Ano após ano, Natal após Natal, a denominada “Festa
da Família” repete-se ao longo dos tempos: com rituais idênticos; votos de
esperança em melhores dias; alegrias que se repetem; nostalgias que se
agudizam; ofertas que se trocam; brindes que se renovam; tudo isto e muito mais
para que o Natal seja, de facto, a festa da união, da paz, da concórdia.
Abordar o Natal numa perspectiva positiva, nos
tempos que correm (2013) não é tarefa fácil, considerando as dificuldades que
atingem todas as pessoas em geral mas, particularmente, as mais desfavorecidas:
económica, financeira e etariamente, sem ignorar, obviamente, aquelas que
sofrem dos diversos tipos de exclusão: social, laboral, educacional,
habitacional, entre outras, porque, ao contrário do que estabelece a Lei
Fundamental Portuguesa: «1. Todos os
cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei» (C.R.P.,
2004:Artº 13º nº 1), na verdade tudo indica que, realmente, não temos a mesma
dignidade enquanto pessoas humanas, sujeitas a deveres e a direitos.
O Natal, apesar da crise em que estamos mergulhados,
pode, e deve, ser assumido como uma data referencial, agora mais do que nunca,
para pensarmos, com muita esperança, num futuro bem melhor para todas as
pessoas, independentemente de estatutos, condição sócio-profissional, política,
cultural, religiosa ou de qualquer outra natureza, porque o direito a uma
melhor qualidade de vida, a um fim de vida tranquilo, são os mínimos exigíveis
para o reconhecimento e vivência da dignidade humana.
Neste ano, tal como nos anteriores, desejo
aproveitar a quadra natalícia para apelar à concórdia, à tolerância, ao perdão,
obviamente sem que isso implique: “apagarmos” dos nossos “corações” as ofensas
de que temos sido vítimas; as desconsiderações de que fomos alvo; a rejeição a
que alguém nos tenha votado; os desgostos que sofremos, a partir de atitudes de
pessoas a quem nós tanto queríamos.
Na verdade, enquanto estivermos lúcidos, é
impossível “branquear” o passado, mas é desejável que queiramos aprender com os
erros, com as injustiças que cometemos contra aquelas pessoas que por nós tudo
dão, generosamente e, sabermos com humildade, pelo menos, pedir desculpa e tudo
fazermos para nos reconciliarmos.
E se por um lado, o ano que agora está prestes a
terminar (2013), em Portugal, tem sido marcado por vários acontecimentos
importantes, com maior ou menor influência na vida das/os portuguesas/es,
sabendo-se que as medidas de austeridade, que atingiram um nível perigosamente
gravoso, raramente sentido, em épocas anteriores, têm vindo a levar pessoas,
famílias, empresas e instituições diversas, incluindo as de solidariedade
social, à depauperização de rendimentos, de património, às falências;
Por outro lado, em contexto de grande crispação, de
confrontos verbalmente violentos, em algumas localidades do país, decorreu o
processo eleitoral para as autárquicas, no qual se destacou, pela negativa, a
fusão injusta, inadequada e infundamentada de centenas de freguesias, cujas
populações ficaram à mercê de eleitos de outras localidades, e com isso
perderam a sua autonomia, a sua dignidade cívica e a própria auto-estima.
Em todo o caso, é tempo de começarmos a viver o
futuro, construirmos o projeto que nos conduza ao sucesso coletivo, assente em
princípios, valores e bons sentimentos, que sejam compagináveis com uma nova
“Ordem Social e Económica”, para que todos nos sintamos verdadeiramente iguais,
atentas as diferenças que, inegavelmente, carateriza cada pessoa em particular.
Para iniciarmos um novo ano, com perspectivas de
vida mais positivas, é necessário assumir que: «A vida é alegria e felicidade em ajudar a construir um mundo melhor e
mais participativo, com equilíbrio e amor. Por isso a ordem é reprogramar o
mundo interior para usufruir da arte de viver e para a reprogramação uma das
melhores ferramentas encontra-se nas técnicas parapsicológicas». (FRANCESCHINI,
1996:67).
Na verdade, a vida passa muito rapidamente. É
essencial termos a consciência de que não vale a pena cogitarmos, desenvolver e
aplicar processos maquiavélicos do tipo “caça-às-bruxas”, apenas para
prejudicarmos, humilharmos e “pisarmos” os nossos semelhantes. O ódio, a
perseguição e a vingança conforme se semeiam, assim se colhem e não são
próprios de pessoas com boa formação e sentimentos nobres.
O Natal, enquanto tempo de reconciliação, de coesão
da família, também dos amigos, deve ser aproveitado no seu sentido mais
altruísta, deixando de lado as preocupações consumistas, as manifestações de
poderio económico, de opulência que, por vezes, até ofendem quem mais precisa,
quem nunca teve sorte na vida, apesar de a procurarem. Nem toda a gente é
ociosa, aliás, a maioria das pessoas quer uma vida digna pelo trabalho.
É claro que não se defende um Natal miserabilista,
um Natal de lamúria, bem pelo contrário, deseja-se um Natal de prosperidade, de
intensa alegria, de fundadas esperanças no futuro. A harmonia entre
prosperidade e otimismo é fundamental para podermos acreditar em nós próprios,
nas nossas capacidades, nos resultados positivos que os nossos projetos nos
podem proporcionar.
Neste Natal, o núcleo central para o nosso sucesso
no futuro é melhorarmos, no que ainda for possível, a nossa auto-estima, sem o
que tudo se tornará mais difícil, na medida em que não seremos capazes de
implementar ideias, empreender, arriscar. Acreditarmos na nossa auto-suficiência
e auto-respeito, constitui uma atitude para o reforço destes dois pilares da
auto-estima.
A quadra natalícia que já se vive intensamente
deverá, portanto, ter como foco muito importante o desenvolvimento, o reforço e
consolidação da auto-estima considerando esta como sendo: «a disposição da pessoa para se vivenciar com alguém competente para
enfrentar os desafios da vida e merecedor da felicidade.» (NATHANIEL
BRANDEN, in CLARET, s.d.:20).
O futuro que neste Natal poderemos imaginar passa
sempre pela felicidade, qualquer que seja a noção que dela se tiver: seja com
bases materiais; seja fundamentada na vivência espiritual; seja considerando
estas duas componentes, o que, salvo melhor opinião, se afigura a mais
apropriada e caraterística da pessoa verdadeiramente humana.
Perspectivar o futuro, com o realismo que a
situação social atual nos apresenta, e com todas as nossas experiências
vividas: umas, boas; outras, menos boas, parece ser o mais adequado, na medida
em que se deve aprofundar o que vivemos de melhor e rejeitar o que foi menos
bom, aprendendo, contudo, com os erros cometidos.
Hoje, já próximo do final do ano de 2013, talvez um
dos últimos anos mais dramáticos para os portugueses, devido a um injusto
conjunto de medidas fiscais, taxas, sobretaxas, cortes salariais e nas pensões
e agravamento das condições de vida, com cerca de vinte e por cento da
população a passar fome, poderia ter-se razões para não se acreditar no futuro
Uma tal atitude não resolveria nada, pelo
contrário, conduziria ao abandono de sonhos, de projetos, de possíveis sucessos,
à depressão e, eventualmente, ao suicídio, por isso, vamos lutar contra todas
as adversidades que nos estão a colocar, e que se reconhece não serem
inevitabilidades, porque outros caminhos seriam possíveis para sairmos da
alegada crise, alegada porque não é sentida da mesma maneira por todas as
pessoas.
Importa, neste Natal, refletir em três estratos da
população, cada vez mais vulneráveis: jovens desempregados que têm de abandonar
o país e a família; adultos, ainda em idade produtiva, sem emprego e sem
perspetivas de voltarem ao mercado de trabalho e idosos que estão a ser expropriados
dos seus mais elementares direitos, adquiridos durante uma longa existência de
trabalho e de contributos, mas que agora, no final das suas vidas, sentem uma
redução drástica nos seus rendimentos, logo na qualidade de vida a que tinham
direito, com toda a dignidade humana.
Por isso, neste Natal, vamos acreditar que seremos
capazes de construir uma sociedade e um futuro mais justos, mais prósperos e
mais solidários. Não podemos ignorar que somos pessoas humanas e que, conforme
começamos esta reflexão: «Todos os
cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei» (C.R.P.,
2004:Artº 13º nº 1), assim a desejamos concluir.
Bibliografia
CLARET,
Martin, (s.d.). O Poder da Auto-Estima. São Paulo: Editora Martin Claret
FRANCESCHINI,
Válter, (1996). Os Caminhos do Sucesso. 2ª Edição, Revista e Ampliada. São
Paulo: Scortecci
ROMÃO,
Cesar, (2000). Fábrica de Gente. Lições de vida e administração com capital
humano. São Paulo: Mandarim.
VIANA,
Marco Aurélio Ferreira, & VELASCO, Sérgio Duarte, (1998). Futuro:
Prepara-se. Cenários e Tendências para um Mundo de Oportunidades. 3ª Edição.
São Paulo: Editora Gente.
O Presidente da ARPCA,
em Exercício,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo