Regra geral: toda a pessoa, verdadeiramente humana; as famílias; as
instituições; as comunidades; as sociedades; os povos; as nações de todo o
mundo perseguem objetivos, desejam alcançá-los e consolidá-los para viverem com
a maior estabilidade possível, com qualidade de vida, com tranquilidade, na
maior felicidade exequível, enfim, com Paz.
Na verdade, o Papa Paulo VI, em sua primeira mensagem para o dia de Ano Novo, dizia: «Dirigimo-nos a todos os homens de boa
vontade, para os exortar a celebrar o Dia da Paz, em todo o mundo, no primeiro
dia do ano civil, 1 de Janeiro de 1968. Desejaríamos que depois, cada ano, esta
celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do
calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz,
com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da história no
futuro.» (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_da_Paz, consultado em
25.11.2012).
Muitos são os valores que acompanham a existência humana, ainda que as culturas,
histórias, civilizações tenham, e pratiquem, os valores que consideram próprios
de cada povo. Praticamente, é impossível conseguir adaptar-se valores e as
respetivas boas-práticas, comuns a todas as pessoas e embora se deseje acreditar
que haverá valores que toda a gente gostaria de possuir e usufruir plenamente,
como por exemplo: saúde, trabalho, família, solidariedade, justiça, felicidade
e Paz, o certo é que não é seguro que assim seja.
A Paz não é apenas e/ou necessariamente a ausência de guerra. Ela envolve
por si só outros valores, outras práticas, de tal forma que se não existirem e
não forem fruídos, então a Paz será, tão só, uma condição em que se vive, mas
que não traz à pessoa humana, a tranquilidade para viver feliz, com entusiasmo,
dinamismo e projetos de vida. A Paz, no conceito de ausência de guerra, é muito
pouco. A Paz tem de comportar outras exigências, dimensões e realizações para
que contribua para a dignidade humana.
É rigorosamente verdade que o mundo é um aglomerado de seres, de
fenómenos, de mistérios. O ser humano é, porventura, no campo do que já é
conhecido, o mais evoluído de todos, aquele que verdadeiramente constrói,
desenvolve e desfruta de uma cultura, desde logo, na sua própria educação,
formação ao longo de toda a vida, sem que alguma vez se sinta plenamente
realizado, feliz, todavia, poderá encontra alguma tranquilidade, uma sensação
de bem-estar, de conforto material e espiritual.
Se assim for, então, parta-se da aceitação de que a Paz deve começar em
cada pessoa e depois, qual vento circulante, expandir-se para as outras
pessoas, cada uma destas, igualmente se esforçando por construir a sua própria Paz,
continuando a envolver sempre mais pessoas, povos e nações. Resulta que a
grande estratégia será a soma das Pazes individuais para se erigir a Paz
mundial, porque é necessário o contributo de todos, em liberdade e com
responsabilidade.
Com efeito: «A Paz é a prática da
consciência plena, a prática de estar ciente dos nossos próprios pensamentos,
das nossas ações e das consequências das nossas ações. A consciência plena é
simultaneamente simples e profunda. Quando somos plenamente conscientes e
cultivamos a compaixão da nossa vida diária, diminuímos a violência a cada dia
que passa. Temos um efeito positivo na nossa família, nos amigos e na
sociedade» (HANH, 2003:11).
Este valor inestimável,
procurado pela esmagadora maioria das pessoas, povos e nações, encontra sempre imensos obstáculos,
porque a Paz tem de começar a existir no espírito de cada indivíduo, é ele que
tudo deve fazer para “contaminar” os outros, qual bola de neve.
Enquanto não forem erradicados objetivos individuais de puro egoísmo, do
poder-pelo-poder, de domínio arrogante, prepotente, ditatorial e desumano;
enquanto predominar o ter sobre o ser; a perseguição sobre a reconciliação; a
vingança sobre o perdão; a hipocrisia sobre a lealdade; a ambiguidade sobre a
solidariedade, a Paz é, praticamente, uma utopia.
Claro que toda a utopia, mais tarde ou mais cedo, ao longo da história da
humanidade, pode-se tornar realidade, tudo dependendo da determinação de cada
pessoa em “lutar” pela sua própria Paz e ajudar os seus semelhantes a
conquistar e praticar este supremo bem.
É fundamental que se tenha a coragem e também a humildade de se autoavaliar,
reconhecer que se errou e corrigir tudo o que intencionalmente, ou não, foi
realizado para prejudicar outras pessoas, para humilhar, desconsiderar, magoar
e desgostar. Enquanto esta situação perdurar em cada pessoa, ela não terá Paz
consigo própria, logo, não está em condições de contribuir para uma verdadeira Paz
alargada a toda a gente.
Portanto, é condição “sine qua non” que se comece por avaliar o grau de
culpabilidade na ausência da Paz individual porque: «A verdadeira culpa é o remorso que sentimos quando magoamos aqueles que
amamos; ela nos faz ter vontade de corrigir as coisas no nosso relacionamento
com os outros. A falsa culpa é o medo da punção que está mais ligada à
necessidade de nos protegermos depois que fazemos algo errado. A falsa culpa raramente
beneficia o nosso relacionamento com os outros. Na verdade, ela em geral nos
prejudica e nos torna pessoas de convivência mais difícil.» (BAKER,
2005:79).
