Decorreu, em 1983, o centenário do nascimento de
António Sérgio, (1883-1969). No dia 10 de
Junho, desse ano, foi condecorado, a título póstumo. Na ocasião foi denominado
como ensaísta, crítico e filósofo.
Mas seria de facto, António Sérgio, um filósofo? O
seu pensamento será genuinamente original ou apenas uma boa teoria, assente
numa boa construção eclética? E terá a sua Filosofia algum sentido? Certamente
que para alguns autores, Sérgio não será um filósofo, pois não teria construído
qualquer sistema; outros, porém, reconhecem-lhe características filosóficas, se
se considerar o ecletismo como uma corrente do pensamento reflexivo.
De facto, referencia-se António Sérgio como um
grande admirador e, por que não, um seguidor, de alguns temas, dos mais
notáveis racionalistas e iluminados estrangeiros, sem descurar o clássico e
antigo Platão, passando para a Idade Média com Santo Agostinho, S. Tomas e na
Idade Moderna com Descartes, Espinosa, Kant. Possivelmente, tantas e tão
importantes influências, não lhe permitiram elaborar e sistematizar, de forma
estruturada, uma teoria filosófica sobre o mundo e sobre o homem, o que, apesar
disso, não lhe retira o mérito noutras áreas.
Tem sido referido, ao longo da História do
Pensamento, que os problemas fundamentais da Filosofia são, em qualquer época,
muito semelhantes. Abordar tais problemas, situações e temas implica um
repensar retrospetivo. Neste particular, diz-se que António Sérgio não foge à
reflexão sobre a problematicidade dos assuntos, anteriormente analisados por
outros pensadores. Talvez resida aqui uma grande dignidade a par da sua atitude
humilde.
Sabendo ele que o filósofo não é, somente, um homem
ilustrado e pensador, mas antes de mais, uma pessoa que repensa a Filosofia.
Assumindo atitudes radicais quanto tais se justificam. Postura crítica e
problemática, de tal sorte que, qualquer que seja a questão, esta possa
continuar aberta a toda a discussão e suscetível de opiniões e soluções
diferentes.
Considere-se, então, António Sérgio, um filósofo,
talvez diferente daquele conceito em que por vezes se interiorizou, ou seja, no
sentido especulativo, que nada resolve e tudo questiona.
Aceite-se entender António Sérgio como um filósofo
da ação, porque a sua filosofia será, primeiramente, uma teoria do
conhecimento, uma epistemologia, um pragmatismo, estimulando o progresso em
ordem a beneficiar a comunidade: quer o bem material, quer a emancipação
económica, eram simples instrumentos do bem moral, a partir, justamente, da
emancipação moral, da pedagogia do ser humano, o qual, deveria ser ativo e
culto, numa sociedade modificada.
António Sérgio agia porque pensava. A ação
articulava-se com o seu pensamento, no sentido de contribuir para a formação do
homem, precisamente, a partir de uma educação cívica que proporcionasse à
sociedade uma vida de respeito e cumprimento de valores, de princípios, de
direitos e deveres humanos. É assim que ação e pensamento adquirem um carácter
ético.
Além de racionalista, Sérgio é também um idealista,
embora reconhecendo que o racionalismo clássico é abstracto, porque os seus
defensores negam a possibilidade de o homem se fazer a si mesmo, através de
atos de liberdade absoluta.
O seu racionalismo, não impedia de idealizar
projectos concretos, porque, segundo ele: «A inteligência como eu a concebo,
não minora a tal realidade: inteleccionar ao que me tem parecido, é perceber o
real, o concreto, o particular.» (SÉRGIO, 1976:205).
É com esta simples e primeira reflexão que se parte
para a abordagem do caso exemplar de António Sérgio, analisando a sua obra
sobre educação cívica, afinal tão necessária para melhor se entender a
importância de certos valores: estudo, educação, trabalho. Assim podem-se
cumprir e fazer respeitar os direitos humanos, hoje – 2013.
Bibliografia
SÉRGIO, António, (1976). Obras Completas: Ensaios, 2ª edição, Tomo I, Lisboa: Sá da
Costa.
O Presidente
da Direção da ARPCA,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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