Muito embora a esperança seja, ou deva ser, a
última expectativa a morrer, a verdade, porém, é que nesta Páscoa de dois mil e
catorze, não haverá muitos motivos para nos sentirmos seguros quanto a uma
desejável e legítima estabilidade, em vários domínios da nossa existência e,
enquanto cidadãos de deveres e direito, porque, “tragicamente”, quase todos os
dias somos “aterrorizados” com notícias devastadoras de esperanças que ainda
poderíamos alimentar, quanto a um futuro tranquilo e confortável.
A sociedade portuguesa em geral, e alguns extratos
mais vulneráveis, em particular, continuam a sofrer as consequências de
situações para as quais não contribuíram, nem são responsáveis. Milhões de
pessoas entre funcionários públicos, trabalhadores do setor privado,
reformados, pensionistas, desempregados, imigrantes, sem-abrigo, excluídos,
idosos vivem no limiar da pobreza, passando fome e frio, com falta de saúde e
de perspectivas quanto a um futuro com um mínimo de dignidade humana.
Recentemente, o mais alto Magistrado da Nação, teve
a coragem de, em cerimónia pública, na localidade de Azeitão, no passado dia
dezassete de Abril deste ano, afirmar que “os sacrifícios exigidos aos
portugueses foram excessivos, que existem situações de miséria intoleráveis e
que é tempo de parar com tais medidas, que têm sido suportadas sempre pelos
mesmos”. Declarou, ainda, que “existem indicadores económicos que apontam para
que se pare com tantos sacrifícios”.
Comemora-se um acontecimento de grande significado
para o mundo Católico, mas não só. A Páscoa, que deveria ser um evento de
alegria, de ressurreição dos valores que têm vindo a ser ignorados, como: o
respeito pelos mais idosos, o trabalho para os desempregados, as
reformas/pensões para os que já contribuíram e atingiram a idade para este
direito, a inclusão total na sociedade, de todos os marginalizados, enfim, a
dignidade de toda a pessoa humana, infelizmente é, para a esmagadora maioria
dos portugueses, uma época festiva, talvez e só a nível religioso.
Verifica-se, atualmente, que os valores materiais
se têm vindo a sobrepor aos de ordem imaterial, aos sentimentos mais nobres.
Tudo gira à volta dos mercados, dos lucros, dos deficits, dos números
astronómicos da ganância de alguns contra as mais elementares necessidades das
maiorias. Hoje, sentimentos como: a solidariedade, a amizade, o amor, por
exemplo, são muito difíceis de se vislumbrarem em algumas elites dominadoras,
no entanto, elas, as elites, não podem ignorar que: «O amor é uma energia, a energia mais pura e mais elevada. Nas suas
vibrações mais altas, o amor possui sabedoria e consciência. É a energia que
une todos os seres. O amor é absoluto e não tem fim.» (BRIAN, 2000:17).
Durante alguns anos, praticamente: têm sido sempre
os mesmos a suportar o “fardo” de uma dívida que não contraíram; têm sido
sempre os mesmos a serem privados dos direitos que, por contrato escrito, de
boa-fé, celebraram com um Estado que deveria ser, sempre, pessoa de bem. É
injusto, imoral e, em muitas circunstâncias de duvidosa legalidade, o que se
tem vindo a impor a alguns extratos da sociedade portuguesa, precisamente por
quem se comprometeu a melhorar as condições de vida da população.
Apesar da situação difícil: há muita vontade em se
acreditar em melhores dias; alguma esperança, calada bem no fundo das nossas
consciências, ainda não morreu; um certo e tímido otimismo reina nos espíritos
daqueles que continuam a sofrer e a lutar por um futuro melhor, mas para que
estes sinais não morram é necessário que se anulem, de imediato, aquelas
medidas gravosas que têm prejudicado a qualidade de vida de milhões de
portugueses.
Mais um período Pascal se está a viver, com milhões
de portugueses “crucificados” por: impostos, taxas, sobretaxas,
comparticipações extraordinárias, desemprego, fome, exclusão. Idosos que se
“arrastam” sem terem a certeza de quanto vão receber de reforma e/ou pensão no
mês seguinte; centenas de milhares de cidadãos que procuram, desesperadamente,
um trabalho; excluídos que continuam a dormir na rua, com fome, sede, frio e
doentes; jovens que abandonam a família, os amigos, o país em busca, no
estrangeiro, de uma vida de trabalho e de dignidade a que têm direito, mas que
o país lhes recusa; e também, milhares de pessoas que, apesar da idade, ainda
poderiam ser úteis à sociedade, com a sua experiência e sabedoria, todavia, são
consideradas uma espécie de excluídos especiais, porque: por um lado, não os
deixam trabalhar; mas por outro lado, lhes retiram os rendimentos para os quais
labutaram e descontaram décadas.
É tempo de se acabar com o sofrimento e fazer
descer da “Cruz” todos os portugueses que nos últimos anos têm sido
“crucificados”, injusta, imoral e, quem sabe, ilegalmente; é tempo de se
cumprirem promessas feitas em contextos reais e que milhões de portugueses
acreditaram e colaboram, para que elas fossem executadas; é tempo de nos ser
restituído o respeito, a solidariedade, a dignidade devida a pessoas
verdadeiramente humanas.
Este ano, a Páscoa, enquanto acontecimento
religioso no mundo católico, decorre a menos de uma semana de outro grande
evento nacional que é o vinte e cinco de Abril, data para se comemorar a
liberdade, a igualdade e a fraternidade. Religião e Política não são
incompatíveis, pelo contrário, podem articular-se, cooperar e encontrarem as
soluções para que em Portugal se viva com perspectivas de um futuro muito
melhor, para que a sociedade portuguesa sinta, definitivamente, que os seus
deveres são equitativamente exigidos, mas também os seus direitos integralmente
respeitados.
Os Portugueses são credores, em todo o mundo, de
grande admiração, respeito e estima, porque são cumpridores, honestos,
trabalhadores, humildes, educados e criativos. Tais qualidades devem ser
reconhecidas ”cá dentro”, entre todos nós, a começar por quem nos administra e
em quem milhões de cidadãos acreditaram, independentemente das opções
políticas, religiosas e filosóficas de cada um e dos respetivos estatutos
sócio-profissionais. É tempo de “Descrucificar” a população; é tempo de a
retirar da “Pesada Cruz” a que foi submetida, injustamente.
Nesta Páscoa, que todos desejaríamos vivê-la com
alegria e esperança, num futuro muito melhor, queremos, apesar de tudo,
continuar a alimentar o “sonho da felicidade” que se pretende realizar através
da segurança, da estabilidade no trabalho, na certeza de um fim de vida
confortável, sem receios de cortes nas pensões/reformas. Temos direitos
adquiridos por contratos firmados, honestamente, com um parceiro que tem o
dever de os cumprir e, se possível, melhorar, pelo menos em benefício dos mais
carenciados e desprotegidos.
E se é certo que: «A felicidade aumenta com a intervenção social e participação nas
organizações beneficientes …» (RICARD, 2005:217), então é necessário que o
Estado se preocupe muito mais com a dimensão social que deve ter para com todos
os portugueses, porque temos direito de sermos felizes, em várias dimensões:
axiológica, trabalho, segurança social, saúde, educação, formação, habitação e
lazer, entre outras.
É tempo de se dizer “basta”, de não se crucificar
sempre os mesmos. Convoquem-se aqueles que não sendo funcionários públicos,
reformados, pensionistas e trabalhadores do setor privado, mas os outros,
aqueles que ocupam posições de destaque, bem remuneradas, porque, seguramente,
que estes também estarão disponíveis para darem o seu contributo e, desta
forma, atenuarem o sacrifício daqueles que nos últimos anos têm vindo a pagar a
fatura de uma “despesa” que não fizeram. Corte-se no que é exagerado, nos bens
e benefícios supérfluos.
Páscoa de dois mil e catorze, festa da Ressurreição
de Cristo Redentor, que deveria ser de restauração de direitos injustamente
retirados, do respeito por todos quantos têm contribuído para que este país
seja símbolo do cumprimento dos Direitos Humanos, das Normas Constitucionais,
enfim, pela exaltação da dignidade da pessoa humana.
Desejamos a todos os portugueses que nunca mais
tenham uma Páscoa tão triste devido à situação em que nos encontramos. Queremos
para toda a sociedade nacional que se restaurem os direitos para os quais
contribuímos generosamente, sempre de boa-fé. Queremos descer da “Cruz Pesada
da Austeridade Injusta”. Queremos Solidariedade, Amizade, Lealdade, Igualdade,
Fraternidade, Liberdade. Queremos a nossa Dignidade de Pessoas Verdadeiramente
Humanas.
Bibliografia
BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já
Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres.
Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa.
Cascais: Pergaminho.
O Presidente da Direção
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
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