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domingo, 30 de dezembro de 2012

Construir a Paz


Regra geral: toda a pessoa, verdadeiramente humana; as famílias; as instituições; as comunidades; as sociedades; os povos; as nações de todo o mundo perseguem objetivos, desejam alcançá-los e consolidá-los para viverem com a maior estabilidade possível, com qualidade de vida, com tranquilidade, na maior felicidade exequível, enfim, com Paz.
Na verdade, o Papa Paulo VI, em sua primeira mensagem para o dia de Ano Novo, dizia: «Dirigimo-nos a todos os homens de boa vontade, para os exortar a celebrar o Dia da Paz, em todo o mundo, no primeiro dia do ano civil, 1 de Janeiro de 1968. Desejaríamos que depois, cada ano, esta celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da história no futuro.» (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_da_Paz, consultado em 25.11.2012).
Muitos são os valores que acompanham a existência humana, ainda que as culturas, histórias, civilizações tenham, e pratiquem, os valores que consideram próprios de cada povo. Praticamente, é impossível conseguir adaptar-se valores e as respetivas boas-práticas, comuns a todas as pessoas e embora se deseje acreditar que haverá valores que toda a gente gostaria de possuir e usufruir plenamente, como por exemplo: saúde, trabalho, família, solidariedade, justiça, felicidade e Paz, o certo é que não é seguro que assim seja.
A Paz não é apenas e/ou necessariamente a ausência de guerra. Ela envolve por si só outros valores, outras práticas, de tal forma que se não existirem e não forem fruídos, então a Paz será, tão só, uma condição em que se vive, mas que não traz à pessoa humana, a tranquilidade para viver feliz, com entusiasmo, dinamismo e projetos de vida. A Paz, no conceito de ausência de guerra, é muito pouco. A Paz tem de comportar outras exigências, dimensões e realizações para que contribua para a dignidade humana.
É rigorosamente verdade que o mundo é um aglomerado de seres, de fenómenos, de mistérios. O ser humano é, porventura, no campo do que já é conhecido, o mais evoluído de todos, aquele que verdadeiramente constrói, desenvolve e desfruta de uma cultura, desde logo, na sua própria educação, formação ao longo de toda a vida, sem que alguma vez se sinta plenamente realizado, feliz, todavia, poderá encontra alguma tranquilidade, uma sensação de bem-estar, de conforto material e espiritual.
Se assim for, então, parta-se da aceitação de que a Paz deve começar em cada pessoa e depois, qual vento circulante, expandir-se para as outras pessoas, cada uma destas, igualmente se esforçando por construir a sua própria Paz, continuando a envolver sempre mais pessoas, povos e nações. Resulta que a grande estratégia será a soma das Pazes individuais para se erigir a Paz mundial, porque é necessário o contributo de todos, em liberdade e com responsabilidade.
Com efeito: «A Paz é a prática da consciência plena, a prática de estar ciente dos nossos próprios pensamentos, das nossas ações e das consequências das nossas ações. A consciência plena é simultaneamente simples e profunda. Quando somos plenamente conscientes e cultivamos a compaixão da nossa vida diária, diminuímos a violência a cada dia que passa. Temos um efeito positivo na nossa família, nos amigos e na sociedade» (HANH, 2003:11).
Este valor inestimável, procurado pela esmagadora maioria das pessoas, povos e nações, encontra sempre imensos obstáculos, porque a Paz tem de começar a existir no espírito de cada indivíduo, é ele que tudo deve fazer para “contaminar” os outros, qual bola de neve.
Enquanto não forem erradicados objetivos individuais de puro egoísmo, do poder-pelo-poder, de domínio arrogante, prepotente, ditatorial e desumano; enquanto predominar o ter sobre o ser; a perseguição sobre a reconciliação; a vingança sobre o perdão; a hipocrisia sobre a lealdade; a ambiguidade sobre a solidariedade, a Paz é, praticamente, uma utopia.
Claro que toda a utopia, mais tarde ou mais cedo, ao longo da história da humanidade, pode-se tornar realidade, tudo dependendo da determinação de cada pessoa em “lutar” pela sua própria Paz e ajudar os seus semelhantes a conquistar e praticar este supremo bem.
É fundamental que se tenha a coragem e também a humildade de se autoavaliar, reconhecer que se errou e corrigir tudo o que intencionalmente, ou não, foi realizado para prejudicar outras pessoas, para humilhar, desconsiderar, magoar e desgostar. Enquanto esta situação perdurar em cada pessoa, ela não terá Paz consigo própria, logo, não está em condições de contribuir para uma verdadeira Paz alargada a toda a gente.
Portanto, é condição “sine qua non” que se comece por avaliar o grau de culpabilidade na ausência da Paz individual porque: «A verdadeira culpa é o remorso que sentimos quando magoamos aqueles que amamos; ela nos faz ter vontade de corrigir as coisas no nosso relacionamento com os outros. A falsa culpa é o medo da punção que está mais ligada à necessidade de nos protegermos depois que fazemos algo errado. A falsa culpa raramente beneficia o nosso relacionamento com os outros. Na verdade, ela em geral nos prejudica e nos torna pessoas de convivência mais difícil.» (BAKER, 2005:79).
Comemora-se mais uma efeméride relativa ao “Dia Mundial da Paz”, no início de cada ano, mais concretamente, no dia 01 de Janeiro, dia de Ano Novo. Os apelos à Paz vêm de todos os quadrantes: religiosos, políticos, económicos, empresariais. Considera-se, então, naquele dia, a Paz como um desígnio universal a alcançar e consolidar.
As promessas de tudo se fazer, a partir das mais altas instâncias, nacionais e internacionais, são uma atitude que se deve aplaudir e, com mais veemência, quando depois se concretizam no terreno. Mas a Paz que se deseja para todos, será que existe em cada pessoa anónima e nas que fazem os apelos mais lancinantes, para que ela se concretize?
A realidade é bem diferente porque: «Todos nós sonhamos com uma vida melhor, uma sociedade melhor. Contudo, tornou-se difícil passar um dia que seja sem nos desiludirmos, sem nos sentirmos desapontados, sem nos sentirmos sugados pelas pessoas mesquinhas e egoístas que nos rodeiam. Parece que uma grande maioria das pessoas só está interessada nos seus ganhos pessoais. Tornaram-se rudes e arrogantes, críticas e insensíveis. As suas acções não só nos deprimem, como também nos fazem sentir que não podemos fazer nada para mudar este estado de coisas e que apenas os que estão no poder têm capacidade de fazer a diferença.» (BRIAN, 2000:138).
Seguramente que a Paz é um bem supremo, um valor, um desígnio, enfim, eventualmente, o bem último a que o ser humano aspira e que persegue, incessantemente, até nas expressões mais simples como: “Deixem-me em Paz” se confirma este desejo universal. Mas a Paz é um objetivo difícil de alcançar, não necessariamente porque o ser humano não tenha inteligência e meios para dela se aproximar, mas porque os conflitos internos em cada pessoa estão sempre latentes.
Evidentemente que nenhuma das posições individuais – pessimismo – otimismo – quando exageradas poderá conduzir, com segurança, à Paz mas, provavelmente, um otimismo moderado, realista, racional e também com um pouco de sentimento e emoção, ajuda imenso, pelo menos a acreditar, a ter fé na possibilidade da Paz, com todos os outros valores e oportunidades que ela proporciona no mundo.
A Paz interior, sempre em construção, sempre a melhorar, sempre a dar mais felicidade a quem por ela “luta”, será o rumo a seguir, objetivo a alcançar. Para o efeito aponta-se, de facto, uma atitude otimista, realista, com esperança, com determinação, com capacidade de adaptação, com serenidade e com sentido da realização do potencial de transformação.
Seguramente, não um otimismo santificado, ingénuo e “cor-de-rosa”, porque este pode levar ao desespero, na medida em que o mundo, indiscutivelmente, não é fácil, nem imutável e, muito menos, girando à volta de cada pessoa, de cada interesse. O mundo tem “esquinas muito pontiagudas”, “espinhos venenosos”, e “alçapões sem fundo”, por isso é importante ter-se em atenção esta e outras realidades.
A estratégia para a Paz passa, portanto, pelo otimismo racional, realista, com emoção, sentimento e entusiasmo e, nesse sentido: «Não nos detenhamos na imagem Épinal (Épinal é uma cidade situada no nordeste da França, capital do departamento de Vosges, na região Lorena. A cidade é atravessada pelo rio Mosela. Épinal é a cidade de nascimento de Émile Durkheim e de Marcel Mauss) do otimismo beato. Por trás desse cliché de que gostamos de troçar esconde-se um grande número de qualidades: a esperança, a determinação, a faculdade de adaptação, a lucidez, a serenidade e a força de caráter, o pragmatismo, a coragem e até a audácia, outras tantas qualidades que se encontra no soukha, a verdadeira felicidade». (RICARD, 2003:180).
Está identificado, a partir da determinação pessoa, o rumo a seguir para se chegar ao bom porto da Paz. Um rumo que será estimulante de se seguir, desde já com a força da solidariedade entre todas as pessoas de boa-vontade, porque, afinal, a solidariedade dever ser: «Entendida como sentimento de fraternidade, de adesão, de felicidade e de compreensão que nos impele a cuidar, apoiar e animar mutuamente, é uma força natural que incute confiança, segurança, esperança e fomenta uma perspectiva mais comunitária do mundo menos individualista.» (MARCOS, 2011-122). Sim, a Paz é possível, assim a queiramos todos unidos. Mãos à obra e Paz para todos.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª.

O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal: Renovar a Esperança


Vivenciar, com a dignidade que enobrece a pessoa humana, um período tão especial como este que agora se atravessa, correspondente à quadra Natalícia, é a renovação de um acontecimento que, ano após ano, se repete e que culmina em dois dias de profundo significado para as famílias: o dia de Ceia e o dia de Natal. Cada um com o seu simbolismo, intenso, emocional e místico, porque a sensibilidade para os valores da família fica mais exposta e também mais vulnerável.
A vida humana é curta, demasiado rápida, para que se perca tempo com atividades, comportamentos, interesses e situações que apenas revelam grande falta de sensibilidade e de boas-práticas, no exercício dos valores fundamentais da dignidade da pessoa, que se deseja verdadeiramente humana.
Com efeito: «Viemos cá para estarmos em comunhão, para aprendermos sobre o amor com outros seres humanos que estão no mesmo caminho que nós, que aprendem as mesmas lições. O amor não é um processo intelectual. É sim uma energia dinâmica que entra em nós e flui todo o tempo através de nós, estejamos nós conscientes desse facto ou não. O fundamental é aprendermos a receber amor, assim como a dá-lo. Só podemos compreender a energia envolvente do amor na comunhão com os outros, nas relações, no serviço» (BRIAN, 2000:64).
O aproveitamento deste período para camuflar sentimentos mesquinhos, cínicos e impostores, trocando-os, hipocritamente, durante alguns dias, por aqueles que se deveriam sentir, manifestar e praticar, ao longo do ano inteiro, alegadamente para se “levar a vida”, constitui uma atitude inaceitável e mesmo reprovável, imprópria da superior dimensão de todo o ser humano.
O período natalício deverá compor-se por trezentos e sessenta e cinco dias e, na vivência de cada um deles, o Natal será sempre um dia diferente, renovado, melhorado e que conduza à interiorização e prática de sentimentos puros, do bem, que não se compram, não se negoceiam por qualquer forma, simplesmente se retribuem com a mesma nobreza, desde logo, com amor. Este fortíssimo e insubstituível sentimento, no pressuposto de verdadeiro, incondicional e diariamente reiterado, vencerá todas as barreiras e transportará a humanidade à vitória final: Saúde, Trabalho, Amizade, Paz e Felicidade.
Em cada Natal sempre se promete a reconciliação para, decorridos poucos dias, tudo voltar à mesma situação e poucas serão as pessoas que realmente mudam de atitudes. É certo que o ser humano é fraco, defeituoso e instável, todavia, também é verdade que a força espiritual da pessoa também vence barreiras.
Mas o Natal é, igualmente, um dia especial, principalmente quando  utilizado na reflexão profunda sobre o passado vivido, o presente fugaz e um futuro que se deseja de dignidade e consolidação dos valores mais nobres de toda a pessoa humana, bem formada: «O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga sua consciência sobre seus próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia (…) se fez aos outros tudo o que desejava que os outros fizessem por ele (…). Tem fé em Deus, em sua bondade, em sua justiça e em sua sabedoria (…). Tem fé no futuro; por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.» (KARDEC, 2010:332).
Assumir o Natal como o primeiro dia do resto da vida, é uma atitude inicial que a partir de agora deve preocupar toda a pessoa. Um primordial dia de solidariedade para com queles que são vítimas de alguma injustiça ou situação; um primeiro dia de amizade, desde já numa dimensão de verdadeiro e sincero “Amor-de-Amigo”, onde cada um dos amigos é parte integrante do outro amigo: nas alegrias como nas tristezas; no sucesso como no fracasso; afinal como duas almas gémeas que se amam; um primeiro dia para o início de uma lealdade sem limites, à prova de qualquer tentação de destruição ou de traição; um primeiro dia de manifestação de gratidão por tudo quanto nos tem sido oferecido, com sinceridade e amizade; um primeiro dia pra a reconciliação de pessoas em geral, dos amigos em particular.
Este tempo festivo, que secularmente se designa por “Quadra Natalícia” deverá ser aproveitado para se fazer um balanço de relacionamentos passados, analisar onde é que se cometeram erros e porquê, em que circunstâncias se praticaram injustiças, incorreções e ingratidões para com aquelas pessoas que sempre estiveram do nosso lado que, incondicionalmente, gostam de nós, nos apoiam em tudo o que lhes é possível, que connosco se solidarizam quando somos humilhados e injustiçados. Pessoas que são como um “Porto Seguro”.
Este é o tempo de fazermos justiça, de nos reconciliarmos com aqueles que, injustamente, maltratamos que, ostensivamente desprezamos que, mais ou menos sub-repticiamente, lhes mostramos e, contra eles praticamos a indiferença, mesmo sabendo e recebendo carinho, respeito, consideração e até um sincero “Amor-de-Amigo”. Este é o tempo de nos arrependermos, de pedirmos perdão àqueles que ofendemos e nos quais provocamos grandes sofrimentos e desgostos.
A dimensão sentimental da pessoa, verdadeiramente humana é, porventura, uma das suas maiores riquezas. O valor do sentimento nobre e puro, que engrandece e respeita, não só quem o possui, mas também quem o recebe, é o fundamento para quem, sinceramente se gosta. O sentimento da amizade é uma dimensão humana que, realmente, poderá ser difícil para quem vive num mundo de aparências, de fingimento, de falsidade, do faz-de-conta.
Os sentimentos verdadeiros, puros, incondicionais, certamente que provocam alegrias e tristezas, dor, sofrimento, desgostos, mas também muita felicidade quando vividos com solidariedade, com amizade, com lealdade, reciprocidade, estima, carinho e respeito, até porque: «A conexão entre duas pessoas só é plenamente exercida quando a intimidade é vivida pela expressão clara dos sentimentos (…). Como Jesus previu, é preciso pureza de coração para construir um relacionamento feliz.» (BAKER, 2001:130).
Esta caraterística inimitável e infalsificável que existe em todos os seres humanos, ou seja, os sentimentos, constitui o núcleo mais intenso que, de alguma forma, comanda a vida. Claro que os sentimentos envolvem, com maior ou menor intensidade, emoções, reações, conflitos e decisões. No sentimento do amor, inclusive ao nível do “Amor-de-Amigo”, ele será tanto mais genuíno, quanto é acompanhado por um outro que não sendo doentio, é a prova da pureza daquele.
Na verdade: «O ciúme é um sentimento inato com um papel importantíssimo na preservação das relações amorosas e do qual ninguém escapa. Mas o ciúme tem muitas formas e pode até ser um elemento de felicidade, na vida do casal.» (TORRALBA, 2010-orelha da contracapa)
Natal é tempo para tudo de bom que se deseja fazer. É tempo para refletir sobre o passado, tentar descobrir as razões porque correram mal certos projetos, porque se chegou a determinadas situações. É tempo para reparar, para reconstruir, para agradecer, para perdoar, para retomar um novo caminho, lutar por uma nova esperança, de contrário: «Quando nos apegamos às nossas opiniões com agressividade, por mais válida que seja a nossa causa, estamos pura e simplesmente a acrescentar mais agressividade ao planeta, e a violência e a dor aumentam. Cultivar a não-agressão é cultivar a paz.» (CHODRON, 1997:141)
Este é o tempo de se criar uma paz genuína entre as pessoas, famílias, vizinhos, comunidades, povos e nações. Hoje, mais do que nunca, face às inúmeras e, possivelmente prolongadas dificuldades, de natureza económica, política, social e axiológica, é indispensável assumir a paz como um desígnio universal, porque: «A verdadeira paz é sempre possível. No entanto requer força e prática, particularmente em tempo de grandes dificuldades. Para alguns a paz e a não-violência são sinónimos de passividade e de fraqueza. Na verdade, praticar a paz e a não-violência estão longe de ser uma atitude passiva. Praticar a paz, fazer a paz viver dentro de nós, é cultivar ativamente a compreensão, o amor e a compaixão, mesmo em situações de confusão e conflito.» (HANH, 2004:8).
Tempo de Natal e da família, no contexto da reunião à volta da mesa da Ceia da Consoada. Dia do nascimento de Jesus Cristo, segundo algumas doutrinas. Dia de alegria para umas pessoas, pelo convívio, pela reaproximação; mas também de tristeza e de saudade para aquelas que perderam ou estão longe dos seus entes queridos que tanto amam.
Dia para amigos desencontrados se compatibilizarem, se amarem como já se amaram no passado, num sincero e inigualável “Amor-de-Amigo”. Dia para se perdoar os erros e se mostrar solidariedade, amizade, lealdade, reciprocidade, confiança, estima, carinho, respeito e comunhão de valores, sentimentos e objetivos comuns. Dia para recuperar alguma felicidade perdida. Dia para fazer as pazes entre amigos que tanto se gostavam e que por influências ou medos se afastaram.
Neste dia de Natal, tão especial para esmagadora maioria das pessoas, a mensagem que se deseja transmitir, vai no sentido da renovação da esperança, em todas as suas dimensões. Esperança na solidariedade entre nações, povos, famílias e amigos. Esperança na (re) conquista e consolidação da amizade. Esperança nas boas-práticas dos valores da solidariedade, da amizade, da lealdade, da humildade, da gratidão, da cumplicidade e da reciprocidade. Esperança na melhoria das condições de vida para todas as pessoas, onde o trabalho digno, reconhecido, valorizado e estável, garanta um futuro de qualidade. Esperança num mundo de paz, no qual a felicidade seja o denominador comum a todas as pessoas, famílias, povos e nações. Esperança na consolidação da dignidade devida a toda a pessoa humana. Esperança numa nova Esperança de vida; finalmente, Esperança na proteção Divina, para que Deus nunca deixe de amparar a humanidade. Estes são os desejos, totalmente sinceros, do autor desta breve reflexão, que os propaga a todas as pessoas, sem exceções. Feliz Natal. Bom Ano Novo.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho
KARDEC, Allan, (2010). O Evangelho Segundo o Espiritismo: contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação nas diversas situações da vida. Trad. de Albertina Escudeiro Sêco. 4ª Edição. Algés/Portugal: Verdade e Luz – Editora e Distribuidora Espírita.
TORRABLDA, Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Trad. António Manuel Venda. Lisboa: Guerra e Paz, Editores S.A., in, MARAZZSITI, Donatella. “E Viveram felizes e Ciumentos para Sempre”)

O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

 

 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Direitos Humanos: O Que São?


A partir das descrições já efectuadas nesta reflexão, torna-se claro que, eventualmente, tão importante como muitos dos conhecimentos científicos, tecnologias sofisticadas, inventos diversos, para diferentes finalidades, é a consciencialização de que existem conhecimentos e práticas fundamentais, para que tudo o resto se desenvolva, concretamente, valores, direitos e deveres, que constituem um paradigma fortíssimo, para uma vida humana quase perfeita. Tal paradigma denomina-se por Direitos Humanos, independentemente do conceito que se possa adoptar.
Pode-se considerar que no seu todo, o conjunto dos Direitos Humanos é, hoje, um dos paradigmas essenciais à Paz e Felicidade mundiais. Passaram-se séculos sobre séculos, com regimes políticos, religiões, filosofias, estratégias, metodologias e finalidades diversas, todavia, o principal objectivo ainda não foi alcançado, na generalidade dos povos de todo o mundo, precisamente porque os Direitos Humanos, na sua globalidade, ainda não estão a ser integralmente respeitados.
A situação de persistente e reiterada violação de tais direitos deve-se, talvez em grande parte, à ainda muito pouca educação/formação e sensibilização para este domínio da vida humana, pelo menos em muitos países, apesar de alguns destes se dizerem cumpridores dos preceitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Até há poucas décadas atrás, os investimentos neste tipo de conhecimentos e práticas, tinham permanecido no esquecimento e/ou ignorância intencionais. É uma matéria incómoda para quem não valoriza esta dimensão humana e beneficia, materialmente, com a sua violação, porque: “Os Direitos Humanos são fundamentos da liberdade, da justiça e da paz. O seu respeito permite a realização plena do indivíduo e da comunidade. O desenvolvimento dos Direitos Humanos tem as suas raízes na luta mundial pela liberdade, pela igualdade de todos os homens. As bases dos Direitos Humanos – tal como o respeito pela vida e dignidade humanas – podem ser encontradas na maioria das religiões e filosofias.” (AMNISTIA INTERNACIONAL, 1997: 2)
Modernamente, vem sendo hábito classificar os Direitos Humanos por gerações. Adoptando-se a taxionomia proposta e respectiva terminologia, pode-se agrupar os Direitos Humanos em:
1) Primeira Geração: compreende a Liberdade nas suas várias vertentes, nomeadamente: liberdade de circulação, liberdade de consciência e de expressão, respeito pela personalidade, direito de propriedade. Os Direitos Humanos de primeira geração apresentam-se com uma característica comum, pois tratam de liberdades que são reivindicadas ao Estado, com o objectivo de preservar para o indivíduo um espaço de liberdade, onde o Estado não se deve imiscuir;
2) Segunda Geração: situa-se nos denominados direitos económicos, sociais e culturais, designadamente os direitos: à saúde, à educação, ao trabalho, à segurança social, a um nível de vida decente. Para que possam ter a mesma importância ou estatuto que se atribuem aos de primeira geração, então é necessário exigir ao Estado as contrapartidas ou prestações adequadas, tais como: a construção de hospitais, medicina gratuita, escolas e professores em número e qualidade suficientes, intervenção do Estado na vida económica, despesas sociais pagas pelos impostos dos contribuintes. Perante esta geração de direitos, impõe-se um Estado-Providência, ao contrário dos direitos de primeira geração em que se aceita um Estado-Mínimo, que se limite a garantir e proteger as liberdades;
3) Terceira Geração: Direitos, eventualmente, um pouco vagos e/ou subjectivos, como: o direito à paz, ao meio-ambiente protegido, ao desenvolvimento harmonioso das culturas, entre todos os outros que não cabem nas gerações anteriores, mas que, contemporaneamente, se vêm reivindicando, por força de novas e confortáveis necessidades, muitas destas, estimuladas por potentes técnicas publicitárias.
A violação dos Direitos Humanos, quando verificada e inequivocamente comprovada, tem sido objecto de condenações genéricas, sem grande força jurídica e eficácia, no sentido de sancionar os prevaricadores e, em certos países, nem é permitido falar em violação de Direitos Humanos e, outros há, que muito velada e diplomaticamente, proferem alguma crítica, porque, infelizmente, outros interesses e valores estratégico-materiais se sobrepõem.
Valorizam-se, modernamente, determinados conhecimentos práticos, resultados objectivos, traduzidos em números, que culminam sempre em cifrões. Abordar o tema “Direitos Humanos” em alguns currículos e em determinados períodos, pode significar, para os seus defensores, algumas situações próximas da indiferença, da exclusão e possível repressão, embora noutros meios se verifique o contrário, isto é, adesão e apoio a esta causa tão altruísta quanto justa.
Apesar das diversas e intencionais dificuldades na implementação de uma praxis para os Direitos Humanos, eles existem para serem cumpridos escrupulosamente e assumem-se como: «Prerrogativas concedidas ao indivíduo, tidas de tal modo essenciais que toda a autoridade política (e todo o poder em geral) teria a obrigação de garantir o seu respeito: os direitos do homem constituem as protecções mínimas que permitem ao indivíduo viver uma vida digna desse nome, defendido das usurpações do arbítrio estatal (ou outro); são, por conseguinte uma espécie de espaço sagrado, intransponível, traçam à volta do indivíduo uma esfera privada e inviolável.» (HAARSCHER, 1993: 13)

