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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Cultura para o Bem-Estar


A humanidade, na sua esmagadora maioria, (oiça-se o que dizem as grandes religiões mundiais) acredita numa outra vida, a partir de diversos sinais, que procura interpretar, relacionando-os com factos e acontecimentos individuais e/ou coletivos, ouvindo as opiniões das gerações mais velhas, interiorizando situações pessoais e/ou conhecidas, já vivenciadas, com alegria ou tristeza, com prazer ou sofrimento e para as quais não encontrou explicação científica, técnica, objetiva e concreta.

A ausência de respostas, construídas a partir de hipóteses, validadas pela ciência, com certificação quantitativa dos respetivos resultados e/ou axiomas e operacionalizadas pela técnica, facilita a busca por outros métodos, outras técnicas, agora no plano da metafísica, onde a manipulação instrumental do conhecimento científico e técnico, ainda não conseguiu penetrar.

As ciências ditas positivas, exatas, rigorosas, objetivas e todos os demais qualificativos que as caracterizam, permanecem neste novo patamar, qual limiar do infinito e da eternidade sem, por enquanto, nada poderem fazer, sem infringirem paradigmas técnico-científicos.

Nesta imensa amplitude e diversidade em que se movimenta a humanidade: entre as dimensões física e a espiritual; entre a pessoa material e o ente imaterial; entre os factos e as situações concretas, identificáveis e quantificáveis e os acontecimentos inexplicáveis, que afetam o bem-estar físico-material do indivíduo; entre as ciências, técnicas e tecnologias, que estudam a dimensão física, as práticas e rituais esotéricos e intimistas, que analisam a dimensão imaterial; surge uma alternativa, intermédia, conciliadora e estimulante para tentar enfrentar, compreender e amenizar certas situações que provocam, periodicamente, um certo mal-estar interior, quase sempre inexplicável, pelo menos à luz do senso-comum: A FILOSOFIA.

Analisando a história da humanidade, pelo menos nos últimos dois mil anos, é relativamente fácil, sem necessidade de se recorrer à recolha de elementos estatísticos quantitativos, verificar-se que o modo de vida do homem, quando, predominantemente, suportado no conhecimento positivista, ainda não atingiu a harmonia e o bem-estar geral, pese embora todo o arsenal de equipamentos, instrumentos técnicos e científicos, as facilidades de acesso a novos conhecimentos, porque o mesmo homem, praticamente, ilimitado nas suas capacidades, tem vindo a ignorar outras práticas, bem mais simples, relacionadas aos comportamentos característicos do bom senso, da sabedoria, da prudência, da tranquilidade e de alguns dos valores imateriais absolutos: paz, justiça, honra, respeito, dignidade.

O homem moderno envergonha-se das suas origens racionais, no sentido de valorizar toda uma cultura milenar, porque tal racionalidade e cultura eram património, então, quase exclusivo, do saber filosófico. Ser filósofo, num contexto materialista, é sinónimo de fraqueza, de utopia, de pobreza material e motivo de ataque por parte de alguns técnico-positivistas e/ou de diversos cientistas, pretensos defensores da humanidade, com a agravante de beneficiarem do apoio de muitos governantes e até das próprias famílias.

Refletir, profundamente, na misteriosa existência do ser humano, e tentar descobrir os melhores processos para que haja, finalmente, bem-estar para todos, significa conjugar todas as sinergias, conhecimentos, práticas e boas-vontades. O homem vive circundado por imensas realidades, ele próprio uma realidade, talvez das mais complexas. Conhecer as várias realidades não é objeto de uma só disciplina, por mais cientificamente objetiva, rigorosa e quantificada que ela seja ou por muita subjetividade que se lhe queira imputar e, consequentemente, descredibilizá-la.

 A realidade circundante é constituída de múltiplas naturezas: física, metafísica, inefável, espiritual e sabe-se lá quantas outras. Considerada esta pluralidade de naturezas, que integram a realidade global que rodeia o homem, que se pode denominar por universo, do qual faz parte o planeta Terra, onde habita toda uma humanidade complexa, certamente que a Filosofia não poderá ter a pretensão de tudo saber, tudo esclarecer, tudo conduzir e resolver.

