A sociedade, considerada nas suas diferentes
dimensões: política, religiosa, económica, financeira, empresarial,
territorial, cultural, lazer e laboral, entre outras, seguramente que não
estaria organizada, hierarquizada e estratificada como hoje a conhecemos e
analisamos, se não fosse o esforço permanente do ser humano, no estudo,
planificação, aplicação de técnicas e tecnologias e avanço progressivo e
sustentável, para a melhoria contínua da qualidade de vida das pessoas.
Sensivelmente que cerca de metade de todas as
pessoas, que constituem a sociedade humana organizada, desenvolve uma atividade
produtiva, colaborando, assim, para o desenvolvimento do todo, tendo por
obrigação apoiar aquela faixa etária que já deu o seu contributo, bem como
preparar os mais jovens para, mais tarde, eles assumirem as diferentes funções
que são necessárias, a fim de que haja uma progressão sustentável do bem-comum
e que, igualmente, a felicidade, na sua vertente de satisfação de bem-estar material
e espiritual, seja uma realidade.
Será, praticamente, impossível, conceber uma
sociedade organizada, em permanente desenvolvimento, sem o contributo daquelas
pessoas que exercem funções em diferentes áreas de atividade: da saúde à
educação; do trabalho à formação; da política à religião; da cultura ao lazer;
da economia à finança; do empreendedorismo ao investimento; entre muitos outros
domínios contributivos para o bem-estar e conforto das populações.
Os “Dias Nacionais”, “Internacionais” e
“Mundiais”, a propósito de um qualquer evento, sucedem-se, diariamente. O “Primeiro de Maio”, por exemplo, está
consagrado ao Trabalhador, qualquer que seja a sua atividade e, acrescenta-se,
do ponto de vista do autor, independentemente de estatuto académico-profissional,
na medida em que, quem se dedica a uma laboração, sempre acaba por produzir
alguma coisa que, mais ou menos, interessa à sociedade de consumo.
E se as instituições, proprietários, empresários e
líderes são necessários, assim como os recursos técnicos, tecnológicos,
financeiros e infraestruturais diversos, igualmente é verdade que o capital
humano se torna imprescindível, por mais máquinas que se inventem e utilizem,
porque a inteligência das pessoas é insubstituível e o trabalho por elas
realizado é, seguramente, indispensável.
A sociedade mundial laboral, em geral; e a
comunidade portuguesa, em particular, vivem um período conturbado, porque os
níveis de desemprego atingem percentuais muito elevados, colocando em causa:
não só a estabilidade económico-financeira das famílias; como também a
consolidação da autonomia e dignidade que devem assistir a toda a pessoa,
verdadeiramente humana.
Por outro lado, ainda se verificam situações
inaceitavelmente degradantes para muitos milhões de trabalhadores, em todo o
mundo, desde logo a começar naqueles que, para escaparem ao desemprego, à fome,
à miséria e, no limite, ao suicídio, se vêm obrigados a emigrar, sendo, em
muitos casos, mal recebidos, mal tratados e, alguns deles, expatriados.
É evidente que a responsabilidade por estas
situações de desemprego, que muitas vezes conduzem à desgraça de famílias
inteiras, pode ser repartida, quem sabe, em três quotas-partes: a muitos
Governos, que deveriam ter melhores políticas sociais de emprego, devidamente
sustentáveis; a algumas Empresas que apenas buscam, gananciosamente, lucros
exorbitantes, sem olhar a meios, despedindo pessoal, que é substituído por
máquinas; finalmente, muitos dos próprios potenciais Trabalhadores que, em
muitos casos, não querem trabalhar, embora tenham saúde e capacidades físicas,
psicológicas, intelectuais e profissionais, não o fazendo porque,
eventualmente, estarão a receber subsídios sociais.
Neste “Dia Mundial do Trabalhador”, é oportuno que
as entidades responsáveis proporcionem à sua população desempregada,
independentemente da idade, habilitações e profissão, as condições necessárias
e suficientes para que o trabalho seja uma realidade que valoriza e dignifica a
pessoa humana, ainda que através de ocupações ao nível da melhoria das habilitações
literárias e formação.
Em Portugal têm sido criados milhares de postos de
trabalho, é verdade, principalmente no setor privado. Também a emigração de
portugueses tem contribuído para uma redução do desemprego, ainda que
relativamente baixa. Mas, em bom rigor, ninguém pode negar que foram eliminados
milhares de empregos: quer no setor público; quer na atividade empresarial
privada.
A criação de algumas micro e pequenas empresas tem
ajudado a reduzir o impacto negativo, que este flagelo do desemprego tem
provocado na população portuguesa, com destaque para os jovens, onde a taxa de
desocupados é altíssima, não obstante as elevadas qualificações académicas e
científicas que possuem.
Apesar de alguma alegada evolução, parcial e
timidamente animadora, a verdade é que o próprio Estado não tem respeitado os
trabalhadores do seu próprio país (como igualmente os imigrantes que nos
procuram) e, a título meramente ilustrativo, analise-se o que se verificou em
dois mil e doze, com o despedimento de dezenas de milhares de formadores,
técnicos de educação, assistentes administrativos, coordenadores pedagógicos e
gestores de formação, que vinham trabalhando, desde há vários anos, no projeto
“Novas Oportunidades”, Cursos de Educação e Formação de Adultos e Jovens, Formações
Modulares. A esmagadora maioria daqueles profissionais, nunca mais voltaram ao
mercado de trabalho.
A decisão governamental de dois mil e doze,
atingiu, também, centenas de milhares de portugueses, que tinham na
Qualificação Académica e Profissional a oportunidade para melhorarem as suas
condições de empregabilidade, de prosseguirem, com sucesso, as suas carreiras
profissionais, concorrerem a novos empregos, elevarem a sua autoestima, a
dignidade e prestígio para Portugal, resultando que a esmagadora maioria destas
pessoas, não conseguiram entrar no mundo do trabalho: seja por falta de
habilitações; seja por carência de formação.
Idênticas medidas gravosas têm-se verificado
noutros setores: na educação, são aos milhares os professores que ficaram sem
colocação e estão na situação de desemprego; na Segurança Social; em muitas
empresas privadas; enfim, uma verdadeira destruição de postos de trabalho, tudo
em nome de uma injusta e desnecessária “austeridade”, nos moldes em que foi
realizada, retirando direitos adquiridos ao longo de uma vida de trabalho.
No setor privado, juntamente com o público e
empresarial do Estado e na maioria das Autarquias Locais, o desemprego também
“disparou” em flecha, chegando a atingir um valor superior a dezassete por
cento, valor que é inadmissível e extremamente injusto, (registe-se, aqui e
agora, algumas exceções a nível de Câmaras Municipais, em que Caminha, é um bom
exemplo, já em dois mil e catorze/quinze, se verificou um aumento substancial
de postos de trabalho).
Nenhum país, nenhuma empresa podem abdicar da sua
mão-de-obra que, no caso português, é cada vez mais qualificada, das melhores
do mundo, porém, tão subaproveitada que, inclusivamente, já foi aconselhada a
emigrar, depois do país, através dos seus contribuintes, ter investido, e bem,
milhões de euros na formação dos seus jovens e de milhares de adultos.
Celebrar, em Portugal, o “Dia do Trabalhador”,
pode parecer um absurdo, uma encenação do “faz
de conta que tudo está muito bem”, todavia, os nossos trabalhadores que:
estão no desemprego, às centenas de milhares; outras centenas de milhares que
não recebem qualquer apoio social; outras tantas centenas de milhares que viram
muitos dos seus direitos, entretanto adquiridos, alguns deles no tempo da
ditadura, serem-lhes retirados; enfim, sem se querer ser pessimista, temos de
ser realistas, esta é que é verdade que temos de debater neste dia tão
propalado, como em todos os restantes dias do ano.
O “Primeiro de Maio” de dois mil e quinze, vai ser
celebrado pelos trabalhadores, pelos seus representantes, certamente, com as
mais diversas manifestações, com críticas às políticas governamentais, mas
também com discursos oficiais do Poder Instituído, estes a roçarem a eventual
demagogia das campanhas eleitorais, em que tudo se promete e, no dia seguinte à
tomada de posse, tudo se nega, tudo se confunde, tudo se “baralha” para “dar de
novo”, daí a quatro anos.
Neste “Dia do Trabalhador”, assuma-se, apesar de
tudo, uma atitude construtiva, de esperança, de renovação, de credibilização
das políticas sociais, económicas, financeiras, da saúde, da justiça, da
educação e da formação, porque quanto mais instruído for um povo, mais
produtivos e responsáveis serão os seus trabalhadores, que apenas e tão só,
desejam trabalhar, com segurança, com futuro, para eles, para os seus filhos e,
se possível, ainda poderem apoiar os seus progenitores, hoje, a maior parte
deles aposentados, substancialmente despojados dos direitos que, ao longo de
uma vida de trabalho e sacrifícios, conseguiram.
Neste “Dia do Trabalhador”, que se “cantem” hinos
ao respeito por quem trabalha, porque tem está desempregado, por quem já
trabalhou, por quem teve de (i)-emigrar. Que se celebre com pompa e
circunstância, sim senhor, a Dignidade do Trabalhador, do Reformado, do
Desempregado e do (I)-Emigrante, das mulheres e homens que, com a força do seu
trabalho, constroem, ainda com alguma Esperança um país mais Justo e Humanista.
O Presidente da Direção,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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