Bibliografia

AMNISTIA INTERNACIONAL – Secção Portuguesa, (s.d). Declaração Universal dos Direitos do Homem, Lisboa
HAARSCHER, Guy, (1993). A Filosofia dos Direitos do Homem. Tradução Armando F. Silva. Lisboa: Instituto Piaget.

O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

ARPCA - Feliz Aniversário


No dia 24 de Novembro de 2009, um grupo de “Jovens-Seniores”, muito corajoso e altruísta, decidiu que era tempo de se unirem por uma causa filantrópica (amor à humanidade, ainda que, na circunstância, uma humanidade restrita à condição social das pessoas envolvidas e das que, posteriormente viriam e vierem a aderir). Naquela data foi constituída, oficial e legalmente a ARPCA – Associação de Reformados e Pensionistas de Caminha, conforme consta da escritura notarial para o efeito celebrada. Obrigado
Festejamos, portanto, o terceiro aniversário, com muito orgulho, com muita alegria, mas também com muita humildade e espírito de bem servir a Associação e todas as pessoas que: quer na qualidade de associadas; quer enquanto colaboradoras e beneméritas, têm servido esta instituição, com inegável espírito de dedicação, ternura e amizade mútuas. Obrigado
Cabe aqui e agora refletir nas dificuldades que, logo à partida, os seus distintos fundadores tiveram para erigir uma Associação tão complexa, quanto necessária, considerando a riqueza das suas vidas, das suas experiências, da sabedoria e prudência que cada pessoa comporta em si mesma.
É extremamente difícil a alguém envolver-se, graciosamente, em organizações que, à partida, poderão, na perspetiva de muito “Boa Gente”, não trazer quaisquer benefícios materiais, se possível, logo no curto prazo, nem influências sociais, ou de outra natureza, na sociedade. Exercer determinadas atividades apenas pelo denominado “Amor-à-Camisola” é uma atitude que nem todas as pessoas estão disponíveis para o efeito.
O associativismo gracioso que, afinal, não é assim muito diferente do voluntariado, pressupõe caraterísticas pessoais muito singulares, exige algumas qualidades indispensáveis para o bom exercício das funções, que cada associado vier a assumir.
Desde logo, alguma disponibilidade de tempo, empenho, lealdade, solidariedade, camaradagem, honestidade, profissionalismo (hoje, as exigências da sociedade e o rigor da legislação, não se compadecem com amadorismos), compreensão, tolerância e espírito de entre-ajuda. Pelo menos estes valores e condutas são muito importantes.
Mas as dificuldades em fundar e, imediatamente, assumir funções nos respetivos órgãos sociais da Associação, na circunstância, a ARPCA, são naturalmente acrescidas, porque parte-se do “zero”, sem quaisquer recursos financeiros, técnicos e infraestruturais. Valeu, neste caso concreto, a riqueza, a generosidade e a determinação dos recursos humanos, logo disponíveis e consubstanciados nos seus fundadores que, rapidamente, se transformaram em dirigentes.
A este grupo de 15 (QUINZE) magníficas pessoas, os atuais membros dos Corpos Sociais, manifestam, publicamente, o seu agradecimento e louvam a grandeza do trabalho daqueles “jovens Seniores”, bem como a coragem que então manifestaram, assim como àquelas/es associadas/os que integraram os primeiros corpos sociais. Obrigado.
Nesta breve reflexão, obviamente que outras entidades: públicas, privadas e pessoas individualmente consideradas, foram preponderantes: quer no arranque da Associação; quer depois, ao longo destes últimos três anos, sem as quais a nossa Associação, certamente, teria tido muitas mais dificuldades e, porventura, não usufruiria das belíssimas instalações que hoje servem os associados, e que são: O Centro de Convívios de Argela e o Centro Administrativo de Caminha. Obrigado
Por isso é da mais elementar justiça que se manifeste público agradecimento à Câmara Municipal de Caminha, pelo protocolo realizado com a Associação, para efeitos de utilização da ex-escola primária de Argela, onde funciona o nosso Centro de Convívios, mobiliário diverso, bem como a comparticipação nas despesas de funcionamento.
Também no que respeita à disponibilidade para os seus dirigentes nos ajudarem em permanência, assim como na participação de eventos públicos, como foi o da Feira Medieval deste ano e ainda ­ com a presença, sempre bem-vinda, de algum representante do Município, por ocasião dos nossos convívios. Obrigado.
Igualmente uma palavra de muita gratidão à Junta de Freguesia de Argela que, dentro das suas possibilidades, tem contribuído para o asseio exterior do recinto das instalações e também com a presença sempre agradável, dos seus membros, nos nossos eventos. Obrigado.
Queremos, naturalmente, deixar o nosso agradecimento à Junta de Freguesia de Caminha pela belíssima sala que nos cedeu, a um preço de aluguer que é apenas simbólico, dadas as condições e a localização de que dispõe. É o nosso Centro Administrativo. Obrigado.
Recordamos, ainda, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Caminha, pelo apoio que nos primeiros tempos nos foi dado, para a realização das nossas Assembleias Gerais e acolhimento, sempre generoso, de alguns pedidos que lhe eram dirigidos. Obrigado.
Outras Entidades e Organizações nos ajudaram a realizar alguns projetos que consideramos de grande importância, desde logo a escolarização dos Associados que assim o desejaram, através do Centro de Novas Oportunidades da GABIGERH – Vila Nova de Cerveira. Ao serviço deste projeto esteve uma vasta equipa de técnicos da GABIGERH. Cinco associadas conseguiram melhorar a sua escolaridade, perante a presença de um júri de certificação, que para o efeito se deslocou às nossas instalações em Argela. Obrigado.
O apoio informático na atualização do nosso site, tem sido um trabalho desenvolvido por um especialista nesta área, que muito tem contribuído para a divulgação das nossas atividades a nível internacional, o que constitui uma mais-valia que muito prestigia a nossa associação. Obrigado
Recordamos, ainda, a disponibilidade manifestada por um formador da Gabigerh, para ministrar formação gratuita, no domínio das Tecnologias da Informação e Comunicação – curso de iniciação à informática -, não se tendo realizado porque, entretanto, ocorreu o encerramento dos Centros de Novas Oportunidades. Obrigado.
Através de uma associada, foi feita a tentativa de se trazer a escola de dança para a Associação. Nesse sentido deslocaram-se às nossas instalações os diretores da “Jadança - Academia de Dança” que, graciosamente, fizeram uma demonstração e informaram as condições para a escola funcionar. Por dificuldades diversas, o projeto não avançou. Obrigado
Desejamos enaltecer, com muita simpatia, a pronta aceitação do convite que formulamos ao Revº Pároco de Argela para, pela primeira vez, nos trazer a Visita Pascal às nossas instalações de Argela e proceder à bênção das mesmas. Foi um momento muito alto, de intenso simbolismo e de grande respeito, que nos dignificou na nossa dimensão religiosa. Obrigado.
Também uma palavra de grande apreço pelo equipamento que nos foi oferecido pela TENSAI, cuja necessidade era evidente e que veio colmatar a nossa insuficiência na preservação de artigos deterioráveis. Obrigado.
Da Casa de Repouso do Bom Jesus dos Mareantes de Caminha foi-nos oferecido um conjunto de louça que vem em muito boa ocasião. A esta benemérita instituição, aqui fica o nosso Obrigado.
Uma palavra de apreço pelo acompanhamento que nos tem sido feito pelos Órgãos de Comunicação Social locais que, ao longo destes anos, muito têm contribuído para a divulgação da nossa Associação, bem como das atividades que se vão realizando. Obrigado
Muitas foram as instituições, organizações e pessoas: umas, associadas; outras, ainda não, que nos fizeram diversas ofertas, quer de equipamentos, quer de louças, quer de artigos de artesanato, quer comestíveis por ocasião dos nossos convívios, oferta de serviços especializados no âmbito da saúde, trabalhos de manutenção e arranjo das instalações, confeção das inigualáveis iguarias que foram sendo servidas nos convívios. A todas as pessoas que, generosa e graciosamente, ajudaram a nossa Associação, Obrigado
Para as/os nossas/os estimadas/os associadas/os vai, com muito carinho e amizade, uma sentida saudação de profunda gratidão, por tudo quanto têm feito pela Associação, pela disponibilidade que, cada uma e cada um têm manifestado, sem nunca exigirem nada em troca. Associativismo é isto mesmo: Dádiva, Abertura, Solidariedade, Amizade, Lealdade, Tolerância, Compreensão, Respeito, Camaradagem, Comunhão de Objetivos, União, Tranquilidade e Felicidade. Bem Hajam.