Quanto maior for o sucesso dos cidadãos individuais, mais aumentam as possibilidades da comunidade em geral para alcançar idêntico êxito, e o correspondente bem-estar. Para que tais objetivos sejam alcançados é necessário criar um espírito de competitividade, uma filosofia para o sucesso, o mais cedo possível, na vida de cada pessoa, desejavelmente, na idade escolar. Educar e formar para a filosofia do sucesso pode constituir um bom princípio para percorrer o caminho do bem-estar, obviamente sem atropelar idênticos direitos e estratégias dos seus semelhantes.

A Filosofia também tem uma extensíssima dimensão prática. Nem outra condição seria de esperar, na medida em que é através da reflexão, da criatividade, de ideias originais, de teorias, mais ou menos consistentes, que se constrói o mundo abstrato e artificial em que a humanidade vive, se buscam as condições máximas para o bem-estar geral e material, mas também individual e interior.

O projeto de vida que incorpore as dimensões: científica, técnica, profissional, filosófica e religiosa, provavelmente, terá as melhores condições possíveis para o sucesso material e espiritual ou interior, pensando-se que não será fácil a uma pessoa sentir-se realizada, (feliz?), apenas na vertente material; o contrário também se aceita como possível (mesmo indo contra um certo romantismo, defensor da pobreza digna e honesta). O sucesso e os bens materiais não são inimigos, nem incompatíveis com os valores morais, éticos e religiosos, nem tão pouco com uma vida simplificada, humilde e despida de preconceitos.

Aliás, o que seria desejável é que o homem se realizasse integralmente nas suas duas principais dimensões: física e espiritual. Nessa perspetiva, as famílias e as outras instituições – escola, Igreja, comunidade, empresas, Estado, comunicação social – têm uma função primordial na educação das crianças, jovens e adultos, (e até nos idosos) para uma filosofia do desenvolvimento, do progresso e do bem-estar, assente no estudo, no trabalho e na economia, esta, por via da poupança.

Governantes e governados, empresários e trabalhadores, professores e alunos, religiosos e crentes, todos serão envolvidos numa filosofia de vida direcionada para o desenvolvimento de melhores condições de bem-estar individual e coletivo.

A existência e manutenção de certos preconceitos, estatutos sociais e outros; excessivos egoísmos e ilimitadas ambições, certamente que prejudicam qualquer programa de desenvolvimento pessoal e comunitário, sendo igualmente verdade que o homem, na sua passagem física pela Terra, tem o dever de deixar a sua marca humanista, solidária, altruísta e progressivamente ao serviço de toda a humanidade.

O processo de desenvolvimento passa, necessariamente, pela rápida aproximação entre ricos e pobres, pela inclusão dos povos, pela livre circulação e estabelecimento das pessoas, num espaço interplanetário que a todos foi concedido, sem privilégios para ninguém.

Se muito se deve à ciência e à técnica, quanto ao desenvolvimento, ao progresso e a um certo e relativo bem-estar material da humanidade, sem dúvida necessários à própria condição humana, e até à própria dignidade de cada pessoa, da mesma forma se pode atribuir à Filosofia uma função nada desprezível, desde logo na disciplina do pensamento rigoroso, ordenado e triunfador do homem. Por isso é tão importante na construção do projeto de vida, esta componente do conhecimento reflexivo que, justamente, bem conduzido, contribui para o bem-estar individual e coletivo.

A racionalidade do projeto de vida, obviamente, considera todos os elementos e recursos intervenientes nesse projeto, e a sua construção e decisão de implementação exigem a convocação e integração da ciência, da técnica e da Filosofia, entre outras áreas das ciências sociais e humanas, no limite, a participação das Ciências Sociais e Humanas.

E se: por um lado, sem quaisquer preconceitos, nem complexos, há quem condene, nestes tempos modernos, um novo valor, ou uma nova e fortíssima dinâmica, que se alastra por todo o mundo, e que para já se convencionou designar por globalização, por enquanto, nos domínios da ciência, da tecnologia, do comércio, do capital, do conhecimento e da informação; por outro lado, ainda não se aceita, como parte interessada no sucesso do projeto de vida e de desenvolvimento dos cidadãos, individualmente considerados e das comunidades no seu todo, o contributo da Filosofia, apesar de Ciência, Tecnologia, Globalização e Filosofia não serem incompatíveis, bem pelo contrário, podem complementar-se.

 
O Presidente da Direção,

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

925 935 946

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