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domingo, 22 de dezembro de 2013

Natal: Confiança no Futuro


Ano após ano, Natal após Natal, a denominada “Festa da Família” repete-se ao longo dos tempos: com rituais idênticos; votos de esperança em melhores dias; alegrias que se repetem; nostalgias que se agudizam; ofertas que se trocam; brindes que se renovam; tudo isto e muito mais para que o Natal seja, de facto, a festa da união, da paz, da concórdia.
Abordar o Natal numa perspectiva positiva, nos tempos que correm (2013) não é tarefa fácil, considerando as dificuldades que atingem todas as pessoas em geral mas, particularmente, as mais desfavorecidas: económica, financeira e etariamente, sem ignorar, obviamente, aquelas que sofrem dos diversos tipos de exclusão: social, laboral, educacional, habitacional, entre outras, porque, ao contrário do que estabelece a Lei Fundamental Portuguesa: «1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei» (C.R.P., 2004:Artº 13º nº 1), na verdade tudo indica que, realmente, não temos a mesma dignidade enquanto pessoas humanas, sujeitas a deveres e a direitos.
O Natal, apesar da crise em que estamos mergulhados, pode, e deve, ser assumido como uma data referencial, agora mais do que nunca, para pensarmos, com muita esperança, num futuro bem melhor para todas as pessoas, independentemente de estatutos, condição sócio-profissional, política, cultural, religiosa ou de qualquer outra natureza, porque o direito a uma melhor qualidade de vida, a um fim de vida tranquilo, são os mínimos exigíveis para o reconhecimento e vivência da dignidade humana.
Neste ano, tal como nos anteriores, desejo aproveitar a quadra natalícia para apelar à concórdia, à tolerância, ao perdão, obviamente sem que isso implique: “apagarmos” dos nossos “corações” as ofensas de que temos sido vítimas; as desconsiderações de que fomos alvo; a rejeição a que alguém nos tenha votado; os desgostos que sofremos, a partir de atitudes de pessoas a quem nós tanto queríamos.
Na verdade, enquanto estivermos lúcidos, é impossível “branquear” o passado, mas é desejável que queiramos aprender com os erros, com as injustiças que cometemos contra aquelas pessoas que por nós tudo dão, generosamente e, sabermos com humildade, pelo menos, pedir desculpa e tudo fazermos para nos reconciliarmos.
E se por um lado, o ano que agora está prestes a terminar (2013), em Portugal, tem sido marcado por vários acontecimentos importantes, com maior ou menor influência na vida das/os portuguesas/es, sabendo-se que as medidas de austeridade, que atingiram um nível perigosamente gravoso, raramente sentido, em épocas anteriores, têm vindo a levar pessoas, famílias, empresas e instituições diversas, incluindo as de solidariedade social, à depauperização de rendimentos, de património, às falências;
Por outro lado, em contexto de grande crispação, de confrontos verbalmente violentos, em algumas localidades do país, decorreu o processo eleitoral para as autárquicas, no qual se destacou, pela negativa, a fusão injusta, inadequada e infundamentada de centenas de freguesias, cujas populações ficaram à mercê de eleitos de outras localidades, e com isso perderam a sua autonomia, a sua dignidade cívica e a própria auto-estima.
Em todo o caso, é tempo de começarmos a viver o futuro, construirmos o projeto que nos conduza ao sucesso coletivo, assente em princípios, valores e bons sentimentos, que sejam compagináveis com uma nova “Ordem Social e Económica”, para que todos nos sintamos verdadeiramente iguais, atentas as diferenças que, inegavelmente, carateriza cada pessoa em particular.
Para iniciarmos um novo ano, com perspectivas de vida mais positivas, é necessário assumir que: «A vida é alegria e felicidade em ajudar a construir um mundo melhor e mais participativo, com equilíbrio e amor. Por isso a ordem é reprogramar o mundo interior para usufruir da arte de viver e para a reprogramação uma das melhores ferramentas encontra-se nas técnicas parapsicológicas». (FRANCESCHINI, 1996:67).
Na verdade, a vida passa muito rapidamente. É essencial termos a consciência de que não vale a pena cogitarmos, desenvolver e aplicar processos maquiavélicos do tipo “caça-às-bruxas”, apenas para prejudicarmos, humilharmos e “pisarmos” os nossos semelhantes. O ódio, a perseguição e a vingança conforme se semeiam, assim se colhem e não são próprios de pessoas com boa formação e sentimentos nobres.
O Natal, enquanto tempo de reconciliação, de coesão da família, também dos amigos, deve ser aproveitado no seu sentido mais altruísta, deixando de lado as preocupações consumistas, as manifestações de poderio económico, de opulência que, por vezes, até ofendem quem mais precisa, quem nunca teve sorte na vida, apesar de a procurarem. Nem toda a gente é ociosa, aliás, a maioria das pessoas quer uma vida digna pelo trabalho.
É claro que não se defende um Natal miserabilista, um Natal de lamúria, bem pelo contrário, deseja-se um Natal de prosperidade, de intensa alegria, de fundadas esperanças no futuro. A harmonia entre prosperidade e otimismo é fundamental para podermos acreditar em nós próprios, nas nossas capacidades, nos resultados positivos que os nossos projetos nos podem proporcionar.
Neste Natal, o núcleo central para o nosso sucesso no futuro é melhorarmos, no que ainda for possível, a nossa auto-estima, sem o que tudo se tornará mais difícil, na medida em que não seremos capazes de implementar ideias, empreender, arriscar. Acreditarmos na nossa auto-suficiência e auto-respeito, constitui uma atitude para o reforço destes dois pilares da auto-estima.
A quadra natalícia que já se vive intensamente deverá, portanto, ter como foco muito importante o desenvolvimento, o reforço e consolidação da auto-estima considerando esta como sendo: «a disposição da pessoa para se vivenciar com alguém competente para enfrentar os desafios da vida e merecedor da felicidade.» (NATHANIEL BRANDEN, in CLARET, s.d.:20).
O futuro que neste Natal poderemos imaginar passa sempre pela felicidade, qualquer que seja a noção que dela se tiver: seja com bases materiais; seja fundamentada na vivência espiritual; seja considerando estas duas componentes, o que, salvo melhor opinião, se afigura a mais apropriada e caraterística da pessoa verdadeiramente humana.
Perspectivar o futuro, com o realismo que a situação social atual nos apresenta, e com todas as nossas experiências vividas: umas, boas; outras, menos boas, parece ser o mais adequado, na medida em que se deve aprofundar o que vivemos de melhor e rejeitar o que foi menos bom, aprendendo, contudo, com os erros cometidos.
Hoje, já próximo do final do ano de 2013, talvez um dos últimos anos mais dramáticos para os portugueses, devido a um injusto conjunto de medidas fiscais, taxas, sobretaxas, cortes salariais e nas pensões e agravamento das condições de vida, com cerca de vinte e por cento da população a passar fome, poderia ter-se razões para não se acreditar no futuro
Uma tal atitude não resolveria nada, pelo contrário, conduziria ao abandono de sonhos, de projetos, de possíveis sucessos, à depressão e, eventualmente, ao suicídio, por isso, vamos lutar contra todas as adversidades que nos estão a colocar, e que se reconhece não serem inevitabilidades, porque outros caminhos seriam possíveis para sairmos da alegada crise, alegada porque não é sentida da mesma maneira por todas as pessoas.
Importa, neste Natal, refletir em três estratos da população, cada vez mais vulneráveis: jovens desempregados que têm de abandonar o país e a família; adultos, ainda em idade produtiva, sem emprego e sem perspetivas de voltarem ao mercado de trabalho e idosos que estão a ser expropriados dos seus mais elementares direitos, adquiridos durante uma longa existência de trabalho e de contributos, mas que agora, no final das suas vidas, sentem uma redução drástica nos seus rendimentos, logo na qualidade de vida a que tinham direito, com toda a dignidade humana.
Por isso, neste Natal, vamos acreditar que seremos capazes de construir uma sociedade e um futuro mais justos, mais prósperos e mais solidários. Não podemos ignorar que somos pessoas humanas e que, conforme começamos esta reflexão: «Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei» (C.R.P., 2004:Artº 13º nº 1), assim a desejamos concluir.

Bibliografia

CLARET, Martin, (s.d.). O Poder da Auto-Estima. São Paulo: Editora Martin Claret
FRANCESCHINI, Válter, (1996). Os Caminhos do Sucesso. 2ª Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Scortecci
ROMÃO, Cesar, (2000). Fábrica de Gente. Lições de vida e administração com capital humano. São Paulo: Mandarim.
VIANA, Marco Aurélio Ferreira, & VELASCO, Sérgio Duarte, (1998). Futuro: Prepara-se. Cenários e Tendências para um Mundo de Oportunidades. 3ª Edição. São Paulo: Editora Gente.

O Presidente da ARPCA, em Exercício,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

domingo, 8 de dezembro de 2013

Educação Sócio-Cultural como Qualidade de Vida


Aceitam-se todos os contributos que tenham por objetivo enriquecer um processo de educação e formação para os direitos humanos e cidadania, cuja finalidade suprema é erradicar a iniquidade e as distorções sócio-económicas que atualmente se verificam na humanidade.
Uma das vias, possível de contribuir para a luta contra tantas incongruências, algumas aberrações e toda uma panóplia de males, passa pela educação sócio-cultural, a iniciar-se em todas as escolas e também por um processo de formação ao longo da vida, incluindo o conceito de “aprender a aprender”.
Partir para um nova ordem mundial, baseada num novo paradigma, que urge desenvolver e consolidar: a Escola Cultural ou, mais abrangentemente, a Escola Pluri-intercultural, a influenciar cada pessoa, o mais cedo possível na vida de cada uma, porque a responsabilidade da escola inter-pluricultural é imensa.
Na verdade: «O paradigma da Escola Cultural é muito favorável à educação para os direitos humanos, quer pelas actividades educativas que promove e aconselha, quer pela sua estrutura pedagógica, quer pela filosofia personalista em que assenta. Com efeito, a Escola Cultural caracteriza-se: a) pela centração da educação na pessoa, que quer ver completamente respeitada na sua eminente dignidade; b) pela concepção cultural da educação, definindo a cultura como a obra do espírito criador e livre do Homem, acrescentada à pura Natureza; c) pela concepção pluridimensional e cultural da Escola; d) pelo funcionamento concreto da Escola, flexível e democrático, aberto à livre e responsável expansão de todos os aspectos estruturais da personalidade dos educandos.» (PATRÍCIO, 1999:98).
Quanto mais não seja, e como base de trabalho, pode-se concordar que a via para a paz, não no sentido de ausência de guerra, mas a paz como situação universal que proporciona à humanidade bem-estar geral, harmonia e felicidade, percorre o itinerário compreendido entre o respeito pelos direitos humanos e o exercício pleno da cidadania democrática, esta na perspectiva da participação ativa e profícua de cada um e de todos os cidadãos, na vida das respetivas comunidades.
A paz, também entendida como erradicação de todo e qualquer tipo de violência: física, psicológica, económica, religiosa, política, ética, cultural e sócio-profissional, entre muitas outras mais subtis, como a chantagem, os assédios, o medo e a superstição.
Impõe-se uma nova cultura que possibilite a implementação de paradigmas que fomentem as boas-práticas, desde o mais cedo possível e ao longo da vida de cada pessoa, que constituam como que um alimento essencial para a vida boa, digna, pacífica, produtiva e verdadeiramente humanista, porque: «O caminho para a paz passa por resoluções criativas do conflito, o que, geralmente, significa a transformação de algumas estruturas, e, através da substituição de culturas de violência por culturas de paz, deslegitima a violência. O uso da violência para punir o agressor não resolve os conflitos nem deslegitima a violência. Pelo contrário, provavelmente congela o conflito e legitima a violência. Por outras palavras, não só não é produtor da implementação dos direitos humanos, mas é mesmo contraproducente…» (GALTUNG, 1994:213).
O apelo à paz, à preservação da vida humana e ao estabelecimento de plataformas de diálogo, para a resolução dos conflitos, sucedem-se um pouco por todo o mundo, e a partir das mais altas instâncias dos poderes nacionais e organizações internacionais, invocando-se, reiteradamente, o respeito pelos Direitos Humanos e pela Cidadania.
Ignorar a riqueza e diversidade dos valores que sustentam toda uma cultura, na circunstância, a cultura dos deveres, direitos e valores humanos, aliada às múltiplas dimensões da pessoa humana, constitui uma atitude que não beneficia o diálogo nem a paz, nem a felicidade da humanidade, porque, em boa verdade, existem valores básicos que facilitam, substancialmente, a construção de uma sociedade efetivamente humana, e que para o ser plenamente, deverá considerar a pessoa como uma unidade indivisível na sua dignidade, mas também cultivar, até por boas-práticas, o seu lado mais inefável, profundo e único – a sua dimensão sobrenatural –, que pela via religiosa pode e deve cuidar.
O ser humano não se extingue com a morte física, na medida em que: «A pessoa humana alcança assim – pela via sobrenatural da Fé e da graça – um coroamento divino de sua vida espiritual. O horizonte e o âmbito das dimensões da pessoa se engrandecem, desse modo, até a infinitude do divino. Sem confundir-se com Deus e sempre essencialmente finita e contingente, a pessoa humana entra assim a participar da mesma vida de Deus: pela aceitação da revelação e a vida da graça nesta vida eterna, pela visão de Deus e a glória da vida imortal.» (DERISI, 1977:54).
O homem que utiliza bem, aqui no sentido da sua própria felicidade, este valor supremo que é a Fé, que se manifesta no seu espírito, estará mais seguro no que respeita ao seu destino último, a sua vida terá sempre um sentido. Os seus ideais e objetivos, certamente, adquirem uma natureza mais sobrenatural, sem descurar a sua posição no mundo material, para o qual tem de estar atento e protegido porque: «Um dos maiores perigos para a nossa vida e a fonte mais justificável de medo é a guerra. Contra esse perigo também o Estado deve tomar precauções…», não devendo ignorar que: «Na vida de qualquer grupo de homens existem divergências inevitavelmente legítimas, tanto quanto tentativas de burla e aqueles podem exigir como último recurso uma solução imparcial.» (MABBOTT, 1968:120-21).
É na união desta existência dicotómica – corpo e espírito – no homem que se pode rentabilizar, para o bem-comum, a ação humana, nomeadamente, através das respetivas organizações sócio-politicas, com destaque para o Estado, aqui assumido no governo legítimo e democrático.
A educação sócio-cultural, que se considera essencial e uma via segura na busca da paz e obtenção da felicidade da pessoa humana, é possível implementá-la, a partir da sociedade organizada e dos seus agentes socializadores, dos quais se enfatiza, nesta reflexão, além da Escola, a Igreja, através da religião que alimenta a Fé. Invoca-se a Fé, afinal, em muitas circunstâncias da vida.
Uma educação sócio-cultural integra nos seus curricula esta dimensão exclusiva do homem e, sem preconceitos nem discriminações, cabe às instituições responsáveis pelos sistemas de ensino e formação apoiar, no sentido do reconhecimento e legalização curricular, as religiões predominantes e secularmente interiorizadas e praticadas pelos respetivos crentes.
Na circunstância, o exemplo que a Fé Cristã vem dando ao mundo, pela assunção de compromissos sociais, poderá constituir-se como um excelente incentivo às demais e grandes religiões que, por quaisquer razões, ainda não conseguiram dar o seu pleno contributo para a paz.
Nesse sentido, o papel da Igreja, hoje, é insubstituível na construção da concórdia, na busca da felicidade e essencial para dar um destino à vida porque: «Nunca foi tão grande a chance da Igreja de participar, de trazer uma colaboração decisiva, e isto por uma razão bem precisa. Nunca se viu com tanta clareza que a solução desses problemas não depende apenas nem principalmente de factores técnicos, mas depende decisivamente de factores éticos e morais. (…) A Igreja anuncia a solidariedade na promoção como o único caminho para a própria sobrevivência da espécie.» (BIGO & ÁVILA, 1983:280).
Elevar os Direitos Humanos e Cidadania ao estatuto de disciplina académica, obrigatória em todas as Escolas de Ensino, Educação e Formação, em todos os cursos, com peso idêntico a outros conhecimentos, tidos por nucleares, é um imperativo que se reclama como um desígnio universal. Envolver o domínio Sócio-Cultural, em todas as suas vertentes, com inclusão das próprias Religiões, será uma estratégia a considerar que, seguramente, conduzirá à Paz enquanto preservação da Vida e Dignidade Humanas.
Uma política universal, sob a forma de uma Nova Ordem Internacional, para a vida e felicidade da espécie humana, não será uma utopia, dentro de algumas gerações, se os atuais responsáveis, em cada país, em cada comunidade, em cada família e em cada indivíduo humano, promoverem e incentivarem uma nova cultura dos valores, dos deveres, dos direitos mais sublimes e específicos da humanidade.
O mundo, com todas as suas riquezas, existe antes do homem, portanto, ninguém deveria arrogar-se o direito de que um determinado recurso lhe pertence, em exclusivo. A distribuição da riqueza deverá ser universal e os que agora se proclamam donos de bens naturais e se consideram ricos, deveriam iniciar o processo de partilha das riquezas que o Criador colocou no mundo, igualmente para todos, sem discriminação, desde logo a começar pelos próprios concidadãos, porque a geração que hoje está no poder, amanhã será substituída por outra e assim sucessivamente.
Todos os descendentes devem ter as mesmas possibilidades de viverem em paz, em abundância e conforto, numa sociedade mais humana e feliz, porque o que hoje, para muitos, poderá ser utopia, possivelmente, num futuro não muito longínquo, tornar-se-á uma realidade, porque é insustentável haver uns poucos, com tanto; e muitos outros, com tão pouco, então, antes que aconteça uma tragédia bem mais catastrófica do que a da Segunda Guerra Mundial, homens e mulheres de todo o mundo, entendam-se, conciliem-se e devolvam à humanidade o que Deus-Criador doou a todos por igual: paz, abundância, recursos, harmonia e felicidade.

Bibliografia

BIGO, Pierre, S.J., & ÁVILA, Fernando Bastos, S.J., (1983). Fé Cristã e Compromisso Social; Elementos para uma reflexão sobre a América Latina à luz da Doutrina Social da Igreja, 2. Edição revista e aumentada, São Paulo: Edições Paulinas.
DERISI, Octávio Nicolás, (1977). Valores Básicos para a Construção de uma Sociedade Realmente Humana, Trad. Alfredo Augusto Rabello Leite, São Paulo: Mundo Cultural.
GALTUNG, Johan, (1994). Direitos Humanos – Uma Nova Perspectiva. Tradução Margarida Fernandes. Lisboa, Instituto Piaget
MABBOTT, J.D., (1968). O Estado e o Cidadão, uma introdução à Filosofia Política, Trad. Jorge Natal da Costa, Rio de Janeiro: Zahar Editores.
PATRÍCIO, Manuel Ferreira, (1999). “Escola Cultural e Educação para os Direitos Humanos”, in Educação para os Direitos Humanos. Actas do Congresso. Ponte de Lima: Amnistia Internacional. 11 a 13 de Março de 1999, 97-101  

O Presidente da ARPCA, em Exercício,
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


domingo, 1 de dezembro de 2013

O Homem: Existência e Mistério


A existência humana, num planeta que se integra num universo ilimitado, na sua componente espiritual, continua sendo uma incógnita, quer enquanto vida vivida, num espaço finito e num tempo determinado, quer depois da morte biológica e consequente desaparecimento do corpo.
O homem, aqui na sua abrangência relativa à humanidade, comportando igualmente e ao mesmo nível a mulher, continua sendo um mistério para si próprio, porque não tem, ainda, a capacidade de prever, controlar e resolver certas situações, designadamente no que se refere à sua constituição imaterial, inefável, quantitativa e qualitativamente indeterminada, embora tenha profundos conhecimentos no que respeita à sua própria constituição física.
A indefinição, um certo vazio científico, para alguns; para outros, um verdadeiro mistério, quando se tenta analisar a origem, existência, fim e destino do espírito, ou da alma, ou da própria consciência, ou ainda de qualquer outra designação que se possa atribuir.
Quando o homem se interroga, desde há milhares de anos: “Quem sou? De onde venho? E para onde vou? a frustração e a noção de incapacidade para responder àquelas, e a outras questões, conduzem a uma certa angústia e quanto mais procura investigar, aprofundar e tentar extrair conclusões, ele percebe quanto, nesta dimensão humana, é insignificante, na medida em que verifica a sua impotência para se esclarecer, sabendo, embora, que é um ser existencial.
Não será necessário, neste aspecto, enveredar por uma metodologia cartesiana, da dúvida metódica, consubstanciada na máxima – Penso, logo existo (?)”.É nesta existência, porém, que o homem progride, que livre e relativamente se determina, para o bem e para o mal, no limite, determina-se pela indeterminação. Com efeito, afirma MARTINS, (1961: 70): “Existencialmente o homem faz-se ao determinar-se livremente, escolhendo na sua determinação individual a forma da sua própria essência; (…). Somos aquilo que escolhemos ser. Mesmo quando nos revoltamos contra a existência, escolhemos o ser revoltado. É a existência livremente assumida, o ser pleno.”
Numa certa perspectiva, cada pessoa consciente poderá ser aquilo que escolher, enquanto depende apenas da sua vontade, das suas capacidades e dos recursos que estiverem ao seu dispor, contudo, muito dificilmente atingirá resultados absolutos, principalmente no domínio da essência e da imaterialidade de certas dimensões e situações. Não se vislumbra qual a forma, o processo, os meios para se atingir a máxima felicidade, ou para se alcançar, de forma consciente, o que está para além da morte física do corpo.
Escolher ser, fisicamente, imortal, mesmo através das mais modernas técnicas de embalsamento e conservação do corpo, poderá não resultar objectivamente. Escolher ser, espiritualmente, imortal, desde logo ao nível da própria identidade, será, eventualmente, melhor conseguido, todavia, a imortalidade não é estabelecida pelo próprio que se pretende imortalizar, mas terão de ser todas as gerações que se lhe seguirem, que mantenham actualizada e viva tal situação, pela recordação permanente daquela identidade e dos seus feitos, bons ou maus.
Mas o que verdadeiramente se torna angustiante é esta ignorância total sobre o destino do espírito humano, porque independentemente de quaisquer crenças, religiões e conhecimentos, poucas pessoas acreditam na constituição humana, como sendo só matéria ou só espírito.
A posição, aparentemente, dominante, aponta para esta dualidade: corpo (substância material); alma/espírito (substância imaterial). Negar esta possível evidência, até poderá ser uma atitude cómoda. Afinal, para que servem as preocupações metafísicas se elas não resolvem os problemas concretos da humanidade terrena, poderão argumentar os defensores do materialismo científico? A interrogação contrária, igualmente se pode formular, ou seja, para que serve, neste mundo terreno, aceitar e defender a materialidade do corpo, quando o mais importante é o destino do espírito?
Algumas certezas, que não precisam de ser comprovadas cientificamente, podem aceitar-se como tais, nomeadamente, a que se prende com a existência, e que ao escolher-se um percurso de vida, que ao longo do mesmo não teve arrependimento de nenhum acto, atitude ou comportamento, então a vida revelou-se com sentido, o qual é experimentado com prazer, pelo próprio indivíduo.
É essencial identificar um sentido para a vida, objectivos pelos quais se possa continuar a evoluir, mesmo tendo a consciência de que jamais se alcançará a sabedoria absoluta, porque na verdade, segundo PIRES, (1999: 132) “O mundo é o palco da odisseia humana! Cada um de nós representa o seu papel e, por humilde que seja, cada existência tem o seu significado. Estamos sempre crescendo e, certamente, nos serão confiados novos papéis, até nos tornarmos puros e sábios. (…) Durante o processo evolutivo da consciência, superamos os instintos, conquistamos o livre arbítrio e assumimos um grande desafio: alcançar a Espiritualidade Racional.”
Conduzir a vida por objectivos, materiais e imateriais, poderá ser uma estratégia adequada à condição humana e que satisfará, por outro lado, as exigências que a constituição dual do homem coloca ao longo da vida. Objectivos materiais no campo da aquisição e fruição de bens e serviços, que possibilitam uma existência compatível com a dignidade da pessoa-humana, nomeadamente: o conforto físico, o bem-estar habitacional, o trabalho bem remunerado, uma boa ocupação dos tempos livres e de lazer, através da fruição e gozo do que mais se gosta, enfim, qualidade de vida. Outros objectivos, nitidamente materiais, se poderiam convocar para um projecto de vida, cabendo, porém, a cada um, lutar pelo que considera serem os melhores.
Também no quadro dos objectivos imateriais, a selecção poderá ser difícil, porquanto neles pode interferir todo um conjunto de valores, princípios e normas sociais que conduzem, no limite, a um objectivo final, por exemplo, a felicidade, entendida como a satisfação pelo caminho percorrido, ou uma certa paz interior, ou, ainda, a sensação permanente de deveres ético-morais e cívicos cumpridos. Então, o objectivo último será de natureza espiritual, assente numa felicidade construída ao longo de uma vida e, nesse sentido e convocando novamente PIRES, (1999: 136) ele nos ensina que: “Como estamos sempre interpretando os nossos prazeres e avaliando as nossas próprias condutas, a verdadeira felicidade está centrada nos prazeres morais, na satisfação de poder olhar para trás e dizer: foi muito difícil, exigiu grande sacrifício, deu muito trabalho, mas eu faria tudo da mesma maneira, porque fiz com muito amor.”
Poderia parecer vulgar afirmar-se que uma outra certeza é a morte. Não é assim tão banal quanto parece, na medida em que, a maior parte das pessoas muito raramente pensa neste fenómeno inevitável, aliás, algumas há que parece que jamais se extinguirão, que não vão morrer, considerando um certo tipo de conduta que vão manifestando ao longo da vida.
A morte, aqui referida, é a morte física do corpo humano, do seu desaparecimento concreto da face da terra, enquanto animado de vida, movimento e comunicação, ainda que fosse possível conservar-se tal corpo intacto, visível aos olhos de toda a gente, pelos processos de embalsamento. Portanto a morte física é uma realidade que a todos acontece e aqui, independentemente de quaisquer estatutos: social, profissional, económico, político, religioso, etário, étnico ou outro. Se se pensasse na morte todos os dias, possivelmente, o mundo estaria, hoje, bem melhor, talvez houvesse mais solidariedade e paz.
A morte coloca um ponto final na vida: do rico e do pobre; do poderoso e do fraco; do crente, do agnóstico e do ateu. Ninguém escapa da morte física, de resto, na perspectiva de MARTINS, (1961: 162): “A certeza intuitiva da morte vem da experiência mesma da vida, por mais paradoxal que isto pareça à primeira vista. Vem da experiência de qualquer vida, em qualquer das suas fases, porque é um elemento constitutivo da sua mesma estrutura. (…) Angústia, remorso, desejo, temor, inquietação, nada importa para a vivência do acercamento da morte. (…) Independentemente de todo o juízo de realidade ou de valor, impõe-se esta vivência do diminuir da vida por viver, ou do acercamento da morte, como uma realidade imediatamente perceptível.”
A vida humana joga-se, portanto, entre o nascer e o morrer, período de duração indeterminada, durante o qual decorre toda uma existência, com episódios diversos: uns, previsíveis; outros, não, mas que todos vão contribuir para um balanço final que a própria pessoa fará, se tiver oportunidade para isso, e de que resultará a sua satisfação, maior ou menor, que permitirá um juízo ético-moral, relativamente a tudo quanto de bom, ou de mal, tenha feito, mas que, em muitas circunstâncias, não vai permitir qualquer reparação por danos causados seja a ela própria, seja a terceiros, o que, em situações graves, pode proporcionar profundo arrependimento e, eventualmente, algum desespero. O corolário lógico será, então, resolver em vida o que há para resolver e pelas vias pacíficas.
Indiscutivelmente que todo o ser humano tem o seu fim bem determinado, mas que não é do seu conhecimento, (talvez se possam excluir aqui aquelas situações de suicídio consciente, eutanásia, condenação à morte, em que o fim é fixado pelo próprio ou por um juiz, respectivamente), admitindo-se que enquanto ele vive possa, ainda, ter tempo para alterar muitos dos seus comportamentos anteriores, reparar, na medida do possível, o que fez de errado.
Nesse sentido, o homem deve viver com fé, quer ao nível espiritual, quer no âmbito da sua intervenção no mundo, acreditando e demonstrando que tudo o que faz tem uma finalidade boa, um sentido concreto, um objectivo real e até altruísta, revelando-se, também, fiel aos valores e princípios. É necessário estar dotado de uma grande fé, quer para o êxito dos projectos espirituais, quer na realização dos projectos materiais.
Esta fé não é quantificável, medida rigorosamente com um qualquer instrumento de medida. Ela vai ser avaliada pela satisfação que causa no próprio e por todos aqueles que beneficiaram das boas-acções, boas-práticas, bons-projectos. Nesta perspectiva ROMERO, (1998: 310) esclarece que: “Fé, fidelidade, confiança: são manifestações de um mesmo fundo comum. A fé não é uma atitude que se manifesta apenas perante o divino. Esta é propriamente a fé religiosa. Há também a fé como atitude existencial básica. Em ambos os casos, há uma fidelidade a princípios reitores que orientam e sustentam a vida da pessoa e há a plena confiança na verdade destes princípios.”

Bibliografia

MARTINS, Diamantino, S.J., (1961). Mistério do Homem; Ser, Personalidade, Imortalidade, Braga: Livraria Cruz.
PIRES, Wanderley Ribeiro, (1999). Dos Reflexos à Reflexão. A Grande Transformação no Relacionamento Humano, Campinas: Editora Komedi.
ROMERO, Emílio, (1998). As Dimensões da Vida Humana: Existência e Experiência, São José dos Campos: Novos Horizontes Editora.

O Presidente da ARPCA,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo