o aumento da esperança de vida, com um Saber-ser e um Saber-estar cada vez mais artificias, inseguros e inexperientes.
Apoia-se, portanto, uma teoria e uma prática que privilegiem os idosos, que lhes dêem a oportunidade de passarem o testemunho de vida e de saber, em condições dignas, ao longo deste período de vida, que se considera o mais caraterístico da vida do ser humano, no qual coexistem capacidades, conhecimentos, experiências, sabedoria, prudência, valores e segurança nas convicções, onde toda uma existência se consolidou numa postura rigorosa, severa, mas também tranquila, confiante e estimulante para as gerações vindouras.
Isto mesmo, ou seja, o elevado apreço pelos mais velhos ainda se verifica em determinadas situações, por exemplo: «Em algumas sociedades de pequena escala o significado da idade é exatamente o inverso, é sinónimo de experiência, de sabedoria. São os velhos que formam o conselho máximo da tribo, do clã. Os tempos mudaram, hoje se diz que a antiguidade não é posto. No entanto, no sistema de remuneração de algumas empresas, ainda predomina o tempo de serviço, como um critério de melhoria salarial e funcional.» (MELLO, 2000:308).

Bibliografia

MELLO Luiz Gonzaga de, (1980) Antropologia Cultural: Iniciação, Teoria e Temas, 7ª Ed. Petrópolis: Vozes
SALDIDA, Isabel. (2004). “Envelhecimento, a Vida sem Trabalho e o Direito à Escola”. In Integrar, Lisboa: Instituto do Emprego e Formação Profissional, Nº Especial, 2003-2004. Pp.107-110

O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


 

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