A capacidade
do ser humano para o bem e para o mal é inesgotável. Atualmente atravessam-se
tempos extremamente difíceis. As incertezas são muitas. As soluções defendidas
pelas diversas teorias não param de se desenvolver e, entretanto, vai-se
caminhando para um certo abismo económico-social. Esta secunda década do novo
século notabiliza-se por uma crescente desigualdade entre as pessoas.
Próximos
do meio da secunda década do século XXI, governantes e políticos discutem as
suas teses, chegando-se ao limite do absurdo que consiste em retirar direitos
adquiridos, alguns dos quais conseguidos em regimes ditatoriais. Parece um
pesadelo, mas de facto e infelizmente é a realidade que bate à porte de todos,
mas que faz sofrer de forma atroz os mais carenciados. O ano de 2013 já ficou
na história como sendo aquele em que os pobres ficaram paupérrimos e os ricos
continuam com o melhor que a vida sempre lhes proporcionou.
Ao longo
dos ciclos governativos, a alternância do poder, num regime democrático, é uma
característica que cria novas expectativas, na medida em que várias e
aliciantes são as promessas feitas por aqueles que pretendem chegar ao Poder.
Será uma situação
para se concordar, ou não, segundo a qual: «(…)
não tome nada por adquirido e não acredite em tudo o que lhe dizem. (…).
Reconheça a impermanência, o sofrimento e a ausência de ego ao nível do
quotidiano e seja inquisitivo a respeito das suas reacções. Descubra por si
mesmo a paz e se é ou não verdade que a nossa situação fundamental é alegre.» (CHODROM,
2007:87).
A vida
difícil que está a atingir a classe mais desfavorecida não permite, de facto,
acreditar naqueles que criaram expectativas, que venderam ilusões e que agora
são os primeiros a levantar a espada da injustiça.
É claro
que não se pode atribuir, em absoluto, culpas a um só e determinado sistema
governativo e muito menos a uma pessoa. É toda uma conjuntura mundial que
afecta as populações, mas também é verdade que tal conjuntura se poderá ficar a
dever a grandes grupos económico-financeiros, através da agiotagem e da
especulação.
É verdade
que se derrubam regimes ditatoriais, porque não cumprem, minimamente, os
direitos humanos, fazem-se opções a favor ou contra determinadas situações
políticas, grupos pacifistas e terroristas. Tomam-se medidas para combater a
transacção de determinados produtos como a droga, armas, etc.
Há que
fazer muito mais, no sentido de identificar e punir todos aqueles que criam
crises mundiais, que, fraudulentamente, enviam para o desemprego milhões de
trabalhadores em todo o mundo. Esta é uma verdadeira guerra que rapidamente
urge ganhar sob pena de uma explosão social.
Compreender
as razões que levaram pessoas e grupos a determinadas atitudes, por vezes é
difícil se, como se sabe, a existência humana é muito curta, não chega, sequer,
para se desfrutar de tudo o que se acumulou, com a agravante de que os
potenciais herdeiros, poderão não valorizar, verdadeiramente, o que foi
angariado e, pior ainda, quando tais impérios patrimoniais foram adquiridos por
vias ilegais, ilegítimas e injustas, à conta da exploração das pessoas. São
absurdos e como tal não têm explicação compatível com a dignidade humana.
O mundo,
aqui representado na sua população, não é igual para todos porque,
infelizmente, a capacidade do ser humano tem-se orientado para o mal,
designadamente nas suas dimensões sociais e culturais, sim, porque também se
trata de uma cultura de apoio aos mais desfavorecidos, de uma cultura de
redistribuição das riquezas naturais e produzidas, de uma cultura de
solidariedade.
A cultura
que envolve valores sociais não está verdadeiramente nítida nos Estados e nos
Governos. Fala-se, apenas, em Estado Social mas é, justamente, nos benefícios
sociais que mais se corta quando é preciso reduzir despesas. Não existe,
nitidamente, uma preocupação social, precisamente, porque é uma classe sem
força, aquela que mais precisa de tais benefícios. São os mais fracos a
suportarem as injustiças.
Apesar de
tantas e tão difíceis situações que atormentam a humanidade, sempre haverá uma
janela, ainda que entre-aberta, para a esperança, em melhores tempos, porque é
necessário acreditar na capacidade de resolução, na boa-vontade e determinação
dos governantes, das novas gerações para, humildemente, assumirem os erros atuais
e resolverem as situações sociais mais deprimentes.
Acredita-se
nas potencialidades dos jovens e também não se descura algum receio na tomada
de certas decisões. Dir-se-ia que esperança e receio podem andar de mãos dadas,
porque o futuro é sempre incerto em quaisquer circunstâncias.
Na
verdade: «A raça humana é extremamente
previsível. Um pequeno pensamento surge, entra numa escalada e, sem que
tenhamos a noção do que nos atingiu, vemo-nos apanhados pela esperança e pelo
medo.» (Ibid.::70).
A
situação mundial já era no final da primeira década (2010) deste novo século)
muito complexa, repleta de incertezas, de medos quanto ao futuro: como vai
evoluir o emprego/desemprego? Como vão sobreviver os reformados com pensões
exíguas? Haverá dinheiro para, não só aumentar, como também pagar tais pensões?
E a saúde, com a necessária assistência médica e medicamentosa, que caminho irá
tomar? A educação e formação profissional manter-se-ão com objetivos de
melhorar a escolaridade e o profissionalismo da população? Enfim, é todo um
conjunto de questões que atormentam os cidadãos, que se preocupam com o futuro.
Ao ser
humano, enquanto pessoa de direitos e deveres, não se lhe pode exigir, quase
permanentemente, que cumpra deveres, principalmente fiscais, não se lhe
oferecendo nada em troca, nem sequer a garantia de um futuro tranquilo, uma
qualidade de vida que lhe é devida, depois de um longo período de contribuições,
porque é no fim da linha da vida que mais precisa de apoio em todos os aspetos.
Começou-se
a verificar que, incompreensivelmente, estava a acontecer o contrário em
2010-2011 e, comprova-se agora, que a situação para as maiorias mais
carenciadas, em nada melhorou. Os governantes devem ter uma consciência social,
mais do que uma preocupação com um qualquer deficite orçamental, com metas, com
mercados. As pessoas não são números e estão primeiro.
As crises
não se vencem contra as pessoas, muito menos contra aqueles que se encontram
mais vulneráveis, em situações-limite, de quase sobrevivência vegetativa. As
crises vencem-se com a solidariedade de quem tem poderes decisórios, meios e
vontade de ajudar. As crises vencem-se com austeridade, sobriedade e
responsabilidade social, abdicando de privilégios que a esmagadora maioria da
população não tem. Por isso se acredita nos jovens, na sua generosidade e na
ausência de vícios egoístas e materialistas.
Importa,
nesta reflexão, destacar-se a esperança que as novas gerações podem trazer à
resolução dos problemas que atingem o mundo. Com efeito, a fatura que eles têm
de pagar, por culpa dos erros cometidos pelos seus antepassados, será
suficiente para não prosseguirem idênticas práticas. Além da sua própria
formação que, indiscutivelmente, será bem melhor, desde logo em vários domínios
culturais, técnicos, científicos, axiológicos e profissionais.
A
participação dos jovens, integrados em equipas de colegas maduros e
experientes, todos dotados de valores essenciais à dignidade humana, pode ser a
chave para o sucesso na resolução das crises que, periodicamente, atingem
populações inteiras. Não se deve recear a inovação dos jovens como estes não
devem depreciar a sabedoria dos mais velhos. É necessário escolher os melhores,
aqueles que, de facto, se preocupam com o bem-comum.
Certamente
que os mais velhos têm sempre uma palavra neste processo de saída das crises
como devem ter no relacionamento com os mais jovens. Na verdade: «O ser social tradicional respeita naturalmente
os mais velhos e aspira a conformar-se com as maneiras de ser e de agir transmitidas
pelas gerações. Não se esforça de modo algum por ser singular. Tem a impressão
de fazer parte de um corpo social do qual não poderá afastar-se sem perder a
razão de ser. A noção de pessoa, tal como a entendemos hoje em dia, não faz
parte do seu universo.» (ANGERS, 2003:68).
Cabe,
portanto, aos jovens esta humildade de saber escutar os mais velhos e estes têm
a obrigação de compreenderem as dificuldades daqueles, sem se imporem com
sabedorias, experiências e maturidades que, nem sempre, correspondem à verdade.
Humildade de ambas as partes é a chave do sucesso.
Bibliografia
ANGERS, Maurice, (2003). A
Sociologia e o Conhecimento de Si. Uma outra maneira de nos conhecermos graças
à Sociologia. Trad. Maria Carvalho.
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis.
Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
O Presidente da Direção,
Diamantino Lourenço Rodrigues de
Bártolo
http://sites.google.com/site/arpcaminha
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