Comemora-se mais uma efeméride relativa ao “Dia Mundial da Paz”, no
início de cada ano, mais concretamente, no dia 01 de Janeiro, dia de Ano Novo.
Os apelos à Paz vêm de todos os quadrantes: religiosos, políticos, económicos,
empresariais. Considera-se, então, naquele dia, a Paz como um desígnio
universal a alcançar e consolidar.
As promessas de tudo se fazer, a partir das mais altas instâncias,
nacionais e internacionais, são uma atitude que se deve aplaudir e, com mais
veemência, quando depois se concretizam no terreno. Mas a Paz que se deseja
para todos, será que existe em cada pessoa anónima e nas que fazem os apelos
mais lancinantes, para que ela se concretize?
A realidade é bem diferente porque: «Todos
nós sonhamos com uma vida melhor, uma sociedade melhor. Contudo, tornou-se
difícil passar um dia que seja sem nos desiludirmos, sem nos sentirmos
desapontados, sem nos sentirmos sugados pelas pessoas mesquinhas e egoístas que
nos rodeiam. Parece que uma grande maioria das pessoas só está interessada nos
seus ganhos pessoais. Tornaram-se rudes e arrogantes, críticas e insensíveis.
As suas acções não só nos deprimem, como também nos fazem sentir que não
podemos fazer nada para mudar este estado de coisas e que apenas os que estão
no poder têm capacidade de fazer a diferença.» (BRIAN, 2000:138).
Seguramente que a Paz é um bem supremo, um valor, um desígnio, enfim,
eventualmente, o bem último a que o ser humano aspira e que persegue, incessantemente,
até nas expressões mais simples como: “Deixem-me
em Paz” se confirma este desejo universal. Mas a Paz é um objetivo difícil
de alcançar, não necessariamente porque o ser humano não tenha inteligência e
meios para dela se aproximar, mas porque os conflitos internos em cada pessoa
estão sempre latentes.
Evidentemente que nenhuma das posições individuais – pessimismo –
otimismo – quando exageradas poderá conduzir, com segurança, à Paz mas,
provavelmente, um otimismo moderado, realista, racional e também com um pouco
de sentimento e emoção, ajuda imenso, pelo menos a acreditar, a ter fé na
possibilidade da Paz, com todos os outros valores e oportunidades que ela
proporciona no mundo.
A Paz interior, sempre em construção, sempre a melhorar, sempre a dar
mais felicidade a quem por ela “luta”, será o rumo a seguir, objetivo a
alcançar. Para o efeito aponta-se, de facto, uma atitude otimista, realista,
com esperança, com determinação, com capacidade de adaptação, com serenidade e
com sentido da realização do potencial de transformação.
Seguramente, não um otimismo santificado, ingénuo e “cor-de-rosa”, porque
este pode levar ao desespero, na medida em que o mundo, indiscutivelmente, não
é fácil, nem imutável e, muito menos, girando à volta de cada pessoa, de cada
interesse. O mundo tem “esquinas muito pontiagudas”, “espinhos venenosos”, e
“alçapões sem fundo”, por isso é importante ter-se em atenção esta e outras
realidades.
A estratégia para a Paz passa, portanto, pelo otimismo racional,
realista, com emoção, sentimento e entusiasmo e, nesse sentido: «Não nos detenhamos na imagem Épinal
(Épinal é uma cidade situada no nordeste da França, capital do departamento de Vosges, na região Lorena. A cidade é atravessada pelo rio Mosela. Épinal é a cidade de nascimento de Émile Durkheim e de Marcel Mauss) do otimismo
beato. Por trás desse cliché de que gostamos de troçar esconde-se um grande
número de qualidades: a esperança, a determinação, a faculdade de adaptação, a
lucidez, a serenidade e a força de caráter, o pragmatismo, a coragem e até a
audácia, outras tantas qualidades que se encontra no soukha, a verdadeira
felicidade». (RICARD, 2003:180).
Está identificado, a
partir da determinação pessoa, o rumo a seguir para se chegar ao bom porto da Paz.
Um rumo que será estimulante de se seguir, desde já com a força da solidariedade
entre todas as pessoas de boa-vontade, porque, afinal, a solidariedade dever
ser: «Entendida como sentimento de
fraternidade, de adesão, de felicidade e de compreensão que nos impele a
cuidar, apoiar e animar mutuamente, é uma força natural que incute confiança,
segurança, esperança e fomenta uma perspectiva mais comunitária do mundo menos
individualista.» (MARCOS, 2011-122). Sim, a Paz é possível, assim a
queiramos todos unidos. Mãos à obra e Paz para todos.
Bibliografia
BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já
Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um
Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa.
Cascais: Pergaminho.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz.
Cascais : Pergaminho
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da
Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.
RICARD, Matthieu,
(2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho,
Ldª.
O Presidente
da Direção da ARPCA,
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo