Refletir sobre a “Idade da Vida”, pode parecer um
exercício simples, a partir da ideia, segundo a qual, ela estará inserta em
vários documentos pessoais e não só: nasceu no dia tal, de um determinado ano
e, fazendo as contas até ao presente, obtém-se uma idade, dita cronológica e
que hoje em dia corresponderá à verdade, todavia, haverá uma diferença
substancial entre quem vive intensamente e diversificadamente e quem se deixa
comandar por um certo comodismo rotineiro, monótono e, praticamente,
inalterável, dia-após-dia.
Habitual e oficialmente,
a idade que é aceite consta de um documento de identificação que, por vezes,
nomeadamente para efeitos de empregabilidade, e não só, prejudica quem tem uma
idade cronológica certificada mais avançada, independentemente das condições
físicas, psicológicas e intelectuais, sabendo-se que, designadamente, por
exemplo, em Portugal, quem tem quarenta ou mais anos de idade já é considerado
velho para trabalhar e muito novo para se reformar, resultando daqui, uma
inqualificável discriminação negativa, para as pessoas naquelas circunstâncias.
A sociedade também está
estratificada por idades. A pirâmide etária da população contempla: crianças,
jovens, adultos e idosos, sendo que um país poderá ser tanto mais promissor e
sustentável, quanto a sua elevada taxa de natalidade e, portanto, uma pirâmide
com uma base alargada, assegura uma demografia em crescimento, em vários
contextos de abordagem: equilíbrio entre quem “chega ao mundo” e quem está
prestes a “partir”; tentativa de adaptação entre gerações; melhores condições
de vida para os mais velhos, se os mais novos tiverem por eles um mínimo de
respeito e consideração, de resto, como se costuma dizer: “o mundo é das
crianças e dos jovens”, aliás: «A vida é
tanto mais longa quanto maior for o coeficiente de bem-estar material e
espiritual que possamos dar à existência do velho» (FARIA, 1973:20).
Por outro lado, a idade
biológica também é um outro elemento muito importante na vida de cada pessoa, e
determinante quanto ao envelhecimento, porque existe uma diferença entre as
duas idades: cronológica e biológica, a saber: «A
idade cronológica está relacionada simplesmente ao tempo de vida que uma pessoa
possui. Já a biológica está relacionada ao envelhecimento das células que, por
sua vez, está diretamente ligado aos hábitos e qualidade de vida. E essa idade
biológica poderá ser corrompida por fatores evitáveis que interferem na idade
cronológica e causam o desequilíbrio» (in http://rspress.com.br/health4life/idade-cronologica-x-idade-biologica/
em
05.08.2015).
Preconceituosamente, pauta-se a existência humana
entre dois extremos: os jovens e os idosos, intermediando entre eles o que vulgarmente
se designa por adultos, aqueles que estão ou pretendem ingressar no mundo do
trabalho, desenvolver uma atividade profissional, e depois atingirem uma idade
que lhes permita viver sem trabalhar, através da atribuição de uma reforma,
pelos anos de descontos para um sistema de segurança social.
Com alguma frequência, observa-se haver um certo
desfasamento entre os mais velhos e os mais novos, talvez porque determinados
princípios, valores e sentimentos não foram incutidos logo à nascença e pela
vida fora. Com efeito: «O que em verdade
se verifica é a incompreensão, a intolerância, para não dizer mesmo a falta de
solidariedade, dos mais moços, em relação aos mais velhos, esquecendo-se que a
juventude passa depressa e que amanhã entrarão também no outono da vida, aptos
portanto a receberem o mesmo menosprezo e o mesmo apodo da geração que os
antecedem.» (Ibid.:76).
Na perspectiva da possibilidade de colaboração
efetiva à sociedade, a vida, realmente, não terá idade, não se compreendendo as
razões porque a partir de certas idades são dificultadas a prestação de
determinadas tarefas, e a continuação do exercício de funções desempenhadas ao
longo de uma carreira profissional. Mentalidades que defendem estas e outras
posições, contra o aproveitamento de conhecimentos, experiências e sabedoria
dos idosos, de facto em nada contribuem para uma sociedade mais justa e
desenvolvida.
É sabido que: «O
velho quando está em condições de colaborar com o governo não sabe como viver.
Fecham-lhe todas as portas, impossibilitando-o assim de prestar serviços e de
ser útil à comunidade, quando ainda se sente apto para o trabalho. Cria-se
desse modo o preconceito de que só os moços têm direito à vida ativa e que os
velhos devem ser marginalizados. Os que não podem portanto tirar partido de
suas próprias iniciativas, não encontram os meios de subsistência necessários
nos diversos setores de atividade humana.» (Ibid.:85).
A indiferença com que a sociedade em geral, e os
governantes e empregadores em particular, têm manifestado pelas pessoas mais
idosas revela-se, precisamente, desde logo, no acesso aos meios de
subsistência: seja para ampliar eventuais rendimentos; seja para adquirir o
mínimo indispensável para viver com dignidade.
Reunidas determinadas condições, realmente a vida não
pode ter idade, e se se pretende uma sociedade mais justa, mais competitiva,
economicamente mais saudável, não se compreende como é possível a um país,
dar-se ao luxo de dispensar mão-de-obra qualificada, experiente, responsável e
sábia. Esta situação leva-nos a pensar que poderá haver uma gestão inadequada
dos recursos humanos, até porque: “Ser
idoso não significa ser doente ou inválido; assim como ser jovem não é
forçosamente sinônimo de saúde”.
E se em algumas profissões, nomeadamente a nível
da medicina, os médicos reformados podem continuar a trabalhar, sem corte nas
pensões e auferindo mais um determinado complemento, então os mesmos critérios
deveriam ser aplicados a outras profissões e atividades, porque de contrário
estamos perante uma discriminação negativa, em que uns são portugueses de
primeira; outros de segunda ou terceira categorias e, a ser assim, é
inqualificável tal situação.
A vida não tem idade. A vida tem melhores ou
piores condições para que ela proporcione as possibilidades, ou não,
respetivamente, para que as pessoas possam continuar a trabalhar, a serem úteis
à sociedade, ao bem-comum e não é afastando da vida ativa tais pessoas que a
situação económica, a qualidade de vida e a sustentabilidade das instituições
se conseguem.
Naturalmente que não se está a defender, nesta
reflexão, que as pessoas se mantenham a trabalhar toda a vida, mas sim: a)
enquanto tiverem saúde; b) assim o desejem; c) depois de atingirem um tempo
mínimo para passarem à reforma, não necessariamente pelo método cumulativo, mas
apenas quando atingir uma das condições: ou idade, ou tempo de serviço, ou
tempo de descontos.
A partir daqui o sistema político governamental,
empresários e empregadores, devem continuar a ter ao seu serviço pessoas que,
apresentando-se em boas condições físicas, psicológicas e intelectuais, como já
foi referido, queiram continuar a dar o seu melhor, porque uma política com
estas características só traz benefícios para todas as partes: trabalhadores,
Estado, Empregadores e a Sociedade.
A Vida não tem idade: «Ninguém envelhece enquanto não perde o interesse pela vida, enquanto o
espírito não se sente envelhecido, enquanto o coração não se torna frio e
indiferente. A arte de envelhecer é viver sem se sentir velho. É nos sentirmos
ativos e seguros diante da vida» (Marden, in FARIA, 1973:108).
E se é possível medir o tempo cronologicamente, ao
ponto de se poder definir qual a idade de uma pessoa ou de um acontecimento, a
partir de um momento de referência, por exemplo: no que respeita à era d.C. (depois
de Cristo) e, no nosso caso, afirmar-se que estamos no ano de 2015, outro tanto
não se pode aceitar em relação à idade biológica que depende do estado de
envelhecimento dos órgãos e células do corpo humano. Por outro lado o tempo dos
sentimentos, das emoções, do sofrimento e do prazer é diferente de umas
situações para outras.
Quando vivemos em sofrimento, o tempo parece que
não “corre”, dizemos que é uma “eternidade”; mas se se viver uma situação
inversa, de prazer e alegria, então o tempo “passa” rapidamente, e nem sequer
damos por essa velocidade. De igual forma, quando desejamos muito alguma coisa
boa, o tempo como que para, o que não acontece quando pressentimos que algo de
mal está para acontecer, por isso também dizemos que o tempo é “psicológico”.
Evidentemente que não é possível ignorarmos certas
situações de falta de saúde, em função das idades cronológica e também
biológica. Com efeito, algumas doenças, muito típicas, surgem com mais
frequência nas idades relativamente avançadas, enquanto que na maioria dos
jovens e adultos, o que ocorre com mais assiduidade são os acidentes,
podendo-se afirmar que: «Quando um velho
está satisfeito com a vida, quando encontra prazer em viver, quando sente
alegria em seu ambiente, a idade não existe. Muitos velhos felizes se
surpreendem quando ouvem pela primeira vez alguém os chamar “de velho”. Até
então nunca haviam pensado nisso.» (FARIA, 1973:162).
Seguramente que a realidade está patente ao nosso
conhecimento, e se numa perspectiva espiritual, principalmente para os crentes,
a vida não tem idade, a verdade é que todos sabemos que a vida física tem um
princípio e um fim, é mais longa para umas pessoas, mais curta para outras ,e
também se sabe que: «Uma vida longa não
repousa apenas nos alicerces físicos do corpo, mas também na defesa da nossa
mente, do nosso espírito. Não se pode alimentar o corpo quando o espírito
trabalha mal.» (Ibid.:184).
Aceitando, portanto, a dualidade da vida: física e
espiritual, é possível assumir uma posição consensual, segundo a qual, existe
um limite para vida física e, provavelmente, uma eternidade, não quantificável,
para a vida espiritual. Além disso, a partir do estado de espírito das pessoas,
das suas atividades, também se pode afirmar que a vida não tem idade, embora,
cronologicamente, a idade possa constar de documentos oficiais e,
biologicamente, a degradação dos órgãos e células apontem para mais idade.
Bibliografia.
FARIA, Carlos Coelho de, (1973). A Vida não tem idade. Uma
experiência a serviço da Gerontologia Social. 2ª Ed. São Paulo: Departamento de
Geriatria D. Pedro II da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paula e
Editora Bisordi. Ltdª.
O Presidente da Direção,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
925 935 946