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domingo, 20 de abril de 2014

A Cruz da Austeridade na Páscoa Portuguesa


Muito embora a esperança seja, ou deva ser, a última expectativa a morrer, a verdade, porém, é que nesta Páscoa de dois mil e catorze, não haverá muitos motivos para nos sentirmos seguros quanto a uma desejável e legítima estabilidade, em vários domínios da nossa existência e, enquanto cidadãos de deveres e direito, porque, “tragicamente”, quase todos os dias somos “aterrorizados” com notícias devastadoras de esperanças que ainda poderíamos alimentar, quanto a um futuro tranquilo e confortável.
A sociedade portuguesa em geral, e alguns extratos mais vulneráveis, em particular, continuam a sofrer as consequências de situações para as quais não contribuíram, nem são responsáveis. Milhões de pessoas entre funcionários públicos, trabalhadores do setor privado, reformados, pensionistas, desempregados, imigrantes, sem-abrigo, excluídos, idosos vivem no limiar da pobreza, passando fome e frio, com falta de saúde e de perspectivas quanto a um futuro com um mínimo de dignidade humana.
Recentemente, o mais alto Magistrado da Nação, teve a coragem de, em cerimónia pública, na localidade de Azeitão, no passado dia dezassete de Abril deste ano, afirmar que “os sacrifícios exigidos aos portugueses foram excessivos, que existem situações de miséria intoleráveis e que é tempo de parar com tais medidas, que têm sido suportadas sempre pelos mesmos”. Declarou, ainda, que “existem indicadores económicos que apontam para que se pare com tantos sacrifícios”. 
Comemora-se um acontecimento de grande significado para o mundo Católico, mas não só. A Páscoa, que deveria ser um evento de alegria, de ressurreição dos valores que têm vindo a ser ignorados, como: o respeito pelos mais idosos, o trabalho para os desempregados, as reformas/pensões para os que já contribuíram e atingiram a idade para este direito, a inclusão total na sociedade, de todos os marginalizados, enfim, a dignidade de toda a pessoa humana, infelizmente é, para a esmagadora maioria dos portugueses, uma época festiva, talvez e só a nível religioso.
Verifica-se, atualmente, que os valores materiais se têm vindo a sobrepor aos de ordem imaterial, aos sentimentos mais nobres. Tudo gira à volta dos mercados, dos lucros, dos deficits, dos números astronómicos da ganância de alguns contra as mais elementares necessidades das maiorias. Hoje, sentimentos como: a solidariedade, a amizade, o amor, por exemplo, são muito difíceis de se vislumbrarem em algumas elites dominadoras, no entanto, elas, as elites, não podem ignorar que: «O amor é uma energia, a energia mais pura e mais elevada. Nas suas vibrações mais altas, o amor possui sabedoria e consciência. É a energia que une todos os seres. O amor é absoluto e não tem fim.» (BRIAN, 2000:17).
Durante alguns anos, praticamente: têm sido sempre os mesmos a suportar o “fardo” de uma dívida que não contraíram; têm sido sempre os mesmos a serem privados dos direitos que, por contrato escrito, de boa-fé, celebraram com um Estado que deveria ser, sempre, pessoa de bem. É injusto, imoral e, em muitas circunstâncias de duvidosa legalidade, o que se tem vindo a impor a alguns extratos da sociedade portuguesa, precisamente por quem se comprometeu a melhorar as condições de vida da população.
Apesar da situação difícil: há muita vontade em se acreditar em melhores dias; alguma esperança, calada bem no fundo das nossas consciências, ainda não morreu; um certo e tímido otimismo reina nos espíritos daqueles que continuam a sofrer e a lutar por um futuro melhor, mas para que estes sinais não morram é necessário que se anulem, de imediato, aquelas medidas gravosas que têm prejudicado a qualidade de vida de milhões de portugueses.
Mais um período Pascal se está a viver, com milhões de portugueses “crucificados” por: impostos, taxas, sobretaxas, comparticipações extraordinárias, desemprego, fome, exclusão. Idosos que se “arrastam” sem terem a certeza de quanto vão receber de reforma e/ou pensão no mês seguinte; centenas de milhares de cidadãos que procuram, desesperadamente, um trabalho; excluídos que continuam a dormir na rua, com fome, sede, frio e doentes; jovens que abandonam a família, os amigos, o país em busca, no estrangeiro, de uma vida de trabalho e de dignidade a que têm direito, mas que o país lhes recusa; e também, milhares de pessoas que, apesar da idade, ainda poderiam ser úteis à sociedade, com a sua experiência e sabedoria, todavia, são consideradas uma espécie de excluídos especiais, porque: por um lado, não os deixam trabalhar; mas por outro lado, lhes retiram os rendimentos para os quais labutaram e descontaram décadas.
É tempo de se acabar com o sofrimento e fazer descer da “Cruz” todos os portugueses que nos últimos anos têm sido “crucificados”, injusta, imoral e, quem sabe, ilegalmente; é tempo de se cumprirem promessas feitas em contextos reais e que milhões de portugueses acreditaram e colaboram, para que elas fossem executadas; é tempo de nos ser restituído o respeito, a solidariedade, a dignidade devida a pessoas verdadeiramente humanas.
Este ano, a Páscoa, enquanto acontecimento religioso no mundo católico, decorre a menos de uma semana de outro grande evento nacional que é o vinte e cinco de Abril, data para se comemorar a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Religião e Política não são incompatíveis, pelo contrário, podem articular-se, cooperar e encontrarem as soluções para que em Portugal se viva com perspectivas de um futuro muito melhor, para que a sociedade portuguesa sinta, definitivamente, que os seus deveres são equitativamente exigidos, mas também os seus direitos integralmente respeitados.
Os Portugueses são credores, em todo o mundo, de grande admiração, respeito e estima, porque são cumpridores, honestos, trabalhadores, humildes, educados e criativos. Tais qualidades devem ser reconhecidas ”cá dentro”, entre todos nós, a começar por quem nos administra e em quem milhões de cidadãos acreditaram, independentemente das opções políticas, religiosas e filosóficas de cada um e dos respetivos estatutos sócio-profissionais. É tempo de “Descrucificar” a população; é tempo de a retirar da “Pesada Cruz” a que foi submetida, injustamente.
Nesta Páscoa, que todos desejaríamos vivê-la com alegria e esperança, num futuro muito melhor, queremos, apesar de tudo, continuar a alimentar o “sonho da felicidade” que se pretende realizar através da segurança, da estabilidade no trabalho, na certeza de um fim de vida confortável, sem receios de cortes nas pensões/reformas. Temos direitos adquiridos por contratos firmados, honestamente, com um parceiro que tem o dever de os cumprir e, se possível, melhorar, pelo menos em benefício dos mais carenciados e desprotegidos.
E se é certo que: «A felicidade aumenta com a intervenção social e participação nas organizações beneficientes …» (RICARD, 2005:217), então é necessário que o Estado se preocupe muito mais com a dimensão social que deve ter para com todos os portugueses, porque temos direito de sermos felizes, em várias dimensões: axiológica, trabalho, segurança social, saúde, educação, formação, habitação e lazer, entre outras.
É tempo de se dizer “basta”, de não se crucificar sempre os mesmos. Convoquem-se aqueles que não sendo funcionários públicos, reformados, pensionistas e trabalhadores do setor privado, mas os outros, aqueles que ocupam posições de destaque, bem remuneradas, porque, seguramente, que estes também estarão disponíveis para darem o seu contributo e, desta forma, atenuarem o sacrifício daqueles que nos últimos anos têm vindo a pagar a fatura de uma “despesa” que não fizeram. Corte-se no que é exagerado, nos bens e benefícios supérfluos.
Páscoa de dois mil e catorze, festa da Ressurreição de Cristo Redentor, que deveria ser de restauração de direitos injustamente retirados, do respeito por todos quantos têm contribuído para que este país seja símbolo do cumprimento dos Direitos Humanos, das Normas Constitucionais, enfim, pela exaltação da dignidade da pessoa humana.
Desejamos a todos os portugueses que nunca mais tenham uma Páscoa tão triste devido à situação em que nos encontramos. Queremos para toda a sociedade nacional que se restaurem os direitos para os quais contribuímos generosamente, sempre de boa-fé. Queremos descer da “Cruz Pesada da Austeridade Injusta”. Queremos Solidariedade, Amizade, Lealdade, Igualdade, Fraternidade, Liberdade. Queremos a nossa Dignidade de Pessoas Verdadeiramente Humanas.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho. 

O Presidente da Direção

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

domingo, 6 de abril de 2014

O Poder Religioso


Desde tempos imemoriais que o poder religioso exerce uma profunda influência nas pessoas em geral, e nos crentes em particular e que, atravessando séculos e milénios, chega aos dias de hoje com grande pujança e revelador de progressos significativos, nomeadamente, a sua abertura às questões sociais, eventualmente, sem o dogmatismo tão acentuado, como poderia ter ocorrido um pouco ao longo da Idade Média e, atualmente, em consequência de posições radicais e fundamentalistas por parte de alguns dignitários e de seus seguidores.
A verdade, porém, na maioria das grandes religiões, é que estas desejam aprofundar o diálogo entre elas, justamente para se encontrarem soluções para muitos problemas, especialmente os de natureza social e humanitária, que continuam a atormentar a sociedade humana no seu todo.
Destacar o contributo positivo do poder religioso não significa branquear situações que, no passado medieval, teriam ocorrido e, eventualmente, ainda se verificam, num ou noutro ponto do mundo.
O importante, no atual contexto mundial é recolocar este fenómeno humano no lugar que, por mérito próprio, lhe pertence, isto é, ao nível dos mais altos poderes do Estado, porque se o poder espiritual da Igreja tem servido para mediar conflitos, então, deve-se-lhe reconhecer tal influência e capacidade em tudo o que respeita, por exemplo, ao reconhecimento inequívoco, não envergonhado e o correspondente relevo temporal.
Em todo o cerimonial protocolar do Estado, até porque, segundo o Santo Padre, João XXIII, na Encíclica “Pacem in Terris” 1963: «Entre os direitos do homem, deve incluir-se, também a liberdade de prestar culto a Deus de acordo com os retos ditames da própria consciência, e de professar a religião, privada e publicamente.» (in BIGO & ÁVILA, 1983: 266).
Aceitando-se, num Estado de Direito Democrático, a separação de poderes, desde logo o poder temporal do poder religioso, o Estado e a Igreja, isso não significa que as duas instituições não possam e não devam cooperar nos assuntos que afetam a população civil, esta composta por crentes e não crentes, governados e governantes, bem pelo contrário, haverá matéria, domínios, conhecimentos e experiências em que a Igreja já demonstrou estar muito melhor preparada do que o poder laico.
 É suficiente invocar-se o trabalho desenvolvido em contextos e cenários desfavoráveis às intervenções dos técnicos, onde as instituições religiosas do tipo Missões, Misericórdias, Confrarias, Caritas, etc., têm revelado capacidades, competências e sentimentos que não são muito comuns em algumas instituições governamentais. Os valores religiosos da caridade, da compaixão, da tolerância, da solidariedade, entre outros, têm aqui um sentido profundamente personalista e universalista.
Ignorar a existência desta realidade milenar, para fugir ao reconhecimento da existência, influência e imprescindibilidade da religião, da Igreja e dos seus legítimos e legais dignitários, corresponde a mentalidades e comportamentos que, definitivamente, optam pela via do confronto verbal, físico, bélico, isto é: do poder do mais forte, materialmente auto-considerado.
O mundo civilizado, moderado, tolerante, humanista, personalista e pacífico, deve encaminhar-se para os seus valores tradicionais e milenares, o mais antigo dos quais é, porventura, a Religião, com todos os seus recursos, espirituais e materiais.
Esta é que é a realidade que a humanidade deve entender, considerar e respeitar, porque o homem, além do corpo físico, tem algo de muito mais específico, transcendente e sublime: tem uma alma, um espírito, uma dimensão que é filha da divindade Deus, a Quem deve obediência, respeito, veneração e amor.
O poder religioso, consubstanciado na fé, assume na pessoa humana, a sua maior dimensão, pela qual, quando tudo falha na vida material, o crente consegue ultrapassar e vencer situações que nem a ciência, nem a técnica, nem a fortuna material conseguiram dominar. É este poder de auto-convicção, de auto-estima e de auto-confiança que leva aos maiores sucessos pessoais, independentemente da religião que se professa.
Com este poder é possível manter a dignidade, o respeito e a determinação em prosseguir um caminho que conduz aos mais nobres e sublimes objectivos: amor, felicidade e paz.
O ser humano que alcança estes valores, certamente que fica dotado de um poder que nenhuma outra via lhe proporciona. O poder religioso solidifica, quem o possui, nos sentimentos da confiança e da esperança, sem os quais será difícil evoluir para uma sociedade verdadeiramente humana, fundamentalmente, quando se perde o amor pelo Deus que tudo cria, controla e extingue.
Será pela confiança em si e no seu Deus e pela esperança que Ele incute, através do amor, que o homem alcançará a felicidade e a paz, porque: «O verdadeiro e perfeito amor se mostra nisto: que se tenha grande esperança e confiança em Deus; pois só na confiança se sabe que há um amor verdadeiro e total, pois se alguém ama outrem de todo o coração e com toda a perfeição, surge a confiança; pois tudo quanto se ousa esperar de Deus, nele verdadeiramente se encontra e ainda mil vezes mais.» (ECKHART, 1991: 119)
O poder que resulta da atitude religiosa, suportado na confiança, na esperança e no amor, permite ao indivíduo humano e à sociedade, a partir de uma vida dedicada, também aos valores religiosos, alcançar situações de verdadeira paz, felicidade e realização plena, porque: «A religião está assim implicada no mais íntimo da vida do espírito; mais ainda, é a plenitude da vida da pessoa, colocada como está no termo mesmo de suas dimensões contemplativa e prática – donde elas se conjugarem na atitude de reconhecimento, adoração e submissão à Pessoa Divina, Causa primeira e Fim último do ser da pessoa e de todo o ser criado.» (DERISI, 1977: 53).
 Podem a ciência, a técnica e todo o materialismo humano produzir os mais sofisticados bens: dos supérfluos aos indispensáveis; da ostentação à miséria; do domínio à subjugação, sem que isso signifique a resolução de todos os problemas ou o agravamento dos mesmos, respetivamente.
A pessoa, a família, a sociedade que transportam consigo confiança, esperança e amor, possuem um poder que nenhuma outra arma ou sistema bélico conseguem destruir, porque aqueles sentimentos já são próprios de um ser superiormente dotado, preparado para, mesmo no sofrimento e na derrota materiais da vida físico-social, continuar a lutar pelo objetivo último que se há-de concretizar numa vida espiritual repleta de certezas divinas, da união a Deus, onde todos os sofrimentos, injustiças e humilhações cedem o lugar a uma vida eterna tranquila, justa e digna.
É este poder que alimenta e dá coragem para enfrentar, num mundo materializado, as dificuldades, os obstáculos, os ódios, as vinganças e traições, que uma pequena minoria tenta impor à maioria generosa e de boas pessoas.
 É este poder que resulta de uma confiança sem limites, de uma esperança sempre renovada e de um amor cada vez mais consolidado, que permite que multidões anónimas, periódica e ciclicamente, se dirijam aos lugares sagrados, justamente para agradecer e pedir a Deus a satisfação de necessidades básicas: Graça Divina, saúde, trabalho, amor, paz e felicidade.
Nenhum outro poder entusiasma e mobiliza tantas pessoas como o poder de Deus, configurado na Religião que cada um abraça e comunga, sempre com uma confiança e esperança renovadas, precisamente, no amor ao seu Deus, porque: «A chave da existência humana é o impulso religioso inato que brota da vida essencial universal e a ela aspira retornar. Isso é verdade hoje e o tem sido através da história humana. Os humanóides não se teriam tornado humanos sem a inteligência, mas somente o sentimento religioso poderia tê-los capacitado a desenvolver a inteligência e outras capacidades mentais ou espirituais associadas à nossa espécie.» (IKEDA, 1982: 222).

Bibliografia

BIGO, Pierre, S.J., & ÁVILA, Fernando Bastos, S.J., (1983). Fé Cristã e Compromisso Social; Elementos para uma reflexão sobre a América Latina à luz da Doutrina Social da Igreja, 2. Edição revista e aumentada, São Paulo: Edições Paulinas.
DERISI, Octávio Nicolás, (1977). Valores Básicos para a Construção de uma Sociedade Realmente Humana, Trad. Alfredo Augusto Rabello Leite, São Paulo: Mundo Cultural.
ECKHART, Mestre, (1991). O Livro da Divina Consolação e outros textos seletos, Trad. Raimundo Vier, O.F.M. et al, 2ª Ed. Petrópolis: Vozes.
IKEDA, Daisaku, (1982). Vida: Um Enigma, Uma Jóia Preciosa, Trad. Limeira Tejo Rio de Janeiro: Editora Record.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
(Presidente da Direção da ARPCA)