O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Globalização da Inclusão


O fenómeno da exclusão, qualquer que seja a sua natureza e dimensão, manifesta-se no comportamento individual dos cidadãos excluídos. Terá origem nas políticas aprovadas e postas em vigor pelos governantes e decisores e ainda nas práticas discriminatórias de uma diversidade de dirigentes e indivíduos anónimos. Eventualmente, também, ainda que em menor número, por aqueles que se auto-excluem. As consequências da exclusão serão, igualmente, diversas e podem incluir aspectos económicos, profissionais, políticos, religiosos, culturais, entre outros.
A exclusão tácita, sub-reptícia e ilegal, além de imoral e condenável, é imposta ao cidadão sem que, na maioria das situações, ele se possa defender e lutar pelos seus direitos, de plena inclusão na sociedade, e até no mundo em que vive.
A pessoa sente-se excluída, afastada, ignorada e, quantas vezes, humilhada, sem saber o porquê de tal situação e quando procura investigar, informar-se e manifestar a sua indignação, não é atendido com a urgência e eficácia que a situação exige, nem oficial nem tecnicamente, por nenhum responsável que lhe possa valer, contribuindo para a resolução da situação e ajudando-o a integrar-se na sociedade.
A exclusão social, assim genericamente considerada por muitos altos dignitários políticos, religiosos e técnicos, das diversas áreas da sociedade organizada, abrange inúmeras pessoas em todo o mundo, sendo difícil apontar taxas percentuais, porquanto faltam critérios objetivos para definir exclusão, se se atender às suas múltiplas naturezas; além de que, um cidadão pode considerar-se excluído de uma determinada religião, mas integrado numa outra; excluído de um certo estatuto sócio-profissional, mas incluído num outro estatuto sócio-económico e assim sucessivamente.
Abordar, portanto, a exclusão social no sentido de uma situação marginalizante que prejudica a dignidade da pessoa humana, desde logo no exercício dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres, contrapondo-lhe, como solução e, tal como é defendido pelos mais distintos representantes da comunidade, medidas de inclusão, será o objetivo desta reflexão.
Atualmente, e muito em concreto em Portugal, milhares de cidadãos com mais de 40/45 anos de idade, são, profissionalmente, excluídos da sua actividade principal, a partir do momento em que, por razões alheias às suas vontades, passam a uma situação de desemprego.
Igualmente, um cidadão na situação de reformado, pode ficar impedido de trabalhar, por conta de outrem, ainda que noutras funções, excepto se optar pela perda de dois terços da reforma ou do novo salário, logo, nestas circunstâncias, passa ao universo dos excluídos, por muita vontade que manifeste em continuar a trabalhar.
Em algumas situações o ingresso na iniciativa privada verifica-se em condições excecionalmente recompensadoras, sob todos os aspectos, sendo exemplo disso mesmo o que nos últimos anos se tem verificado com alguns políticos.
Há, ainda, para alguns, a possibilidade de serem nomeados para elevados cargos internacionais, de natureza humanitária, com altas recompensas e prestígio, provavelmente, sem perda das remunerações de aposentação que legalmente obtiveram nos países de origem. 
A primeira década deste novo século não se iniciou com a perspectiva de profundas e melhores alterações a esta situação, que envolve cada vez um maior número de cidadãos: quer pela via do desemprego; quer pela evolução das tecnologias; quer pelo avanço da idade.
Desempregados e aposentados são, na era dos maiores avanços científicos e tecnológicos, como que duas novas categorias ou classes sociais, porém, vistas pelo lado mais negativo e pessimista, porque nem uns nem outros têm grandes possibilidades de trabalhar, nas suas atividades profissionais e em ocupações que lhes deem prazer, maior realização pessoal e manutenção e/ou aumento dos seus rendimentos, respetivamente.
Neste contexto, em rápida transformação, caberá às políticas sociais, sob orientação estatal, mas também privada, no âmbito da educação e formação, dotar os cidadãos para o prosseguimento de uma vida ativa para a qual se exige formação adequada, como estratégia para situações verdadeiramente desumanas e que «são a consequência imediata da emergência de novos paradigmas sociais, económicos e culturais: aprender sem idade (…); respostas formativas a cinco grandes desafios da nova ordem internacional a saber: interdependência e concorrência global, ritmo de difusão das novas tecnologias, nova organização do trabalho, cidadania ativa, sociedades inclusivas.» (CARNEIRO, 2000: 257).
Uma sociedade universal inclusiva seria o objetivo final da humanidade, a partir das comunidades nacionais. Trata-se de um desafio hercúleo, que urge enfrentar e vencer, que não é impossível mas se reconhece extremamente difícil por causa dos egoísmos individuais, grupais e de comunidades mais alargadas. Mas cada um, no exercício de uma cidadania ativa, tem o dever de contribuir para aquele desígnio universal: construção de uma sociedade inclusiva ou, mais eficazmente, globalização da inclusão.

Bibliografia
 
CARNEIRO, Maria Rosário, (2000). Família: Elemento Basilar do Tecido Social, in Nova Cidadania, S. João do Estoril: Principia, Publicações Universitárias e Científicas, (5), Julho/Setembro, p. 7-9.
CARNEIRO, Roberto, (Coord.). (2000). Aprender e Trabalhar no Século XXI. Tendências e Desafios. Lisboa: Ministério do Trabalho e da Solidariedade/Direcção-Geral do Emprego e Formação Profissional.

O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Homem: Espiritual e Material


É reconfortante ter a capacidade de acreditar que existe mais mundo, para além do mundo físico, na circunstância, o universo dos planetas, astros e outros corpos celestes e, concretamente, o planeta Terra que o homem habita, desde tempos que não consegue localizar e quantificar objetivamente.
A possibilidade, sempre em aberto, para os que acreditam num mundo metafísico, pelo menos diferente daquele que, parcialmente, se conhece em perspetivar uma forma de existência, sobrenatural, inefável, espiritualmente eterna, deve estimular o homem para, enquanto residente na Terra, assumir-se como um ser excecional, dotado de características únicas e superiormente privilegiado, porque algo lhe foi acrescentado, que o distingue, o eleva e dignifica, acima de quaisquer outros seres, pelo menos, tanto quanto é possível conhecer-se, no atual estádio de desenvolvimento da humanidade. O homem, na sua dimensão espiritual, continua a ser um mistério.
O homem (aqui e de ora em diante referido à humanidade, isto é, homem e mulher), um ser inigualável, único, irrepetível, infalsificável, superior, não deve contentar-se, apenas, com as explicações científicas, técnicas e esotéricas, sobre a sua constituição e importância material no planeta em que vive.
Existe mais homem para além do homem físico, biologicamente estudado e conhecido. Há uma outra realidade que as ciências, a técnica e a maquinaria ainda não conseguiram explicar pela linguagem científica, rigorosa e objectiva. Este é o grande drama do cientista, do técnico, do especialista, do político, do religioso, enfim, de toda a humanidade.
A incerteza, o drama, a ansiedade e o mistério que envolvem o ser humano, poderão ser utilizados numa perspectiva positiva, sem receios de quaisquer fracassos, sejam estes quais forem: sociais, cognitivos, éticos, religiosos ou outros. Bem pelo contrário, há uma possibilidade do homem eliminar este sofrimento, provocado pela ignorância acerca do sentido e destino para a sua vida, globalmente considerada, onde se completam as dimensões física e espiritual.
E se quanto à primeira, o conhecimento do seu destino e fim – morte e desaparecimento -, são relativamente conhecidos; no que à espiritualidade se refere, aqui, para os positivistas, materialistas, agnósticos e outros descrentes, as dificuldades em reflectir e aceitar alguns sinais divino-naturais são, praticamente, insuperáveis.
A desorientação que tanto incomoda a humanidade em geral, e os cientistas e técnicos em particular, pode ser ultrapassada se se vencerem certos complexos quanto ao valor de outros conhecimentos, sentimentos e emoções que, estes sim, o homem, ao longo da sua vida, vai vivenciando, relacionando-os, depois, com factos concretos, experimentados durante o percurso material no planeta que lhe foi dado para viver.
O próprio homem, objetivo, mensurável, racionalista, quantitativamente rigoroso, concreto e material, confirma que, em algum momento da sua vida, sentiu ou julgou sentir sensações estranhas, cientificamente inexplicáveis, cuja origem não sabe compreender e as consequências também não foram determinadas, com o rigor da ciência e da técnica. Ficou-lhe, apenas, a verificação da sua incapacidade, da sua impotência para esclarecer e resolver tais situações.
O homem, superiormente iluminado, impulsionado por um outro sentimento, que lhe é exclusivo e constitui um privilégio, vence, finalmente, o drama, a angústia, o sofrimento e a incerteza quando, invocando a ajuda divina, uma sensação de tranquilidade e de esperança o invade e liberta daquele desconforto. É este homem superior, gerado e criado à imagem e semelhança do seu Deus e nos preceitos da sua religião, que se determina em função do ente divino que o justifica.
Aceite-se, então, como proposta de reflexão, a existência deste homem humano, que é pessoa integral, composta pelas dimensões material e espiritual que, fisicamente, está limitado, desde logo, pela própria natureza que o envolve, que não a vence em definitivo, que a aproveita conforme pode e que destruindo-a por um lado, também por ela vai sendo destruído.
Reconhece-se, portanto, a existência deste lado fraco, efémero e mortal do homem. Congregue-se e valorize-se a dimensão espiritual do homem, na sua vida quotidiana, utilizando-se a fé, que pela via espiritual o liga a Deus, de Quem recebe todo o conforto, entusiasmo e vontade para O imitar e prosseguir na caminhada pelo infinito, pelo perpétuo, até encontrar Aquele que o compreende e colabora com toda a natureza: “Longe, portanto, de nos apartarmos do que a fé nos ensina, propomos uma doutrina mais bela, mais grandiosa, mais lógica e racional, que nos dá, por outra parte, uma ideia mais exacta dos atributos de Deus, sobretudo da sua bondade infinita e da sua omnipotência soberana.” (BUJDANDA, 1956: 191).
A humanidade alcançará a Paz e a Felicidade pela fé, pelas boas-práticas religiosas, no diálogo inter-religiões, no respeito pelo Deus universal, através das divindades invocadas por cada povo, por cada cultura, por cada pessoal humana.

Bibliografia

BUJANDA, Jesus, S.J., (1956). A Origem do Homem e da Teologia, Edição Portuguesa, Porto: Livraria Apostolado da Imprensa.


O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Atitude do Espírito Religioso


A supremacia do homem no reino animal em que se integra, num mundo planetário, entre outros mundos, não totalmente conhecidos, revela uma situação privilegiada que nenhum outro ser, pelo menos ao nível dos actuais conhecimentos, dispõe nas mesmas condições, precisamente porque o homem está dotado de capacidades únicas, difíceis de identificar, cientificamente, noutras espécies.
Pensar, construir abstratamente, realizar concretamente, num espaço e num tempo, prever resultados, inovar, vivenciar sentimentos e experiências emocionalmente sentidos em si próprio, com algum conhecimento de causa, projetar-se idealmente no futuro, no tempo e na transcendência espiritual, pela fé e pela crença, mais ou menos profundas, revelam faculdades exclusivas que o orientam e dão sentido à sua vida. Faculdades excecionais que tornam o homem único e superior.
Estas faculdades inatas, específicas do ser humano, como que poderiam ser encimadas pela dimensão religiosa, que, em situações-limite, se revela na maioria dos seres humanos. A visão do mundo planetário e a constituição do universo não estão, suficientemente, explicados. Sente-se a necessidade do recurso à projeção para lá do infinito, no sentido de se encontrar uma explicação para o destino final da vida espiritual de cada pessoa.
A ciência não responde a esta questão, que se torna angustiante quando o homem se aproxima do seu fim físico; a técnica não produziu, ainda, equipamentos, instrumentos, tecnologias e recursos para a componente espiritual se preparar para uma outra existência, seja extra-corpo e/ou intra-outro corpo, pela via de uma possível reintegração (reencarnação) nesse outro novo ser, ao nível da espécie humana.
Que fazer, então, com o espírito humano? Quem, como e quando se trata da preparação do espírito, já que cientifico-tecnicamente não se afigura viável? A resposta parece difícil para muitos daqueles que apenas consideram o materialismo corporal do homem.
Os que não acreditam na componente espiritual, na possibilidade de uma outra existência inefável, imaterial, transcendental e eterna, vão acabar os seus dias, enquanto conscientes, com uma profunda frustração, porque para eles será mesmo o fim.
Como alimentar a componente espiritual poderia ser o problema, não o é, todavia, para os crentes numa outra vida, através das práticas e sentimentos religiosos. Então a religião poderá, entre outras, eventualmente possíveis, ser a solução para uma vida feliz e em paz.
Preparar o espírito humano para uma vida transcendente, num tempo e um espaço que, fisicamente, se ignora, pressupõe sentimentos e atitudes que o ser humano, consciente e crente, sente e pratica pela religião, esta considerada como: “Um sistema de símbolos que funcionam para estabelecer disposições de espírito, fortes, persuasivas e duradouras e motivações nos homens, formulando conceitos de ordem geral da existência e revestindo esses conceitos com uma tal aura de realidade que as disposições de espírito e as motivações parecem mesmo realistas.” (GEETZ, in HOBEL & FROST, 1976:353-53).
A perspectiva antropológica do conceito religião não indica qual o destino do espírito, nem como prepará-lo para uma outra existência extra-corpo físico. Igualmente se verifica quanto ao comportamento do crente, suas atitudes face à divindade em que acredita.
Os valores que, antropologicamente, são considerados característicos das atitudes do crente – submissão e reverência –, em nada diminuem a dignidade da pessoa humana total, integralmente considerada: corpo e espírito, bem pelo contrário, elevam o crente a um estatuto supra técnico-científico e, consequentemente, à sua própria felicidade, tal como a deseja na vida física e para além desta.
A submissão respeitosa, voluntária e sempre disponível para com Deus, constitui uma faculdade que, eventualmente, não está acessível aos não-crentes e, por outro lado, a reverência que é devida aos entes sobrenaturais e divinos, na circunstância, Deus, também em nada diminui a pessoa humana, fisicamente considerada, na medida em que se reverencia o que se respeita, ama e adora, passando esse ente divino a fazer parte da constituição religiosa do ser humano crente e temente.
A tranquilidade que o espírito submisso e reverente para com o Deus em que acredita, proporciona, constitui um excelente processo para se chegar à felicidade e à paz, porque se o espírito não está amargurado, arrependido e triste, porque ele tem a consciência dos deveres cumpridos para com o seu Deus e, por extensão analógica, para com o seu próximo e igual, considerado este criado à imagem e semelhança de Deus, então a felicidade e a paz são possíveis porque, competentemente, se desenvolveram as atitudes adequadas: submissão e reverência, ambas com dignidade e convicção.

Bibliografia
 
HOEBEL E. Adamson e FROST, Everett L. (1995) Antropologia Cultural e Social, Trad. Euclides Carneiro da Silva, 10ª Ed. São Paulo: Cultrix

O Presidente da Direção da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo